Lula da Silva foi eleito pela Times como o homem mais influente do mundo, à frente de líderes como o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o director do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn.
A revolução que Lula operou no Brasil foi tema do paralelos da edição 75 do Novo Jornal, publicada em 26 de Junho de 2009.
Compreender a economia
“Dar dinheiro aos pobres é mais eficaz do que reduzir impostos”, afirmou esta semana Lula da Silva. O Presidente do Brasil aproveitou um evento sobre a revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro para criticar os empresários por não “repassarem” os benefícios, leia-se desagravamento tributário, que têm obtido do Estado e, com isso, não estarem a contribuir para a revitalização da economia.
“Em vez de a gente ficar desonerando, é melhor pegar esse dinheiro e dar para os pobres. Cada real na mão do pobre volta automaticamente para o comércio, para o consumo e move a economia”, explicou o Presidente brasileiro que foi responsável pelo período económico mais auspicioso que o Brasil já conheceu.
Não se pode perder de vista que Lula da Silva partiu das bases lançadas por Fernando Henrique Cardoso que, enquanto ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, lançou o Plano Real.
Mas a revolução iniciada por Fernando Henrique Cardoso, que culminou com a substituição do cruzeiro pelo real e com o controlo da inflação, em 1994, teve a sua fase de amadurecimento sem paralelo com Lula da Silva, uma década depois.
Com o actual Presidente, o Brasil reuniu uma combinação vencedora entre estabilidade, aumento do consumo e da renda e investimentos recordes na produção, como registou há um ano a revista brasileira Exame, num artigo que abre a pergunta que costumava fazer parte do anedotário nacional: “Terá chegado, enfim, a vez do Brasil?”
Os autores do artigo, os jornalistas José Roberto Caetano e Roberta Paduan, concluiram que sim: “O investimento estrangeiro bate sucessivos recordes. O país avança rapidamente como mercado consumidor em escala global e já possui o maior mercado acionário emergente. A economia mantém o ritmo forte e cresce sem parar há 24trimestres. A geração de empregos em 2007 foi a maior em quatro décadas”.
Finalmente, parece que o Brasil está em condições de dar o salto e não se limitar aos voos de galinha – “um recuo no crescimento logo após a descolagem” – atraindo o olhar atento de analistas, economistas e investidores.
“O resultado da inflexibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao controle da inflação é uma economia vibrante e promissora como não se viu durante três décadas”, afirmou ainda a revista Exame.
Mas aquilo que é tido como uma das mais importantes reformas económicas do governo de Lula da Silva, e de que pouco se fala, foi ter posto dinheiro nas mãos dos mais pobres, quer através da renda mínima, quer do acesso ao crédito (aumentado de 336 biliões para um trilião de reais nos últimos sete anos) que estimulou a venda de bens e iniciou um processo de inclusão ímpar.
Num mundo a braços com uma crise económica e financeira cujos verdadeiros contornos é difícil de antecipar, é fácil concluir que são os pobres que fazem mover a economia. O dinheiro que têm serve para comprar arroz, não serve para especular e sem especulação não há risco de se perder aquilo que não se tem.
Dinheiro nas mãos de quatro biliões e 300 milhões de pobres (dois terços da população mundial) punham a economia a correr. A concentração em poucas mãos estagna-o e asfixia a economia, em nome da rentabilização máxima de alguns, uma das lógicas do neo-liberalismo que é, como bem definiu o ex-Presidente da Assembleia da República de Portugal, Almeida Santos, uma fábrica de pobres e desemprego.
É nas mãos dos mais pobres que Lula da Silva quer ver o dinheiro e não apenas nas dos mais ricos. Foi por isso que o Presidente brasileiro aproveitou uma cerimónia pública para puxar as orelhas aos empresários por não reverterem para os consumidores os benefícios que o governo tem dado, desde que tomou posse, e que somam já 100 biliões de reais.
Como exemplo, citou o fim da Contribuição Previdenciária sobre Movimentação Financeira: “Perdemos 40 biliões de reais (que seriam destinados) para a saúde e não vi ninguém reduzir seus preços”.
É bom olhar para outra das lições de economia que Lula deu com resultados práticos. "Não basta a economia crescer. Com os avanços tecnológicos no mundo, muitas vezes uma empresa aumenta sua produtividade, sua rentabilidade e não gera um posto de trabalho”. Nos últimos cinco anos, o mercado de trabalho no Brasil absorveu 20 milhões de pessoas, em contra-ciclo com que ocorre no mundo.
Olhando para a crise, olhando para a história, olhando para o mundo e para exemplos como o que vem do Brasil apetece parafrasear dois outros brasileiros célebres, um jornalista e sociólogo, Joelmir Betting: “Em economia, é fácil explicar o passado. Mais fácil ainda é predizer o futuro. Difícil é entender o presente”; o outro humorista, Millôr Fernandes: “A economia compreende todas as actividades do país, mas nenhuma actividade do país compreende a economia”.
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