Algumas mulheres lutam pela sua imagem e algumas lutam pela sobrevivência.
Algumas mulheres esqueceram-se que pregaram pela paz e algumas só podem rezar pelos seus mortos.
Algumas mulheres pretendem não ter escolhas e algumas apenas agem.
O que aconteceu contigo, Asma?
Centenas de crianças sírias já foram mortas e molestadas. Um dia as nossas crianças vão perguntar-nos o que fizemos para parar este derrame de sangue. Qual será a tua resposta, Asma?
Que tu, Asma, não tiveste escolha? E este rapaz (imagem de uma criança ensanguentada a agonizar) qual foi a sua escolha? Cada uma destas crianças tem um nome e uma família. As suas vidas nunca mais serão as mesmas.
Asma, quando tu dás um beijo de boas noites aos teus filhos, outra mãe irá encontrar o lugar ao pé dela vazio.
Estas crianças podiam ser todas tuas. Elas são tuas crianças.
Levanta-te pela paz, Asma. Fala agora. Pelo bem da tua gente.
Pára o teu marido e os seus apoiantes. Deixa de ser uma espectadora. Ninguém quer saber da tua imagem. Nós queremos saber da tua acção. Agora”.
No dia em que esta carta a Asma al-Assad, subscrita por mulheres em todo o mundo, foi posta no Youtube, a televisão Síria divulgou imagens do Presidente Bashar al-Assad e da mulher a distribuírem comida e bens a crianças do seu país.
A iniciativa do casal al-Assad pretende anular o efeito da carta, mas a propaganda não anula a emoção provocada pelas imagens da violência exercida pelo regime sírio.
O vídeo de quatro minutos tem mais efeito na consciencialização do que se passa na Síria, onde Bashar al-Assad continua a atacar o seu povo apesar do cessar-fogo, do que um ano de discursos e notícias sobre o massacre sírio.
A emoção é uma das armas mais eficazes para chegar ao ser humano. Para o bem e para o mal. E esta semana não faltam episódios emotivos que nos incitem.
Em Itália, centenas de pessoas manifestaram-se quarta-feira, em Roma, para protestar contra os suicídios causados pela crise económica.
Apesar da chuva incessante foram vários os que responderam ao apelo de associações de empresários e artesãos da região de Roma e dos principais sindicatos italianos para uma manifestação “silenciosa” que pretende chamar a atenção para as “vítimas da crise” e evitar que haja mais suicídios.
Desde 1 de Janeiro de 2012, elevam-se a 23 os suicídios de empresários e trabalhadores atribuídos à crise. Juntaram-se aos 192 de artesãos e pequenos empresários que puseram termo à vida em 2010 e aos 144 empresários e profissionais liberais que se suicidaram nesse mesmo ano. Entre os desempregados contam-se 362 suicídios em 2010, 272 dos quais de pessoas que tinham acabado de perder o emprego.
A frieza dos números não ilude o problema, mas atenua o impacto da tragédia.
No dia 4 de Abril, um farmacêutico reformado, de 77 anos, foi para a Praça Sintagma, em frente ao Parlamento grego. Faltava pouco para as 9h00, hora de ponta, quando disparou sobre si próprio. O corpo caiu inerte. Um bilhete no bolso explicou o seu acto. “Sou reformado. Não posso viver nestas condições. Recuso-me a procurar comida no lixo, por isso decidi pôr fim à vida”.
A tragédia grega adquiriu um rosto. O suicídio transformou-se na expressão do drama que hoje se abate sobre vários cidadãos europeus.
Mas no meio da morte ainda há esperança.
A morte do jogador do Livorno Piermario Morosini, que sucumbiu no domingo durante um jogo de futebol, desencadeou uma onda de solidariedade sem precedentes. O Udinese, clube em que Morosini jogou e que detinha o seu passe, uniu-se a vários jugadores e, através do projecto de solidariedade «Udinese pela Vida», garantiu que vai cuidar da irmã do jogador, que padece de uma deficiência mental.
A vida de Morosini foi marcada pela tragédia. A mãe morreu quando tinha 15 anos. Dois anos depois foi o pai e um irmão, também portador de deficiência, pôs termo à vida. Resta Maria Carla Morosini que, na morte Piermario, viu a Itália erguer-se por ela.
A emoção suscitada pela onda de solidariedade em Itália contrasta com o sentimento de asco provocado pelas imagens do julgamento de Anders Breivik, o norueguês que, em Junho do ano passado, matou 77 pessoas num duplo atentado na Noruega e que hoje usa o tribunal como tribuna para a sua propaganda nacionalista.
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