Rebekah e o marido foram detidos, em Março, devido à espionagem jornalística do «News of the World, semanário que dirigiu até ser nomeada presidente executiva da News International, mas ambos foram postos em liberdade pouco depois.
Esta semana, o Ministério Público britânico veio anunciar que o casal vai ser acusado formalmente, quase um ano depois de ter rebentado o escândalo que pôs a nu as práticas do império murdochiano. Um império mediático posto, não ao serviço da informação – como se espera de um grupo de comunicação social -, mas das ambições desmedidas do seu proprietário e que era servida com o recurso a todas as técnicas ao dispor dos criminosos menos escrupulosos.
Desde que, em 1969, adquiriu o mais importante tabloide britânico, criado em 1843, Murdoch fez de tudo para alargar a sua influência e do seu grupo mediático: corrompeu políticos e polícias; contratou detectives para espionarem todo o tipo de personalidades (governantes, parlamentares, membros da família real britânica, artistas e cidadãos comuns), através de escutas ilegais dos seus telemóveis; perseguiu advogados e jornalistas que se atreveram a questionar, investigar e responsabilizar as práticas dos títulos da News International no Reino Unido – o «News of the World» e o «The Sun»; moveu campanhas de difamação nos seus jornais, que prejudicaram e destruíram várias personalidades; e conviveu de perto com todos os primeiros-ministros britânicos - desde Margaret Tatcher até David Cameron (Tony Blair chegou a embarcar num iate de Murdoch, pouco tempo antes de o «The Sun» declarar o seu apoio ao líder trabalhista), trocando apoios a favor da aprovação de leis que permitiam expandir o seu império.
O império de Murdoch fez mais. Manteve refém uma das mais prestigiadas polícias do mundo – a Scotland Yard, também conhecida como Polícia Metropolitana de Londres – prestando serviços aos seus chefes, infiltrando ex-jornalistas do «News of The Word», como assessores das chefias policiais, conseguindo, com esta estratégia, fazer com que todas as acusações que visavam o seu império caíssem por terra.
O cancro que corroeu a sociedade britânica desenvolveu-se até que o jornal britânico «The Guardian» começou a investigar a história das escutas ilegais, que visavam também familiares de ex-militares mortos no Iraque e no Afeganistão e adolescentes vítimas de sequestro.
O jornalista Nick Davies, que desenvolveu a investigação para o «The Guardian», foi perseguido, mas não demoveu na sua firmeza de desmontar o escândalo perante o silêncio da restante imprensa britânica, pouco interessada em acossar Murdoch, por temer a estratégia de esmagamento da News International.
O «The Guardian» noticiava; a Scotland Yard desmentia.
Consciente da dificuldade em lutar sozinho contra a máquina de poder de Murdoch, o «The Guardian» passou a história ao jornal norte-americano «New York Times», a notícia alastrou e as autoridades britânicas viram-se impotentes para manter a parede de silêncio que até aí mantinha encoberto o escândalo.
Vários directores do «News of the World» foram demitidos; um dos assessores do primeiro-ministro britânico (o mais bem pagos deles todos), Andy Coulson, editor do «News of the World» entre 2003 e 2007, também se demitiu e deixou Downing Street; altos dirigentes da Scotland Yard foram destituídos, 46 pessoas ligadas ao escândalo acabaram detidas e Murdoch viu-se obrigado a encerrar a galinha dos ovos de ouro.
No início de Maio, e após várias audições, a comissão parlamentar britânica sobre as escutas telefónicas do «News of the World» veio dizer que Murdoch “não é uma pessoa competente” para dirigir um grupo internacional de media, porque “fechou os olhos e mostrou ignorância voluntária sobre o que se passava nas suas companhias e publicações”. Murdoch negou sempre ter conhecimento das práticas ilegais do tabloide britânico, que escutou um número estimado de 6.349 pessoas.
Rebekah Brooks e o marido vão ser finalmente acusados, mas ninguém acredita, pela teia de cúmplices que foram tecendo, que algum dia venham a ser condenados. Tal como Murdoch que, embora considerado incompetente pela comissão parlamentar, se revelou muito apto para navegar em águas turvas e lodosas. Como só ele sabe.
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