O magnata dos media Rupert Murdoch vive dias difíceis. Depois de um ataque à conta do twitter da «Fox News», que anunciou na segunda-feira a morte do Presidente Barack Obama, Murdoch vê ruir um dos títulos do seu império no Reino Unido.
O tablóide britânico «News of the World» foi esta semana acusado de ter interceptado mensagens telefónicas de familiares de várias vítimas no Reino Unido num escândalo na comunicação social sem precedentes.
O tumulto rebentou após uma notícia do «The Guardian».
O diário britânico escreveu que a polícia contactou o pai de uma das vítimas dos atentados terroristas de 7 de Julho de 2005 em Londres e disse-lhe que os seus números de telefone móvel e fixo e as suas moradas faziam parte dos registos do detective privado usado pelo tablóide de Murdoch, Glenn Mulcaire.
O «The Guardian» adiantava ainda que as autoridades iriam em breve investigar se o mesmo ocorreu com as pessoas ligadas ao caso de Madeleine McCann, desaparecida no Algarve, em Portugal, nomeadamente o porta-voz, Clarence Mitchell.
O escândalo da intercepção de mensagens telefónicas por jornalistas do tablóide «News of the World» foi no próprio dia em que o escândalo rebentou objecto de um debate de emergência no parlamento britânico.
Em causa estavam novas revelações sobre a prática de entrar nas caixas de mensagens de várias celebridades, políticos, actores, desportistas e empregados da família real para obter informação que depois o jornal publicava.
Tudo se precipitou.
A Scotland Yard confirmou as suspeitas.
Três jornalistas foram detidos e a pressão da imprensa resultou na demissão de Andy Coulson, assessor de imprensa do primeiro-ministro David Cameron, que foi director do jornal durante parte do período em que aconteceram estas irregularidades, apesar de ainda não lhe ter sido imputada qualquer responsabilidade.
Mas as dimensões do escândalo estavam ainda longe de ser conhecidas.
Na quarta e quinta-feira novas acusações eram conhecidas.
O «News of the World», segundo o «Daily Telegraph», também interceptou telefones de familiares de soldados britânicos mortos nas guerras do Iraque e Afeganistão e de duas adolescentes assassinadas em 2002; e acedeu à caixa de mensagens de uma adolescente assassinada também em 2002, apagando correspondência para permitir que novas mensagens entrassem, o que levou as autoridades policiais a acreditar que a jovem ainda estaria viva.
Vários investidores anunciaram que deixariam de fazer publicidade no tablóide, num gesto de indignação partilhado pela associação de veteranos «Royal British Legion» que cortou todas as ligações ao «News of the World» e anunciou que ia rever os planos de publicar anúncios e promover campanhas de solidariedade com as publicações do grupo News International, que inclui o «The Sun», «The Times» e a estação de televisão «Sky News».
As acusações agora reveladas mostram que o jornal de Murdoch fazia das escutas e intercepções de comunicações uma prática generalizada para ter acesso a informação. E, por mais que o magnata da comunicação australiano, naturalizado americano, venha dizer que a situação é “deplorável” e que o grupo de comunicação de que é proprietário vai continuar a “cooperar activamente” com a polícia de investigação, ninguém acredita na sua ingenuidade. E inocência.
É mais do que conhecido o modo de actuação do império Murdoch. Nos Estados Unidos, transformou os seus jornais e canais de televisão – «Fox» – em instrumentos ao serviço da estratégia de Bush na guerra do Iraque e para derrubar inimigos seus. O próprio Rupert o admitiu, a 15 de Janeiro de 2008, ao afirmar que a «Fox News» tinha suportado a agenda de Bush no Iraque. O mesmo canal que serviu e serve de arma de arremesso contra o actual Presidente Obama e de meio de combate dos conservadores.
Não causa, por isso, estranheza que o ataque que, na segunda-feira, anunciou a morte de Barack Obama, depois de ter sido baleado no Iowa, tenha tido como alvo precisamente a «Fox News».
Pouco depois de a notícia surgir no twitter do canal, a «Fox News» emitiu um comunicado na sua página da internet a dizer que o conteúdo das mensagens era “malicioso e falso”. A Casa Branca manifestou a sua perplexidade e os serviços secretos americanos anunciaram que iam investigar a invasão da conta do twitter da Fox.
É bem possível que quem saía ferido de morte deste tiro no pé seja a estratégia rasteira e deplorável de Rupert Murdoch para vender papel.
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