A cantar em inglês ou na sua língua materna, o iorubá, Asa nunca desilude
Bukola Elemide nasceu em Paris, em 1982. Com dois anos, os
seus pais resolveram regressar à Nigéria e, no país das suas raízes, aprendeu a
cultura que lhe corria nas veias e descobriu a sua paixão pela música.
Em Lagos, a criança que se tornou Asa (pronuncia-se Asha),
encontrou na eclética colecção de discos do seu pai os sons do soul e de temas
tradicionais da Nigéria, que decidiram a sua vocação.
Em 2004, Asa enviou uma gravação para uma associação
artística francesa, que decidiu apoiá-la. Regressou a França, onde deu uma
série de concertos, e arrebatou a crítica. Dois anos depois, assinou com uma
editora e, em 2007, nasceu «Beautiful Imperfection» que junta as influências de
trás e as que ganha mais tarde ao ouvir outros conterrâneos seus, como Erika
Badu, D’Angelo, Rafael Saadig, Lauryn Hill e Angelique Kidjo.
Apesar da beleza imperfeita que a capa anuncia logo à
partida, com uma foto da artista sem artifícios estéticos e com uma lente dos
óculos partida, o disco está longe da imperfeição. Dele brota um som
refrescante, uma voz rouca e sem rugosidades e uma mensagem, que oscila entre a
dor amorosa da adolescência e as grandes questões da humanidade.
No tema de abertura, Questions, Asa começa por perguntar
quantos sonhos de infância no feminino ficaram para trás, quantos filmes se
tornaram reais, quantas pessoas desejavam ser outra pessoa e quantos bebés vão
nascer apenas para morrer.
A canção que nos introduz no universo musical da jovem
Bukola tem um tom quase profético, que antecipa o que se passa com as suas
irmãs nigerianas, arrancadas à força das famílias, e que fez despontar um
movimento internacional a favor do seu regresso a casa.
“Como é que as pessoas estão tão ocupadas e não encontram
tempo para o amor/Qual é a verdade por trás das razões que as levam para a
guerra/Porque é que há tantas religiões e tão pouco amor/será que algum dia eu
vou conhecer a verdade?”
As perguntas que Asa levanta no seu primeiro trabalho só são
possíveis porque cresceu com amor e beneficiou de educação e instrução,
direitos que devem ser de todas as crianças, qualquer que seja a sua proveniência
e raça, e com os quais pôde decidir o futuro que quis para si, ao contrário do
que acontece com 300 jovens nigerianas raptadas em nome da religião e da invocação
herege de um deus.
Como diz Malala Yousafzai, jovem paquistanesa que foi
baleada no regresso a casa e que se tornou símbolo da luta das meninas pelo
direito ao ensino, o grupo islamita Boko Haram, que reclamou o rapto, cometeu
um acto hediondo em nome de uma religião que não compreende, nem estudou. Se
tivesse estudado o Alcorão saberia que a palavra islão, segundo Malala, quer
dizer “paz” e que não há nada no livro sagrado que legitime, em nome de Ala, o
rapto de raparigas, nem a sua venda para exploração sexual.
Mal vai um país que permite que, durante anos, um grupo
radical islâmico actue no seu território, tentando implantar num estado
democrático um regime opressor que esmaga os direitos de uma parcela dos seus
cidadãos, as mulheres, em nome de uma religião.
“O mundo deve unir-se e fazer todos os esforços para
libertar essas meninas e trazer os sequestradores à Justiça”, declarou a ONU.
Três países já mandaram reforços para uma luta que o governo de Goodluck
Jonathan tem estado a perder por falta de determinação ou vontade de travar um
grupo terrorista, preferindo antes silenciar os que apelam ao regresso das suas
filhas, ao consentir que a sua mulher, Patiente Jonathan, ordenasse a detenção
da mãe de uma jovem raptada frente ao Parlamento.
O Presidente nigeriano prefere não levantar ondas para não
perder votos nas presidenciais que se avizinham, mas o consentimento cúmplice
de um ultraje, como se referiu ao rapto a UNICEF, pode ser o seu fim. Porque
não há no mundo espaço para tamanho desvio àquilo que deve ser o dever de um
governante.
Asa apresenta-se
no seu primeiro disco com um tema que levanta questões, mas que não se limita a
interrogar. No final da música há uma frase que o Presidente do seu país deve
ouvir: “Porque é que nós temos de crescer para ser sábios”. *Publicado no dia 9 de Maio de 2014
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