Permanecer sentado, durante algum tempo, sem nada fazer, não
é uma perda de tempo, como nos habituámos a ouvir da boca das nossas mães,
sempre que afundávamos o corpo no sofá. É precisamente o contrário, segundo o
vice-presidente da Associação Espanhola de Psiquiatria Privada.
José António López Rodríguez prescreve mesmo o hábito de
sentar no sofá como uma receita para eliminar o stress e a fadiga. Essa pausa,
aliada ao conforto, fomenta a criatividade e aumenta os níveis de
produtividade, defende o psiquiatra, argumentando que não fazer nada é uma
“válvula de escape” que facilita a entrada no nosso interior, deixando a nossa
mente livre para sonhar acordada e dar asas à imaginação.
Por estarem constantemente ocupadas, as pessoas deixaram de
ter tempo para pensar e perderam o conhecimento de si próprios. “Não estamos
habituados a aprofundar o nosso interior”, salienta López Rodríguez. E entramos
num ciclo vicioso, que não nos permite estar tranquilos e relaxados para depois
voltarmos à actividade.
A teoria que o psiquiatra espanhol propõe é aplicada por
alguns grandes grupos empresariais norte-americanos - com resultados óbvios na
sua produção e facturação - que oferecem aos funcionários uma gama alargada de
serviços de relaxamento, promovendo também a interacção entre colegas e
momentos de lazer dentro do local de trabalho. Mas para isso é preciso ter
vistas largas e mente aberta para ver mais longe do que aquilo que a vista
alcança.
É óbvio que o conselho não se aplica a quem já dispõe de
muito tempo livre, porque, nestes casos, nem sempre as energias são canalizadas
na direcção certa. Que o diga a actriz norte-americana Lupita Nyong’o, com
raízes mexicanas e quenianas, que este fim-de-semana surgiu na cerimónia dos
Óscares com um deslumbrante vestido com seis mil pérolas, assinado por Calvin
Klein.
Lupita, que já teve direito ao primeiro lugar da lista das
actrizes mais bonitas do mundo, ofuscou no tapete vermelho e saltou
automaticamente para o ranking das mais bem vestidas da noite. Não espanta. Com
seis mil pérolas a desenharem as formas do seu corpo, a jovem actriz tornou-se
monumento da cobiça alheia, para além de uma homenagem ao labor das costureiras
que dão forma à visão dos criadores, no caso o estilista Calvin Klein, mais
conhecido pela roupa interior masculina e pelos perfumes.
Nesse aspecto, Nyong’o teve de competir com outro nome do
universo estrelar. Lady Gaga surgiu no palco do Teatro Dolby (Teatro Kodak
antes da falência da empresa de películas que durante décadas serviu Hollywood)
com um espampanante vestido de cristal branco, que demorou 1.600 horas a ser
feito.
Lady Gaga não disfarçou a vaidade e o orgulho e na sua conta
da rede social Instagram aludiu à obra de arte com que tapou o corpo, num
agradecimento aos que lhe deram forma: “Azzedine Alaia, obrigado por esta
magnífica obra que envolveu 1.600 horas de bordados e 25 pessoas em Paris. Ele
(estilista) nunca havia feito um vestido para os Óscares. Que honra. As luvas
foram de Crimson. As flores de orquídea pintadas à mão no meu cabelo e diamantes
assinados por Lorraine Schwartz”.
Lupita ficou-se pelo desfile na passerelle, deixando os
pormenores para o estilista brasileiro que desenhou o vestido. “Nós criamos uma
série de texturas com a aplicação de pérolas de tamanhos diferentes. Procurámos
várias pérolas e no fim decidimos que as naturais eram as mais belas”, explicou
Francisco Costa.
O estilista brasileiro compensou o tempo gasto em
mão-de-obra no vestido de cristal com pérolas e criou uma peça da alta-costura
no valor de 150 mil dólares. Pena é que Lupita não tenha conseguido devolver a
joia a Calvin Klein. O vestido desapareceu do hotel onde a actriz passou a
noite depois da cerimónia dos Óscares, deixando a polícia entregue à tarefa de
passar em revista as filmagens das câmaras de vigilância para ver se o ladrão
deixou rasto.
Ninguém pode dizer que o ladrão leva uma vida de descanso. E
também não anda distraído.
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