Vladimir Putin, que tem sido mais um oráculo da desgraça do que um profeta da luz, afirmou quinta-feira, véspera do solstício do sol do calendário Maia, que marca o final de uma grande época e o início de outro, que o fim do mundo não será no dia 21 de Dezembro de 2012, mas daqui a 4,5 milhões de anos.
“Uff, que alívio”, clamaram muitos dos que ouviram as palavras sábias de Putin, durante a sua primeira conferência de imprensa, desde que regressou ao Kremlin, após um interregno em que cedeu o lugar a Dmitry Medvedev.
Putin, que tem enviado para as trevas muitos dos seus opositores, com acusações julgadas em circos montados com a cumplicidade do aparelho judiciário russo, esclarece que o fim do mundo é ditado pelo “ciclo de trabalho do nosso sol” que, segundo ele, cumpre a sua missão de iluminar a Terra daqui a 4,5 milhões de anos.
A esta distância não há razões para ter medo, apesar da proliferação de seitas, que se têm vindo a preparar para o apocalipse.
Na China um empresário aproveitou para fazer negócio. Concebeu uma «arca de Noé», em forma de ovo, que garante que os seus ocupantes passem incólumes ao cataclismo. E já recebeu mais de 20 encomendas, apesar do custo da sobrevivência: cinco milhões de yuans (800 milhões de dólares).
Não é de estranhar o interesse na «arca de Noé» de Yang Zongfu. A China é um dos países onde a profecia Maia tem tido mais impacto. Centenas de pessoas foram detidas, desde o passado fim-de-semana, em várias províncias, por espalharem boatos acerca do “eminente fim do mundo”.
Só na província de Qinghai, no noroeste, foram detidas mais de 400 pessoas ligadas à seita «Deus Todo Poderoso», que nasceu há perto de 20 anos. O grupo, que afirma que Jesus Cristo reapareceu como mulher na China central, tem vindo a ser acusado de sequestrar cristãos de outras igrejas e torturá-los até que concordem em converter-se. Recentemente, apossou-se das profecias maias, espalhando a ideia de que o sol deixará de brilhar e não haverá energia eléctrica durante três dias, a partir do dia 21 de Dezembro.
Pelo sim e pelo não, o responsável de uma moderna empresa de Chengdu, no sudoeste, decidiu dar folga aos empregados na sexta-feira porque "alguns estão assustados com o 'fim do mundo'”. Como justificou Deng Xiangyun, "é melhor que fiquem em casa com as pessoas de quem mais gostam do que tê-los no escritório com o espírito fora do trabalho” à espera do pior.
Para escoar o medo dos chineses, vários mestres do oculto têm vindo a desmistificar a teoria do apocalipse maia. E um líder budista sugeriu mesmo que 21 de Dezembro seja nomeado «Dia Mundial do Humor», em homenagem ao “humor negro” daquela civilização pré-colombiana.
"O 'Fim do Mundo' é apenas uma piada que os maias nos deixaram. Eles tinham um bom humor negro e esse humor assustou muita gente", justificou o mestre Yancan, abade do templo de Shuiyue, na província de Hebei, centro da China, e vice-presidente da Associação Budista provincial, religião não-teísta, onde o conceito de ‘fim do mundo’ não existe.
"O 'fim do mundo' é a coisa mais horrível que posso imaginar. Quando o dia 21 de Dezembro chegar, as pessoas compreenderão melhor que o mundo continua e que há muitas coisas belas para celebrar", sublinhou o mestre Yancan.
A civilização maia, cujo apogeu terá ocorrido há cerca de 1.500 anos, desenvolveu-se na região ocupada hoje pelo México e a América Central e a origem do seu calendário remonta ao século VI a.C.
Estarrecidos com as deformações, enganos, mentiras e folclore gerado pelas profecias estão os descendentes dos maias.
Os líderes das comunidades maias da Guatemala, que representam cerca de metade da população do país, têm vindo a denunciar as autoridades pelas deturpações que “desvirtuam o verdadeiro sentido dos ciclos do tempo”, com fins comerciais, como refere Felipe Gomez, responsável pelo grupo maia guatemalteco Oxlajui Ajpop.
O 'oxlajuj Baak t'un' (ou mudança de era maia) "implica realizar mudanças profundas a nível pessoal, familiar e comunitário para [atingir] a verdadeira harmonia e equilíbrio entre os seres humanos e a natureza, de acordo com a organização.
Tendo em conta esta explicação não há como negar a vocação profética dos maias.
Em poucos momentos como o que se vive, o mundo precisou tanto de se reinventar. E não há momento mais oportuno para o fazer. A quatro dias do Natal.
Sem comentários:
Enviar um comentário