Em 2007 ganhou as eleições, à segunda volta, com 73 por cento dos votos, deixando o candidato da Fretilin, Francisco Guterres Lu Olo, muito atrás com 27 por cento.
Nas presidenciais de 2012, Ramos Horta caiu a pique. O ex-Nobel da Paz não passou dos 17,81 por cento, ficando-se por um terceiro lugar, que o afastou da corrida presidencial, enquanto Lu Olo se posicionou no primeiro lugar, com 28,48 por cento dos votos, à frente do ex-chefe das Forças Armadas, o general Taur Matan Ruak, que, com o candidato derrotado em 2007, vai disputar a segunda volta, na terceira semana de Abril.
Tornou-se nas últimas semanas evidente que Ramos Horta era uma carta fora do baralho nas terceiras eleições presidenciais em Timor Leste. Mas a pesada derrota que sofreu surpreendeu o mundo. Tanto mais que pesa sobre um Presidente em exercício e uma das bandeiras de Timor, laureado com o Prémio Nobel da Paz em 2006, juntamente com o então Bispo de Díli Dom Ximenes Belo.
A derrota parece que só não surpreendeu o vencido Presidente e o eleitorado que, em massa, lhe mostrou um cartão vermelho. Ramos Horta partiu para a corrida em branco. Recusou fazer campanha, limitando-se a comparecer nalguns, poucos, eventos da sua agenda presidencial, e, à boca das urnas, assumiu-se como um candidato prostrado.
“Se perder é uma vitória porque ganho a minha liberdade pessoal”, afirmou Horta, durante uma conversa com a imprensa nacional e estrangeira, depois de votar.
Este comentário saído da boca de um Presidente que se apresenta ao eleitorado para um segundo mandato tem muito pouco sentido de Estado. Pela importância do cargo, mesmo num país em que o chefe de Estado não tem funções executivas, a frase é leviana e revela falta de tacto político.
Ramos Horta tem todo o direito de sentir que já deu o que tinha a dar ao seu país e de se retirar, como muitos presidentes fizeram, deixando caminho livre para outros candidatos, com maior vontade e determinação. O que hipoteca o seu capital político é a forma como se deixou arrastar num acto de extrema importância para a vida de um Estado, sobretudo num país novo que ainda não tem as suas instituições suficientemente normalizadas.
Na mesma conversa com os jornalistas, que manteve ao longo de 45 minutos, o ainda Presidente justificou o apoio que o primeiro ministro Xanana Gusmão deu ao candidato Taur Matan Ruak (em 2007, Xanana apoiou Ramos Horta) com a sua falta de “motivação pessoal” para continuar.
“Eu não tinha (motivação), mas 120 mil pessoas subscreveram uma petição autenticada, eu inscrevi-me, disse que não faria campanha e fiz muito pouco como sabem, mas se for reeleito estarei mais do que motivado para honrar a confiança do povo”, explicou o ex-Nobel da Paz.
As contas não batem certo, nem Ramos Horta honrou a confiança do povo.
Ao recusar fazer campanha, o Presidente manifestou desprezo pelos eleitores e talvez isso (para ser benévola) justifique o facto de ter tido menos votos (80.291) do que as assinaturas constantes na petição pela sua recandidatura.
Esta não é, de resto, a única dissonância no percurso político de Ramos Horta.
Em 2009, ano do décimo aniversário do referendo que abriu portas à independência de Timor, Horta espantou com as suas declarações públicas.
Primeiro manifestou-se ressentido com um comunicado da Amnistia Internacional a solicitar ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que estabeleça um tribunal criminal com jurisdição sobre as violações cometidas por altura do referendo de 1999, em que 78,5 por cento da população de Timor-Leste optou pela independência face à Indonésia.
Depois, para justificar o ressentimento contra a Amnistia Internacional, insistiu na ideia de que os “indonésios, com a sua própria agenda, julgarão eventualmente – sublinho o eventualmente - os que são responsáveis por crimes”, declarando não apoiar nenhuma investigação internacional sobre o que se passou em Timor sob o jugo do vizinho gigante que, nos 24 anos de ocupação, dizimou quase um terço da população timorense.
Finalmente, e na mesma semana, o Presidente da República de Timor Leste declarou o apoio do seu país à “política de uma só China”, argumentando que a “reunificação de Macau e Hong-Kong são exemplos claros de que a China sabe encontrar soluções para as situações injustas e anacrónicas que resultam dos acidentes da História”.
No espaço de poucos dias, Horta hipotecou todo um passado de luta e pôs em cheque a sua coerência política.
Essa talvez tenha sido a verdadeira motivação dos eleitores ao recusar-lhe o voto.
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