O presidente da Fundação Mo Ibrahim diz que a Europa "não tem o direito de dar lições aos africanos" em matéria de transparência, quando continua a permitir que as suas empresas se envolvam em "negócios duvidosos" no continente africano.
Entrevistado à margem da reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que terminou sexta-feira, dia 10, em Lisboa, o multimilionário e filantropo sudanês, fundador da empresa de telecomunicações africana Celtel International, exigiu à Europa que siga os "mesmos standards" que exige aos países africanos em matéria de transparência.
Mo Ibrahim, presidente de uma fundação com o seu nome que divulga anualmente um índice que avalia a boa governação em África, esclarece que as grandes multinacionais europeias são bem-vindas ao continente, mas quer “negócios limpos” e contratos “mais transparentes".
Lembrando que os Estados Unidos introduziram recentemente legislação que obriga as empresas norte-americanas a declararem com transparência e publicamente os contratos que assinam, Ibrahim nota que a Europa prometeu fazer o mesmo ainda este ano, mas remeteu-se depois a um longo silêncio. Enquanto isso “continua a permitir que empresas europeias vão a África fazer negócios duvidosos”.
Mo Ibrahim sabe que cabe também aos governos africanos exigir maior transparência aos seus governantes e ao sector privado, mas a Europa tem igualmente um papel a cumprir. “O povo africano trata dos seus responsáveis políticos, a Europa que trate dos seus empresários. Apenas exigimos os mesmos standards, e é por isso que os europeus devem seguir o exemplo dos norte-americanos", rematou
Mo Ibrahim tem toda a razão e devia ter levado mais longe a reprimenda.
Devia ter dito que as instituições europeias também dão mostras de novo riquismo e indiferença com o mal dos cidadãos que governam. Um anátema que pesa sobre muitos dirigentes africanos, mas que infecta igualmente os governantes europeus.
Enquanto na Europa se exigem cortes aos cidadãos, a Comissão Europeia esbanja dinheiro em luxos e regalias que nada acrescentam à eficácia da sua governação.
Uma investigação do Bureau of Investigative Journalism (BIJ), divulgada pelo jornal britânico «Daily Telegraph, poucos dias depois da Comissão Europeia ter pedido um aumento de 4,9% do seu orçamento, revela gastos exorbitantes e que fazem corar de indignação qualquer cidadão europeu a quem é sistematicamente exigido o apertar do cinto.
A Comissão Europeia desembolsou mais de 9 milhões de euros entre 2006 e 2010 em limusinas, viagens de jacto privado e em férias de luxo para comissários e respectivas famílias.
Só em jactos privados foram consumidos quase sete milhões de euros (mais de 10 milhões de dólares). Não espanta com o vaivém de comissários, e respectivas famílias, em turismo por resorts de luxo da Papua Nova Guiné, Gana ou Vietname, alguns dos destinos de férias favoritos em 2009. Não se sabe se algumas das viagens foram feitas nos jactos privados. O que se sabe é que as facturas destas férias de luxo foram entregues em Bruxelas.
Também se sabe que o presidente da Comissão, Durão Barroso, que provém de um dos países europeus em asfixia financeira e que pediu ajuda ao FMI e Banco Central Europeu – Portugal – gastou a módica quantia de 28 mil euros (40 mil dólares) numa estadia de quatro noites em Nova Iorque, em Setembro de 2009. Durão Barros fazia-se acompanhar por uma equipa de oito assistentes e instalou-se numa suite de 780 euros por noite, valor muito acima dos 275/noite impostos como limite pelo regulamento da própria comissão.
Está certo!
A lista continua e causa espanto. Em «cocktail parties», que é o mesmo que dizer em festas, foram gastos 300 mil euros (438 mil dólares) durante 2009. Só em Amesterdão, Holanda, gastaram-se 75 mil euros (109 mil dólares) numa noite “cheia de maravilhas como nenhuma outra, tecnologia state-of-the-art, arte desafiante, cocktails trendy, performances surpreendentes e DJ de topo”, diz o relatório.
O ministro da Europa do Reino Unido, David Lidington, comentou ao «Daily Telegraph» que numa altura em que “os contribuintes por toda a Europa enfrentam decisões duras sobre os próprios orçamentos familiares” é hora de “alguém na Comissão olhar com atenção para as suas prioridades na despesa”.
Só que David Lidington esqueceu-se de um pormenor decisivo. À custa do esforço que despendem a exigir cortes aos cidadãos, os senhores que mandam na Europa bem precisam de descontrair. E de luxos.
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