segunda-feira, 26 de maio de 2014

Da felicidade ao Palito (crónica publicada no Novo Jornal*)

                                No Irão, dançar à felicidade deu prisão

O músico americano Pharrel Williams pôs pessoas de todo o planeta a dançar ao som de «Happy». O tema inspirou as Nações Unidas a criarem um Dia Internacional da Felicidade. Mas, no Irão, o mote deu direito a prisão.
Foi isso que aconteceu a um grupo de jovens. Gravou um vídeo nas ruas e telhados de Teerão, onde se vêem três homens e três mulheres, elas sem véu, a dançar ao som de Pharrel Williams, e todos acabaram presos.
Mal refeita do beijo que a actriz iraniana Leila Hatami deu ao director do Festival de Cinema de Cannes, à chegada ao certame, que causou escândalo no país, a polícia de Teerão não esteve com modas. E deu ordem de prisão aos membros do grupo, porque o respeito é bonito e a moral recomenda-se.
Não foi propriamente o “detestável” vídeo, segundo palavras do chefe da polícia, Hossein Sajedinia, que motivou a detenção. Foi a sua difusão. Em pouco tempo, o filme teve mais de 200 mil visualizações, o que suscitou a cólera da polícia, bem expressa nas declarações do chefe Hossein, que justificou a acção alegando que o “clip vulgar fere a pureza do povo iraniano”.
O grupo acabou por ser libertado, por pressão do Presidente iraniano, Hassan Rouhani, que nas últimas presidenciais substituiu o extremista Ahmadinejad. “A felicidade é um direito do nosso povo, não podemos proibir movimentos de alegria”, justificou o chefe de Estado, mostrando que há ventos de mudança que sopram no Irão. Infelizmente, ainda com pouca força. Depois de libertados, os jovens foram aos canais de televisão explicar que tinham sido aliciados a fazer o vídeo para uma audição. E que nunca lhes passou pela cabeça que ele iria parar à internet.
O autor da música já protestou contra a infame detenção. Pharrel Williams manifestou-se triste por saber que jovens são detidos “por tentarem espalhar a felicidade”.
Onde os ventos de mudança já sopraram e com força foi numa pequena localidade da província de Burgos, em Espanha, onde outrora se matou por fervor religioso.
Os 60 habitantes da aldeia querem aproveitar as eleições europeias de domingo para realizar um referendo sobre a mudança de nome da povoação, baptizada com o nome de Castrillo de Matajudíos, que evoca os “tempos sinistros em que uns espanhóis matavam por causa da religião”.
Diz o povo que o lugar originalmente chamava-se Castrillo Mota de Judíos. E que a alteração foi feita, entretanto. A razão não é, contudo, consensual. Uns dizem que o nome mudou no final do século XV, quando foi decretada a expulsão dos Judeus de Espanha. Outros dizem que não. Que há documentos que relacionam a alteração ao erro de um escrivão, em documentos oficiais.
Quer a justificação seja uma quer seja a outra, os habitantes da aldeia não estão pelos ajustes. Fartos dos embaraços que o nome provoca, quando vão ao estrangeiro e têm de dizer de onde são e mesmo junto dos que visitam a terra, querem enterrar a actual designação. Associaram-se então numa luta comum e, em 2009, as autoridades locais resolveram tomar o assunto em mãos e estudar o caso para mudar o nome, que nem sequer faz jus à história do povoado, como nota o alcaide local, Lorenzo Rodríguez Pérez. Isto porque os primeiros moradores da aldeia eram precisamente judeus banidos da aldeia de Castrojeriz. Portanto, vítimas e não agressores
O autarca deixa desde já uma garantia: a vontade da maioria será respeitada, nem que seja por um voto.
Na vizinha região do Douro, que faz fronteira com Espanha, a polícia portuguesa prendeu finalmente o “diabo”, assim baptizado pela imprensa, que, durante quase um mês, aterrorizou a aldeia de Valongo dos Azeites, depois de matar duas mulheres e deixar duas gravemente feridas, a própria mulher e a filha, por não se conformar com o divórcio.
Durante um mês, centenas de homens da Guarda Nacional Republicana, força policial que garante a segurança fora dos perímetros urbanos, munidos de cães e armas, varreram as serras que circundam Valongo dos Azeites à procura do “Palito”, alcunha que vem da extrema magreza do assassino. Em vão. Nem rasto do homem. Em pouco tempo, a expressão “encontrar uma agulha num palheiro”, que paraboliza a dificuldade em encontrar algo, deu lugar a “encontrar um palito no pinhal”.

Com o arrefecimento súbito do tempo e a chuva, Manuel Baltazar deu um pulito a casa e acabou por ser detido. O homem não ofereceu resistência. E o ditado foi restituído à sua forma original.

*Publicada no dia 23 de Maio de 2014

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