Em 2006, combatentes capturaram um soldado do lado oposto. A captura desencadeou um ataque de retaliação contra alvos civis, condenado internacionalmente, e uma escalada de violência num conflito que se arrasta há décadas. Cinco anos depois, o soldado vai ser libertado em troca de 1.027 prisioneiros.
Como não tinha na sua posse uma foto actualizada de um dos homens mais procurados do mundo, o FBI usou a fotografia de um deputado de outro país, com semelhanças físicas, para traçar um retrato-robot do fugitivo e difundiu o esboço pelo mundo inteiro.
Estes poderiam ser três argumentos para três filmes de Hollywood, mas não. São histórias reais conhecidas esta semana e que, mais uma vez, demonstram que a ficção não dá cartas à realidade e esta tem ingredientes que cheguem para prender a atenção do mais exigente cinéfilo.
A primeira história foi conhecida esta semana. O secretário da Justiça norte-americano, Eric Holder, anunciou na terça-feira que dois cidadãos iranianos foram acusados de tentativa de assassínio do embaixador da Arábia Saudita em Washington, Abdel Al-Jubeir, um conselheiro próximo do rei Abdullah.
A suposta conspiração envolve, segundo Holder, as Brigadas de Al-Qods, um comando ligado aos Guardas da Revolução, o corpo de elite da República Islâmica do Irão. Foi, segundo os americanos, uma conspiração concebida, organizada e dirigida pelo Irão.
A acusação afirma que os dois iranianos contrataram um homem no México para cometer o crime. O alegado assassino era um informador pago da agência norte-americana de luta contra o tráfico de droga (U.S. Drug Enforcement Agency). O plano incluía ainda ataques bombistas posteriores contra as embaixadas da Arábia Saudita e de Israel em Washington.
O Irão recusou as acusações norte-americanas. Numa carta enviada nesse mesmo dia à ONU, o representante do Irão junto da organização, Mohammad Khazaee, qualificou as acusações norte-americanas de “conspiração diabólica”, em linha com a “sua política anti-iraniana”.
Os iranianos disseram ainda tratar-se de uma “intriga sem fundamento” que pretende “desviar a atenção da opinião pública mundial do movimento anti-Wall Street e dos fracassos dos Estados Unidos na região e no mundo”.
Ao estilo do filme norte-americano o «Resgate do soldado Ryan», Israel conseguiu esta semana negociar o regresso a casa do soldado israelita Gilad Shalit, detido na Faixa de Gaza, no dia 25 de Junho de 2006.
O acordo de libertação foi alcançado terça-feira entre Israel e o movimento Hamas. Em troca de Gilad, Israel vai libertar 1.027 prisioneiros palestinianos, dos quais 280 estão a cumprir prisão perpétua por homicídio.
É, sem dúvida, uma vitória da “resistência palestiniana” contra a “arrogância israelita”, como a define o grupo xiita radical libanês Hezbollah. E simboliza a “perseverança para alcançar a independência” dos palestinianos, sublinha a Liga Árabe.
O soldado, então com 20 anos de idade, é que não está muito contente e terá afirmado aos seus captores que vai processar Israel pelo atraso na conclusão do acordo, que o obrigou a estar cativo durante cinco anos.
O esboço de uma fotografia do deputado espanhol Gaspar Llamazares, conhecido pelas suas posições anti-norte-americanas, circulou pelo mundo inteiro como se de Osama Bin Laden se tratasse.
Em 2010, a Polícia Federal Americana (FBI) pegou numa fotografia pessoal do deputado da formação comunista-ecologista e usou-a para desenhar um retrato-robot do inimigo número 1 da América, capturado e morto em Março deste ano.
Como do FBI o parlamentar obteve apenas uma “pequena desculpa”, Llamazares avançou com um processo judicial contra a Polícia Federal, entretanto encalhado. Os gabinetes de advogados norte-americanos com quem mantinha contactos desistiram do caso e Gaspar viu-se obrigado a recorrer à ajuda de juristas espanhóis que já têm o caso em mãos.
Aos argumentistas estas três histórias oferecem ingredientes suficientes para uma trilogia, que combina protagonistas, espaços e motivos comuns. Israel, Estados Unidos e Irão juntos na trama e num enredo incomum de atropelos e injustiças que um dia a História julgará devidamente.
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