O designer de moda britânico, que foi bandeira da casa parisiense Dior, enfrenta a acusação de injúrias públicas racistas e anti-semitas, depois de ter insultado um casal numa esplanada da capital francesa e de ter confessado num vídeo a sua simpatia por Hitler.
Galliano, que após o incidente foi “varrido” da Dior e banido do jet set internacional, disse em tribunal não se lembrar de nada do que aconteceu e culpou a sua dependência do álcool e das drogas pelo sucedido.
A audiência rejubilou.
O enfant terrible da moda internacional, conhecido pela sua irreverência, apresentou-se cabisbaixo, ao contrário da postura de sobranceria que sempre adoptara, num espectáculo mediático que serve a hipocrisia ocidental.
Galliano, que arrisca uma pena até seis meses de prisão e uma multa de 22.500 euros (mais de 32 mil dólares), assumiu as dependências, confessou ter-se confiado a programas de reabilitação nos Estados Unidos e na Suíça e pediu desculpa aos ofendidos.
“Ainda não recuperei completamente, mas estou a sentir-me muito melhor”, afirmou, desculpando-se ainda com as mortes do pai, em 2005, e do seu companheiro, em 2007, e com o constante aumento de trabalho na Dior.
Galliano insistiu que toda a sua vida lutou contra o preconceito, a intolerância e a discriminação. “Não tenho esta visão nem nunca tive”, frisou, depois de ter assistido ao polémico vídeo que circulou na internet e nos meios de comunicação social, desmentindo ter sentimentos racistas ou xenófobos.
Um dia depois de Galliano ter feito um meio mea culpa em tribunal, um juiz de Amesterdão absolveu o líder da extrema-direita holandês Geert Wilders, processado por incitar o ódio e a discriminação racial e religiosa.
"Você é absolvido de todas as acusações pelas quais foi processado", disse o juiz Marcel J. van Oosten em audiência pública, seguindo os pedidos do Ministério Público que solicitou a libertação.
Geert Wilders foi processado por ter comparado o Corão à obra "Mein Kampf", de Adolf Hitler, e por ter exortado os muçulmanos a adoptarem a "cultura dominante" ou então a saírem do país, em comentários feitos entre 2006 e 2008 em jornais holandeses, em fóruns na internet e nos 17 minutos do seu filme "Fitna" ("discórdia" em árabe).
À saída do tribunal, Wilders, de 47 anos, revelou à imprensa estrangeira que estava "extremamente feliz e satisfeito" e considerou que esta decisão foi "uma vitória para a liberdade de expressão".
"Enquanto eu viver, vou continuar a expressar-me", assegurou o líder do Partido para a Liberdade (PVV), que suporta no Parlamento o Governo liberal do primeiro-ministro Mark Rutte, salientando que a decisão "significa que é legal criticar o Islão".
A promotoria tinha decidido a 30 de Junho de 2008 não processar o deputado na sequência das queixas apresentadas contra ele. Mas o Tribunal de Recurso de Amesterdão obrigou, a 21 de Janeiro de 2009, ao seguimento do processo, no qual Geert Wilders arriscava até um ano de prisão ou uma multa de 7.600 euros (perto de 11 mil dólares).
O que estes dois casos revelam é a hipocrisia reinante no ocidente.
O direito à liberdade de expressão invocado pelo juiz holandês parece não se aplicar a John Galliano. Não porque em Paris esse direito não seja salvaguardado, mas porque o objecto da expressão desse direito é tabu.
O ocidente aceita que se produza todo o tipo de afirmações sobre o Islão, mas não aceita que se fale, a não ser em termos condenatórios, sobre Hitler e as doutrinas que o levaram a conduzir o maior holocausto da História.
Da mesma forma, o ocidente é compassivo com insultos contra muçulmanos e reactivo com injúrias anti-semitas. E é indulgente com os atentados aos direitos humanos cometidos nos países alinhados e intolerante contra os que são praticados nos estados hostis.
Só assim se justifica que há muito tenha sido desencadeada uma ofensiva contra a Líbia, enquanto na Síria o regime de Bashar al-Assad atira a matar contra os seus cidadãos e o ocidente assobia para o lado.
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