terça-feira, 11 de junho de 2013

Tomatada (crónica publicada no Novo Jornal *)

É oficial. Finalmente, o FMI reconhece aquilo que toda a gente sabia. Que, como membro da troika internacional que se constituiu para ajudar a Grécia a ultrapassar uma grave crise, contribuiu para enterrar ainda mais o país.
O Fundo Monetário Internacional admitiu, na sexta-feira, que cometeu erros “grosseiros” na forma como lidou com a crise da dívida grega nos últimos três anos; que “subestimou” os “estragos” que as suas políticas poderiam causar à economia e à sociedade gregas; e que desrespeitou algumas das suas normas para poder ajudar um país que apenas cumpria um dos quatro critérios exigidos para ter direito a assistência financeira.
Está lá tudo, nesta assumpção de culpa do FMI, instituição dirigida pela francesa Christine Lagarde. Um documento classificado como “ultraconfidencial”, a que o jornal económico norte-americano «The Wall Street Journal» teve acesso, e que, entretanto, foi divulgado oficialmente.
Mesmo que os parceiros na troika - a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu - venham contestar o acesso de pudor do FMI não conseguem iludir uma realidade que é percepcionada por toda a gente. Ainda que insista que as medidas foram necessárias para salvar a zona euro, como se, com tanta insistência, transformassem a mistificação em verdade. É que o Fundo Monetário Internacional estendeu o seu mea culpa até aqui, ao assinalar, a seu favor, que a intervenção atempada na Grécia foi fundamental para evitar que a crise da dívida alastrasse a outros países e provocasse uma crise continental. Ameaça que continua no ar, com a intervenção desastrosa na Grécia, mas também em Portugal, Irlanda e Chipre.
Nesta zanga de comadres, a verdade vem à tona.
Sem pinças, o FMI admite que a dívida grega detida por privados deveria ter sido reestruturada logo no início do processo, em 2010, e não dois anos depois, e critica a Comissão Europeia (a figura central da troika) por não ter experiência na matéria e por estar mais preocupada com o cumprimento das normas europeias do que com o impacto das políticas de austeridade sobre o crescimento económico.
“Eu disse-lhes”, reagiu o ministro das Finanças grego, Yannis Stournaras, que na altura da aprovação do plano de resgate liderava o think tank (grupo de reflexão) do patronato grego «Love».
A Comissão Europeia não consegue disfarçar a verdade, mesmo que diga que o documento reflecte o pensamento de alguns dos economistas do FMI e não representa a posição oficial da instituição. E tente desmontar os argumentos apresentados neste mea culpa, porque até um miúdo da quarta classe percebe o que disse o Fundo Monetário Internacional. E não precisa ser grego!
Três anos depois do início da intervenção na Grécia, o país berço da democracia caiu mais fundo no buraco, que começou a escavar, e de onde se tornou mais difícil sair: o desemprego não pára de aumentar - está perto dos 27 por cento - e a dívida continua abismal, apesar dos dois planos de resgate e da forte austeridade imposta aos gregos, que leram a confissão de culpa do FMI com indignação.
Se me é permitido um conselho aos gregos, digo-lhes que sigam o exemplo da Colômbia, onde um grupo de indignados criou esta semana o Partido do Tomate, não como símbolo de virilidade e coragem, mas de evasão.
Uma evasão, com um profundo sentido político: “Politiqueiros, abriguem-se, que chegou a chuva de tomates”.
O partido está aberto a todos os que estão “cansados dos politiqueiros e dos seus partidos”, aos que acreditam num “mundo melhor” e, ainda, aos que sonham “com os verdes”, mas que “amadureceram num tomate bem vermelho”, numa referência ao Partido Verde que, nas presidenciais de 2010, não conseguiu eleger o seu candidato.
Apesar de recente na cena política, o Partido do Tomate parte com uma vasta experiência. Já promoveu tomatinas (lançamento de tomates) contra o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, o procurador-geral, Alejandro Ordóñez, o presidente do Senado, Roy Barreras, e o ex-Presidente e pré-candidato do direitista Centro Democrático, Francisco Santos.
Aos gregos, aconselho que alarguem o espectro, afinem a pontaria e fortaleçam o impulso porque há muitos políticos e instituições, incluindo internacionais, que se põem a jeito. Só temo é que, no final, e prevendo que haja réplicas noutros países, faltem tomates para tanta investida.

*Publicada no dia 7 de Junho de 2013

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