terça-feira, 4 de junho de 2013

Estar lá (crónica publicada no Novo Jornal*)

Aos 90 anos de idade, uma norte-americana deparou-se com uma declaração de amor que chegou até si com sete décadas de atraso.
A espantosa revelação ocorreu quando Laura Mae Davis efectuava uma visita ao Museu da II Guerra Mundial, em Nova Orleães. Por entre vários testemunhos da guerra, a mulher descobriu o diário do ex-namorado que foi morto por um atirador furtivo, durante o conflito no Pacífico Sul, em 1944.
À entrada do diário, Thomas Jones escreveu que iria contar neste caderno, que lhe tinha sido oferecido pela namorada, a sua história nos fuzileiros. Mas foi também nele que deixou expresso o seu amor por Laura Mae – “por quem o meu coração está completamente cheio” – e o seu último desejo: “Por isso, se tiverem uma oportunidade, por favor devolvam-no a ela”.
O diário não foi devolvido a Laura Mae, mas acabou por vir ao seu encontro, 72 anos depois de se terem conhecido na escola secundária de Winslow. "Ele era jogador de basquetebol e eu era cheerleader", recordou Laura à agência de notícias AP. O casal foi ao baile de finalistas junto e ele deu-lhe o anel de fim de curso. Thomas partiu para a guerra e não se voltaram a ver. Laura acabou por casar com um militar da Força Aérea, um ano depois da morte de Thomas. Ele tinha 22 anos.
Em quase duas décadas de trabalho, o curador do museu, Eric Rivet nunca viu nada assim. É a primeira vez que alguém se encontrou mencionado num dos objectos em exposição e para Laura Mae a revelação significou um regresso ao passado.
Outro norte-americano viu esta semana o passado vir até si, numa viagem, não tão simbólica, mas bem mais lucrativa.
Ao efectuar obras de remodelação numa casa que comprou em ruínas, no Minnesota, David Gonzales encontrou entre duas paredes um raríssimo número 1 da revista de BD «Action Comics», publicado em 1938, e que revelou ao mundo o Super-Homem.
Entusiasmado com o achado, o homem, de 35 anos, pôs a revista à venda num leilão e descobriu, espantado, que valia 10 vezes mais do que a casa. David comprou a habitação em ruínas por 10.100 dólares, para a reconstruir e dela tirou, pelo menos, 137 mil dólares, o valor que atingiu após 35 licitações.
Até ao dia 11 de Junho, altura em que termina o leilão, o montante pode subir. Um exemplar semelhante, embora em melhor estado, foi vendido por dois milhões de dólares. O entusiasmo é, por isso, grande.
Sempre em sentido ascendente é a viagem que Maria da Conceição empreendeu desde que ingressou, em 2003, como assistente de bordo, nos quadros de uma transportadora aérea do Dubai.
Numa das viagens a bordo dos aparelhos da Emirates Airlines, esta portuguesa franzina, mas de temperamento aguçado, aterrou na capital do Bangladesh e nunca mais esqueceu a pobreza do país.
Regressou pouco depois, em 2005, para fundar o Dhaca Project, com o dinheiro do seu ordenado. Conceição mobilizou apoios internacionais, fazendo recurso a uma rede de contactos que a profissão lhe ofereceu e, em pouco tempo, deu dimensão a uma obra de solidariedade que tem como objectivo dar educação, alimentação, cuidados de saúde e apoio comunitário a mais de meio milhar de crianças carenciadas de um subúrbio de Daca.
Em 2009, o seu trabalho valeu-lhe o Prémio Mulher do Ano dos Emirados Árabes Unidos, na categoria de Acção Humanitária, distinção que aproveitou como só ela sabe, desdobrando-se em contactos entre sheiks e empresários para obter fundos, durante a cerimónia de entrega do galardão.
Esta semana, Maria da Conceição subiu ao monte Evereste. Foi a primeira portuguesa a conquistar o feito. Ao chegar ao topo, teve de esperar pelo guia, que ficou doente, e pelo «sherpa» (uma das etnias do Nepal) para poder tirar fotografias. "Sentei-me a olhar para a paisagem e a pensar nas crianças, nas suas famílias e na minha própria família e amigos", descreveu esta mulher, nascida em Vila Franca de Xira, há 36 anos.
No alto do Evereste, Maria da Conceição ergueu a bandeira do seu país, mas em toda a sua caminhada hasteou uma bandeira mais alta: a da solidariedade e amor aos outros. Por ela, já alcançou o Polo Norte, em 2011, correu várias maratonas, incluindo a de Nova Iorque, Londres, Dublin, Beirute e Dubai. Sempre em busca de fundos, desta vez em nome da Fundação Maria Cristina, que criou em 2010. Porque há muito quem precise. E ela quer estar lá.

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