sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sai da frente... Facebook (crónica publicada no Novo Jornal)

A vida de Hélio Catarino teve uma viragem de 180 graus, desde que um vídeo no YouTube deu a conhecer a sua monumental queda de skate. Numa semana, o «Fail like a boss» teve dois milhões de visualizações. Frases como “o medo é uma cena que a mim não me assiste” e “sai da frente, Guedes” tornaram-se conhecidas no mundo inteiro. E repetidas durante o Verão português.

As réplicas não tardaram. Numa sequência viral, multiplicaram-se os vídeos no YouTube a comentar a acção de 49 segundos que quase acaba em atropelamento. “Só vi o carro na gravação em casa. Não me lembro de o ter visto à minha frente”, confessa Hélio, ao diário português «Correio da Manhã». A aventura de skate foi tão rápida que o jovem cozinheiro, de 27 anos, não deu conta de nada. Precipitou-se para a berma da estrada, para travar a veloz trajectória do skate. A queda catapultou-o para a fama.
A ascensão meteórica do rapaz pacato e anónimo das Caldas da Rainha, no litoral centro de Portugal, tem algo de cinematográfico. Hélio e Guedes, responsável pela filmagem, dizem que foi um acaso. “Todo o vídeo foi espontâneo, não tinha noção do que ia acontecer. Estava a usar um skate emprestado. Os meus amigos experimentavam material novo de captação de vídeo para usarem na escola de artes. É chocante”, explicou Hélio.
Acaso ao não, o certo é que as consequências da colocação do vídeo no YouTube são quase hollywodescas: Dois milhões de visualizações numa semana; 37 mil seguidores em poucos dias; anúncios de publicidade na televisão, envolvendo grandes marcas; convites para trabalhar em agências de publicidade; e um telemóvel que não pára de tocar. “Estou a ver que ainda vai haver teses de mestrado sobre esta propagação viral”, ironiza Hélio que, no meio dos convites, destaca o de uma amiga com quem sempre quis jantar.
Ah, e um outro convite para co-apresentar um dos programas mais vistos da Sic Radical, canal direccionado para a juventude, o Curto-circuito. Hélio também já é estrela da televisão.
O poder da internet e das redes sociais ultrapassa a imaginação, tem estado ao serviço de causas políticas e sociais, como demonstra a primavera árabe, e, infelizmente, também serve os criminosos.
Na terça-feira, dois jovens foram assassinados e colocados, numa ponte pedonal da cidade de Nuevo Laredo, no estado de Tamaulipas, México, alegadamente por utilizarem as redes sociais para denunciar criminosos.
Os corpos dos dois jovens, um rapaz e uma rapariga, foram detectados por automobilistas que passavam na zona. Os cadáveres apresentavam sinais de tortura e continham, anexadas em cartolina, mensagens aos que utilizam a internet para denunciar criminosos, num aviso claro de que lhes acontecerá o mesmo.
Apesar de as autoridades não avançarem informações sobre a investigação, o caso está a provocar a mobilização das equipas de segurança. A mensagem é atribuída ao cartel dos Zetas, que opera na região fronteira com os Estados Unidos, e põem em alerta todos os que aproveitam a rede para intervir civicamente.
Cautelas e caldos de galinha não fazem mal a ninguém e se nas redes sociais o adágio não é adoptado há quem trate, coercivamente, de o aplicar.
A ministra da defesa do consumidor alemã, Ilse Aigner, exigiu esta semana aos seus colegas de gabinete que renunciem ao Facebook para darem um “bom exemplo” e, assim, levarem a sério a protecção de dados.
Aigner considera “imprescindível” que os seus subordinados não utilizem o símbolo de acesso ao Facebook nas páginas da internet da responsabilidade do governo. E desaconselha a inscrição em páginas de instituições no Facebook “devido a fundadas dúvidas legais”.
Numa altura em que até Presidentes da República usam o Facebook para comunicar com os cidadãos, a ministra alemã deixou bem clara a sua animosidade em relação à rede social norte-americana por não respeitar a legislação do seu país e a europeia, sobretudo por facultar automaticamente dados dos seus utilizadores a terceiras pessoas.
Aigner absteve-se de recomendar aos deputados a supressão das suas páginas do Facebook, mas recomendou que “reavaliem a sua presença” naquela rede social. A própria ministra anulou há vários anos a sua inscrição no Facebook. O seu ministério também não está registado nesta aplicação, nem tem qualquer link que conduza à página do Facebook.
Com estas recomendações, a ministra alemã põe trancas nas portas e janelas do Ministério da Defesa do Consumidor, mas esquece-se que hoje não há muralhas suficientemente fortes para estancar a informação.

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