No Irão, dançar à felicidade deu prisão
O músico americano Pharrel Williams pôs pessoas de todo o
planeta a dançar ao som de «Happy». O tema inspirou as Nações Unidas a criarem
um Dia Internacional da Felicidade. Mas, no Irão, o mote deu direito a prisão.
Foi isso que aconteceu a um grupo de jovens. Gravou um vídeo
nas ruas e telhados de Teerão, onde se vêem três homens e três mulheres, elas
sem véu, a dançar ao som de Pharrel Williams, e todos acabaram presos.
Não foi propriamente o “detestável” vídeo, segundo palavras
do chefe da polícia, Hossein Sajedinia, que motivou a detenção. Foi a sua difusão.
Em pouco tempo, o filme teve mais de 200 mil visualizações, o que suscitou a
cólera da polícia, bem expressa nas declarações do chefe Hossein, que justificou
a acção alegando que o “clip vulgar fere a pureza do povo iraniano”.
O grupo acabou por ser libertado, por pressão do Presidente
iraniano, Hassan Rouhani, que nas últimas presidenciais substituiu o extremista
Ahmadinejad. “A felicidade é um direito do nosso povo, não podemos proibir
movimentos de alegria”, justificou o chefe de Estado, mostrando que há ventos
de mudança que sopram no Irão. Infelizmente, ainda com pouca força. Depois de
libertados, os jovens foram aos canais de televisão explicar que tinham sido
aliciados a fazer o vídeo para uma audição. E que nunca lhes passou pela cabeça
que ele iria parar à internet.
O autor da música já protestou contra a infame detenção.
Pharrel Williams manifestou-se triste por saber que jovens são detidos “por
tentarem espalhar a felicidade”.
Onde os ventos de mudança já sopraram e com força foi numa
pequena localidade da província de Burgos, em Espanha, onde outrora se matou
por fervor religioso.
Os 60 habitantes da aldeia querem aproveitar as eleições europeias
de domingo para realizar um referendo sobre a mudança de nome da povoação,
baptizada com o nome de Castrillo de Matajudíos, que evoca os “tempos sinistros
em que uns espanhóis matavam por causa da religião”.
Diz o povo que o lugar originalmente chamava-se Castrillo
Mota de Judíos. E que a alteração foi feita, entretanto. A razão não é,
contudo, consensual. Uns dizem que o nome mudou no final do século XV, quando
foi decretada a expulsão dos Judeus de Espanha. Outros dizem que não. Que há
documentos que relacionam a alteração ao erro de um escrivão, em documentos
oficiais.
Quer a justificação seja uma quer seja a outra, os
habitantes da aldeia não estão pelos ajustes. Fartos dos embaraços que o nome
provoca, quando vão ao estrangeiro e têm de dizer de onde são e mesmo junto dos
que visitam a terra, querem enterrar a actual designação. Associaram-se então
numa luta comum e, em 2009, as autoridades locais resolveram tomar o assunto em
mãos e estudar o caso para mudar o nome, que nem sequer faz jus à história do
povoado, como nota o alcaide local, Lorenzo Rodríguez Pérez. Isto porque os
primeiros moradores da aldeia eram precisamente judeus banidos da aldeia de
Castrojeriz. Portanto, vítimas e não agressores
O autarca deixa desde já uma garantia: a vontade da maioria
será respeitada, nem que seja por um voto.
Na vizinha região do Douro, que faz fronteira com Espanha, a
polícia portuguesa prendeu finalmente o “diabo”, assim baptizado pela imprensa,
que, durante quase um mês, aterrorizou a aldeia de Valongo dos Azeites, depois
de matar duas mulheres e deixar duas gravemente feridas, a própria mulher e a
filha, por não se conformar com o divórcio.
Durante um mês, centenas de homens da Guarda Nacional
Republicana, força policial que garante a segurança fora dos perímetros
urbanos, munidos de cães e armas, varreram as serras que circundam Valongo dos
Azeites à procura do “Palito”, alcunha que vem da extrema magreza do assassino.
Em vão. Nem rasto do homem. Em pouco tempo, a expressão “encontrar uma agulha
num palheiro”, que paraboliza a dificuldade em encontrar algo, deu lugar a “encontrar
um palito no pinhal”.
Com o arrefecimento súbito do tempo e a chuva, Manuel
Baltazar deu um pulito a casa e acabou por ser detido. O homem não ofereceu
resistência. E o ditado foi restituído à sua forma original.
*Publicada no dia 23 de Maio de 2014
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