Todas estas medidas, numa mesma semana, não são mera coincidência. Sempre que a crise se intensifica, há um acordar de sentimentos xenófobos e racistas. E o instalar de um estado de amnésia, que faz esquecer que foi assim que Hitler chegou ao poder, em 1932.
Nos Estados Unidos, os sentimentos xenófobos tiveram uma demonstração trágica, quando um ex-militar disparou num templo sikh, no Winsconsin, no domingo, matando seis pessoas. Pouco tempo de investigação bastou para a polícia perceber que Wade Michael Page estava ligado a grupos que defendem a supremacia branca, trazendo à luz do dia a subcultura neonazi nos EUA, que tem conhecido um recrudescimento, graças às bandas punk que vão fazendo a apologia da violência e do racismo, nas suas músicas. O autor do tiroteio no templo sikh - cidadãos originários da Índia – era líder de um desses grupos musicais.
Os neonazis também vão reconquistando posições na Europa, aconchegados aos partidos de extrema-direita que, no início do milénio, começaram perigosamente a ganhar lugar de destaque.
Em 2000, na Áustria, a extrema-direita chegou ao governo, quando o Partido da Liberdade, de Jörg Haider, se coligou com o Partido Popular de direita. Haider só não se tornou primeiro ministro por pressão da União Europeia, que não viu bem este casamento, muito menos aceitou que o líder do Partido da Liberdade se tornasse o cabeça de casal.
Depois desta ascensão, o número de votos em partidos de extrema-direita subiu na Dinamarca, na Suíça e na França, neste último com direito a estrelato. Em 2002, Jean Marie Le Pen conquistou 17,79 por cento do eleitorado. O Partido da Frente Nacional francês baixou para os 10%, em 2007, mas, nas presidenciais de 2012, voltou à casa dos 17%, com a filha de Le Pen, Marine.
O Partido do Povo Dinamarquês chegou ao governo, numa coligação que durou dois anos, quando, em 2002, Anders Fogh Rasmussen deixou o cargo de primeiro ministro para assumir o de secretário-geral da NATO. Nesse mesmo ano, os democratas suecos, também de extrema-direita, conquistaram 20 lugares no Parlamento, pela primeira vez. E no Parlamento Europeu três deputados do Partido Nacional Britânico sentaram-se, depois de terem sido eleitos.
O avanço da extrema-direita na Europa não se ficou por aqui. Na Finlândia, o Partido dos Verdadeiros Finlandeses chegou aos 19% dos votos. Na Hungria, o Fidesz e o Jobbik formaram governo. E, em 2012, o partido neonazi grego Aurora Dourada elegeu 21 deputados no Parlamento, promovendo a partir daí uma perseguição aos imigrantes, com o argumento de que roubam “as velhinhas”.
Talvez inspirado pela Aurora Dourada, a polícia grega começou uma perseguição aos imigrantes ilegais, no centro de Atenas, sem qualquer justificação legal, segundo a Human Rigth Watch.
Desde há uma semana, a polícia grega tem em curso uma operação chamada "Xenios Zeus”. Mil 595 pessoas foram detidas e seis mil foram interpeladas, o que levou Benjamin Ward, vice-director para a Europa e Ásia Central da HRW, a levantar a voz: "A Grécia tem o direito de aplicar as suas leis de imigração e, depois de um procedimento justo, deportar aqueles que não tenham documentos legais para permanecer no país. Mas não tem o direito de tratar as pessoas como criminosas, nem de assumir que elas não estão em estatuto regular por causa da raça ou etnia”.
A Espanha ainda não chegou a tanto, mas a proposta que o Governo e o Partido Popular, que o sustenta, propõem pode ser um primeiro passo no caminho errado.
A oposição em massa está contra a decisão de cobrar 710 euros por ano a imigrantes irregulares para que possam ter acesso a cuidados médicos no sistema de saúde público espanhol, o que os deixará numa “situação de grande dificuldade”, mas pode não evitar que a proposta seja aplicada.
Isto num país em que a população estrangeira tem um peso significativo, não só para estabilizar a demografia, mas também para sustentar alguns sectores da economia, como o da construção, que até há pouco tempo dependiam da imigração.
Basta dizer que, em 2008, a Caixa Catalunya estimou que 50% do crescimento do PIB catalão nos últimos anos ficou a dever-se à imigração. Mas isso já lá vai e o governo espanhol, com a crise, já se esqueceu.
É pena e pernicioso.
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