O ministro do Interior da Tunísia anunciou, há uma semana,
no parlamento que o seu governo enviou para a Síria mulheres para aliviarem a
tensão dos combatentes islamitas que se opõem ao regime de Bashar al-Assad,
naquilo que chamou a «jihad [guerra santa] do sexo».
E, se tudo correr bem, “em nome da «jihad al-nikah», elas
regressam grávidas e os seus frutos vão engrossar as fileiras dos exércitos
islâmicos.
A ideia desta fatwa não é de Lofti ben Jeddou. O governo
tunisino foi inspirado pelo skeikh árabe Muhammad al-Arifi que, juntamente com
outros clérigos muçulmanos, permitiu há bem pouco tempo que os jihadistas violassem
as mulheres sírias.
Inconsoláveis com esta jihad estão os pais de muitas das meninas
enviadas para a Síria, algumas das quais com 16 anos, que têm sido recrutadas
por mulheres muçulmanas que lhes prometem o paraíso em troca do sacrifício.
Aisha é uma dessas meninas. Deixou-se seduzir, mas acabou
por desertar ao perceber que estava a ser explorada em nome da religião. A sua
história foi denunciada numa entrevista ao serviço de notícias egípcio Masraw,
onde surge com o rosto tapado, e serve para mostrar a crueldade de uma guerra
que é tudo menos santa.
É cada vez mais visível a natureza da guerra na Síria.
Treze grupos armados sírios assinaram esta semana uma
declaração em que dizem não reconhecer a autoridade da Coligação Nacional
Síria, que representa a oposição ao regime de Bashar al-Assad, e desafiam todos
os movimentos rebeldes a unir-se sob o lema da sharia, a lei islâmica.
Esta iniciativa, que integra três movimentos que fazem parte
do Exército Livre, vem dar razão aos argumentos do Presidente sírio e põe a nu
a verdadeira natureza da rebelião, que já provocou mais de 110 mil mortos, 11 mil
dos quais são crianças, e dois milhões de refugiados.
Entre os signatários da declaração estão os jihadistas da
Frente al-Nusra e Ahrar al-Sham, tidos como ideologicamente próximos da
al-Qaida, que em nome de Alá matam, estropiam e estupram para implantar um
regime fortemente repressivo e segregador. Grupos que actuam sem escrúpulos, tal
como fizeram os rebeldes islamitas somalis «shebab» que esta semana atacaram um
centro comercial em Nairobi, matando perto de 70 pessoas.
O «shebab» deixou no Quénia “uma mensagem para os ocidentais
que apoiaram a invasão queniana” na Somália contra os movimentos muçulmanos
radicais e prometem mais “banhos de sangue” e, com ela, revelam a sua verdadeira
natureza.
Barack Obama é o Presidente mais pacifista que os EUA já
tiveram. Mais pacifista que o Nobel da Paz de 2002 Jimmy Carter, que se
converteu no mediador do primeiro acordo de paz entre um país árabe e Israel; mais
pacifista que John F. Kennedy, que recebeu postumamente o prémio «Pacem in
Terris» (Paz na Terra), criado em honra da encíclica de 1963 do Papa João XXIII,
mas que esteve envolvido em guerras com Cuba e o Vietname e assistiu à
construção do Muro de Berlim; mais defensor da paz do que o incomparável
Lincoln, que para além de enfrentar a Guerra Civil Americana esteve envolvido
em lutas com o Japão e o Panamá; ou Bill Clinton que bombardeou a Sérvia, na
Operação Força Aliada, e o Sudão, para além de autorizar outras intervenções
militares.
Em 238 anos de história, os EUA apenas viveram 18 anos sem estarem
enredados em guerras com ninguém. Um longo histórico beligerante, que começou em
1789 com uma guerra naval não declarada com França, e seguiu, em 1801 com a
Primeira Guerra Berbere ou Guerra de Tripoli, na Líbia, que se prolongou por
longos quatro anos.
Há um passado bélico que levou os EUA a assumirem o estatuto
de polícia do mundo, e que o Presidente Obama tenta contrariar, refreando, com
palavras e actos, os ímpetos de um sistema político que compele para a guerra.
Em dois mandatos, Barack Obama não declarou nenhuma guerra.
E só por isso já justificou o Nobel da Paz, que muitos consideram ter-lhe sido
injusta e precocemente atribuído. Basta olhar para a história para perceber que
não foi.
*Publicada no dia 27de Setembro de 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário