segunda-feira, 14 de maio de 2012

Democracia, pois!

A grande derrotada nas eleições em França e na Grécia foi a Alemanha. Melhor. Foi Angela Merkel e o eixo que a chanceler traçou com o Presidente francês cessante, Nicolas Sarkozy, para “governarem” sozinhos uma Europa em crise. Um eixo franco-alemão, que levou o Euro para a beira do precipício e que fica comprometido com a queda do co-protagonista Sarkozy, deixando a Presidente Alemã a falar sozinha.
Angela Merkel bem tentou dramatizar os resultados das presidenciais francesas, advertindo os gauleses para as consequências de uma vitória de Hollande (a chanceler não se dignou sequer receber o candidato socialista, antes das eleições); bem “chamou” os eleitores gregos à “razão”, insistindo na receita dura da austeridade, sem paliativos, ameaçando com o perigo da bancarrota e a saída do país do Euro; mas franceses e gregos fizeram-lhe uma vaia conjunta e ditaram o fim do Merkozy, como registou o ex-Nobel da Economia, Paul Krugman, no de «New York Times», o que obriga a Europa a sentar-se e discutir o seu futuro, a essência da política.
Angela Merkel ainda não está sozinha. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, veio em seu socorro, insistindo na austeridade como receita para a crise, depois de François Hollande, no seu discurso de vitória, dizer que a sua eleição “foi um alívio e uma esperança de que, finalmente, austeridade não tem de ser uma fatalidade”. Mas Durão amaciou o discurso.
Merkel não está sozinha, mas está cada vez mais isolada e a sua voz enfraqueceu.
“Este 6 de Maio deve ser um grande dia para o nosso país, um novo começo para a Europa e uma nova esperança para o mundo”, afirmou François Hollande, na sua primeira declaração como novo Presidente eleito, inspirando outros líderes europeus a reclamarem um novo rumo para a Europa.
A cimeira de líderes da União Europeia, convocada para 23 de Maio, para relançar o crescimento económico deverá ficar marcada pelo finca-pé grego e poderá obrigar a um novo consenso para harmonizar consolidação e crescimento contra a inflexibilidade alemã que pretende relançar o crescimento unicamente por via da austeridade.
“Está na altura de passar à frente. Os eleitores europeus provaram ser mais sensatos do que os mais inteligentes e bem formados do Velho Continente”, escreveu Paul Krugman, na segunda-feira, evidenciando que a estratégia Merkozy já provou que não resulta.
A Grécia fez-se par de Hollande na luta por um novo caminho. Puxou do cartão vermelho para o exibir ao histórico Pasok que desceu para terceira força política mais votada, com apenas 14 por cento dos votos e que fica ligado às políticas de austeridade impostas pelo eixo franco-alemão. E catapultou para segundo lugar a coligação de esquerda radical, Syriza, que na sua sede de campanha debitava, no domingo, em altos decibéis, a música «People have the power» (o povo tem o poder).
Foi o poder da revolta que o povo deu ao Syriza, apesar da dramatização das televisões que diziam que se os gregos votassem na coligação de esquerda radical e europeísta vinha aí a desgraça e o fim do euro, como recordou um eleitor. Poder que levou ontem, quinta-feira, o Syriza a recusar formar um governo que aplique o programa de austeridade imposto a Atenas pela União Europeia, Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional para a concessão de uma ajuda financeira.
“Os cidadãos votaram em massa contra a bárbara política dos acordos sobre os empréstimos ao país. E querem impedir os planos para a aplicação de mais 77 medidas de austeridade em Junho, os planos para despedir 150 mil funcionários públicos e os cortes avaliados em 11,5 mil milhões de euros”, afirmou o líder do Syriza, Alexis Tsipras.
Não conseguiu formar governo, mas também não viabilizou o regime de austeridade imposto nos últimos dois anos.
Ninguém sabe muito bem qual será o desfecho da mudança de enredo; não há quem arrisque apostas e o papão da bancarrota que pende sobre a Grécia, já no início de Julho, não teve ainda efeito sobre os gregos, significando o regresso da política à Europa.
Se as eleições presidenciais em França e legislativas na Grécia produziram um grande derrotado – Angela Merkel – significaram também a vitória da política. E o regresso ao centro do debate dos interesses de todos, mesmos dos mais pequenos, contra a tirania dos mais poderosos.
Não deixa de ser curioso que um dos motores da revolução que desabrochou com os resultados das eleições de domingo esteja no berço da democracia. Apesar dos desvios, a história restabelece a ordem e põe os homens no trilho certo.

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