Uma pesquisa feita nos EUA, que incidiu sobre as 2.500
maiores empresas de capital aberto, constatou que os presidentes executivos
mulheres enfrentam probabilidade de demissão mais alta do que os homens.
O estudo, realizado pela empresa de consultadoria Strategy&,
olhou para a última década e concluiu que menos de 30% dos homens que ocupavam
o cargo de presidente executivo foram demitidos, enquanto nas mulheres a
proporção de demissões ficava próxima dos 40%.
Nem de propósito. Na semana em que este estudo é conhecido
duas demissões de topo envolvendo mulheres são noticiadas, nos EUA e em França.
O The New York Times dispensou a sua primeira directora, Jill Abramson, menos de
três anos depois da nomeação. E, no Le Monde, Natalie Nougayrède, também a
primeira mulher a ascender ao cargo, anunciou a sua demissão, pouco mais de um
ano após ter assumido a direcção. Nenhuma delas foi substituída por outra
mulher.
O caso do Le Monde terá sido o desfecho de uma guerra
interna provocada pelo projecto de reforço da versão digital, apresentado em
Fevereiro, que pressupunha a passagem de 57 jornalistas da versão em papel para
a edição online, numa manobra interpretada pela redacção como prelúdio de
despedimento colectivo.
A demissão de Jill Abramson, que vai ser substituída no
cargo pelo primeiro afroamericano a assumir a direcção do The New York Times, o
editor e vencedor de um prémio Pulitzer (os óscares do jornalismo) Dean Baquet,
foi apresentada pelo presidente do diário, Arthur Sulzberger, como objectivo
para a melhoria da gestão na redacção.
Mas a versão verdadeira, segundo a revista The New Yorker, que
se baseia em desabafos da ex-directora, tem por base o facto de Jill Abramson
descobrir, pouco antes de ser demitida, que a sua remuneração era inferior à de
Bill Keller, o seu antecessor.
Depois de o assunto ser dissecado pela The New Yorker, o Times
emitiu um comunicado a explicar que os salários e benefícios pagos a Abramson
não eram “consideravelmente menores que os de Keller”, mas “eram directamente
comparáveis”, porque tinham em conta os anos de casa de cada um deles.
As demissões de mulheres em lugares-chave no The New York Times
não se ficam por aqui e revelam as fragilidades no diário controlado pela
família Ochs-Sulzberger, que, nos últimos anos, se desfaz de activos e procede
a cortes na equipa, como forma de reagir à queda de publicidade.
Em 2011, Arthur Sulzberger demitiu inesperadamente a
directora-executiva da empresa, Janet Robinson, assumindo o cargo em acumulação
até que foi recrutar um quadro em Londres para a substituir. A escolha recaiu
no ex-director-geral da BBC, Mark Thompson.
Per-Ola Karlsson, um dos autores do estudo da Strategy&,
atribui a maior percentagem de demissões entre as mulheres em lugares de topo a
dois factores: a cultura dos conselhos de administração, que continua a ser
esmagadoramente masculina, e o benefício da dúvida.
No primeiro caso, o consultor refere, com base em conversas
com muitas mulheres que detêm postos importantes em empresas, que é um ambiente
difícil para trabalhar e que nem toda a gente oferece o apoio esperado quando
se trata de uma mulher ao leme.
Isto é tanto assim que apenas 3% dos presidentes-executivos
nas companhias estudadas eram mulheres, menos do que as 4,2% no ano anterior,
2013.
No factor benefício da dúvida, a Strategy& refere que,
devido a pressões culturais e políticas em alguns países, as companhias
mostram-se dispostas a apontar uma mulher para um posto de comando, a ponto de fazerem
escolhas ousadas, com maior probabilidade de não funcionarem, muitas vezes, sem
terem em devida conta critérios de competência.
Apesar deste cenário, a Strategy& estima que a mudança
nas pressões sociais e a presença de cada vez mais mulheres em funções
educacionais e de negócios de primeiro escalão tem como resultado a presença de
um terço de mulheres nas novas indicações para a presidência-executiva em 2040. Quer eles queiram, quer não queiram.
*Publicada no dia 16 de Maio de 2014
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