segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Só rir (crónica publicada no Novo Jornal)

Um estudo desenvolvido pela Universidade de Navarra, Espanha, concluiu que com 15 minutos de riso por dia se ganham quatro anos e meio de vida.
Mais. A equipa liderada pela professora de bioquímica Natalia López Moratalla chegou ainda à conclusão de que as pessoas que combatem o stress com o riso têm menos 40% de possibilidade de sofrer um enfarte ou derrame e têm menos dores durante os tratamentos dentários.
Finalmente, e não menos importante, o estudo aponta caminhos para os que lutam contra o peso. Os mesmos 15 minutos de riso equivalem a menos 40 calorias, o que permite aferir que quanto mais se gargalha, mais se emagrece. E quanto mais se emagrece, mais felicidade se sente e mais motivos há para rir.
O estudo, apresentado no vídeo «Cérebro feliz: o riso e o sentido de humor», foi recebido com satisfação por quem se despedia de 2010 com a infeliz sensação de estar na véspera da entrada num ano desastroso.
Afinal a receita para uma vida mais longa está à distância de um sorriso. O pior mesmo é arranjar motivação para rir com a subida de preços, com a perspectiva de perder o emprego face à crise económica que teima em não desaparecer e com o planeta a tornar-se mais apertado para os sete mil milhões de habitantes que nele habitam.
Não espanta que, no meio de tanto aperto, milhões de pessoas em todo o mundo tenham aderido às pulseiras «Power Balance», que - garantem o fabricante e os representantes da marca - dão força e equilíbrio a quem as usa.
As tais braceletes de plástico que andaram, e andam, no pulso de personalidades famosas, como o internacional português Cristiano Ronaldo e o corredor de Fórmula 1 Rubens Barichello. Nem as actrizes de cinema e músicos ficaram indiferentes às «Power Balance» e não se pode dizer que tenha sido pelas suas qualidades estéticas. As propriedades mágicas do adorno, apregoadas em todo o mundo, convenceram milhões de pessoas ávidas por manterem algum equilíbrio e força na sua vida.
São estas que enfrentam agora um duro revés, vendo-se confrontadas com a necessidade de se agarrarem a outro qualquer objecto milagreiro – ele há-de aparecer – que as mantenha equilibradas.
A Australian Competition and Consumer Comission, associação de defesa dos consumidores, obrigou a marca a fazer um comunicado no seu site a admitir que as pulseiras são publicidade enganosa e que não funcionam, depois de inúmeras queixas de compradores defraudados.
As «Power Balance» foram tema de discussão em todo o mundo durante o Verão, com os físicos a dizer que as propriedades do adorno não passam de um arrazoado de asneiras, sem qualquer sustentação científica; os psicólogos a justificaram o bem-estar sentido pelos utilizadores com o efeito placebo (quando o ser humano acredita que uma coisa faz bem, activa mecanismos cerebrais que desencadeiam e produção de endorfinas, moléculas responsáveis pelo alívio da dor); e a marca a garantir que sim, que as pulseiras equilibram e dão força aos seus portadores.
A Power Balance teve de dar o braço a torcer na Austrália e admitir publicamente que não há pinga de verdade no prodigioso acessório. “Admitimos que as nossas alegações sobre o artigo não têm base científica e que por isso incorremos numa conduta enganosa”, afirma o fabricante. Os compradores que se sentirem defraudados podem reclamar o reembolso até ao dia 30 de Junho. A marca terá ainda de retirar das embalagens a expressão “Performance technology” e alterar as campanhas publicitárias. Pelo menos na Austrália.
Em Espanha, a Power Balance já tinha sido sancionada. A associação de defesa do consumidor Facua avançou em Novembro com um processo de publicidade enganosa e o fabricante espanhol foi condenado a pagar uma multa na ordem dos 15 mil euros (o equivalente a 19 mil dólares) à Junta da Andaluzia, região onde a empresa se havia instalado. Valor muito inferior aos 350 mil euros (458 mil dólares) com que foram multadas as empresas que vendem as pulseiras em Itália pela entidade que regula o mercado no país de Berlusconi, para quem não há pulseira de equilíbrio que lhe valha.
A espanhola Facua não gostou da exiguidade da multa e anunciou a intenção de recorrer. Em poucas horas a Power Balance junta aquele montante em Espanha, o país, em todo o mundo, onde se vendem mais pulseiras de silicone. Não se sabe se por influência de Cristiano Ronaldo, jogador do Real Madrid, ou da crise.
Os espanhóis, é certo, não têm muitos motivos para sorrir nos próximos tempos, mas pode ser que o estudo desenvolvido pela Universidade de Navarra sirva de estímulo. E troquem a superstição pela ciência.

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