O mundo viveu esta semana um
acontecimento que só se repete daqui a 89 anos. Na quarta-feira atingiu-se a
última data do século com três números iguais (dia, mês e ano), num alinhamento
(12-12-12), que só se repete no dia 1 de Janeiro de 2101 (01-01-01). A nove
dias do fim do ciclo profetizado pelo calendário Maia, que começou há 5.125
anos e que termina a 21 de Dezembro, este alinhamento provocou calafrios nos
mais catastrofistas. A aproximação à Terra do asteroide Tutatis, na
quarta-feira, acentuou os temores dos que alinham pelo presságio. Mas não houve
registo de acidentes. O Tutatis, que visita a Terra de quatro em quatro anos,
ficou a uma distância maior do, em 2004, quando esteve tão perto que foi
possível vê-lo com pequenos telescópicos.
Longe das teorias do
fim do mundo está a brincadeira que resultou na morte de uma enfermeira
indiana, de 46 anos, que trabalhava no King Edward VII, em Londres, onde foi
hospitalizada Kate Middleton, devido a enjoos provocados pela gravidez.
Jacintha Saldanha, que deixa dois filhos menores, foi encontrada morta (a
autópsia confirmou o suicídio por enforcamento), depois de ter passado a
chamada de dois radialistas australianos, que se fizeram passar pela Rainha
Isabel II e pelo príncipe Carlos. Os dois animadores mostraram-se “devastados”
pela morte, gerada por uma “simples brincadeira”; a rádio perdeu a popularidade
e viu os anunciantes fugir. Como nota de rodapé, resta dizer que há fronteiras
que os media não devem transpor. E a rádio 2Day FM já a tinha ultrapassado em
2009, quando pôs uma adolescente de 14 anos ligada a um detector de mentiras a
admitir que tinha sido violada aos 12 anos.
Pela Ásia o 12-12-12 foi
visto como um sinal de sorte. Milhares de casais aproveitaram para celebrar a
sua união, mas os números ficaram aquém do que aconteceu em 11-11-11. No ano
passado, os casamentos em Hong-Kong dispararam e na Indonésia muitas mulheres
deram à luz prematuramente, por cesariana, para dar sorte aos seus bebés. Já em
Nova Iorque, o 12-12-12 foi aproveitada para ajudar as vítimas do furacão
Sandy, com um concerto de beneficência transmitido em todos os continentes.
De
solidariedade é o que precisa um idoso de Espanha, que procura uma família que
o acolha. Faustino García Léon, que vive em Requena, Valência, oferece a sua
reforma de 600 euros (784 dólares) a quem o acolha. O homem colocou anúncios em
lojas e bares do seu bairro e já recebeu milhares de chamadas. Mas nenhuma
oferta o convenceu. Faustino, de 80 anos, tem as suas exigências: “Tenho de
gostar da casa, senão prefiro ficar sozinho”. Com Espanha em plena crise, o idoso
quer solidariedade, mas com comodidades.
Na próxima sexta-feira, as
profecias dos maias atingem o seu zénite. Com a aproximação do 21 de Dezembro,
os sobrevivencialistas redobraram os
cuidados e, de norte a sul do planeta, há actividades para os que queiram celebrar
a data, particularmente festejada nos países relacionados com a cultura maia,
como o México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador. Em sentido inverso,
na China e na Rússia o que domina é o temor, com a previsão a causar impacto e,
em França, as autoridades anunciaram o corte dos acessos a um pico montanhoso,
nos Pirenéus, considerado um refúgio para quem acredita no apocalipse, porque
se adivinhava uma corrida ao local.
Centenas de sapatos
vermelhos encheram esta semana a praça municipal da Ciudad Juárez, no México, para
evocar o crescente desaparecimento de mulheres na cidade, localizada na
fronteira com os EUA. A iniciativa do artista mexicano Elina Chauvet e
do jornalista espanhol Javier Juarez contou com a cooperação de várias
organizações de familiares de desaparecidas. Segundo as ONG locais, desde a
década de 1990, 400 mulheres foram assassinadas, 120 foram dadas como
desaparecidas e a maioria dos casos está por resolver. O problema agudizou-se,
em 2009, quando alguns cartéis se mudaram para Juarez, perante a cúmplice
indiferença das autoridades.
O
frenesim gerado com a profecia Maia levou a NASA a desmentir oficialmente o fim
do mundo, em qualquer data que seja, e a abrir uma página na internet de
perguntas e respostas para os que acreditam que o planeta não vai resistir ao
sol infernal, bolas de neve, inundações e supervulcões anunciados pelos crentes
no apocalipse. Ainda assim, há quem resista e se mantenha fiel ao adágio
espanhol “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”…
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