segunda-feira, 16 de abril de 2012

É bom ser simpático (crónica publicada no Novo Jornal)*

Uma equipa de investigadores norte-americanos realizou uma experiência que aponta para uma ligação entre a simpatia das pessoas e a sua genética.
Com medo de interpretações abusivas, os cientistas tiveram o cuidado de avisar que não descobriram "um gene da simpatia", mas que o ADN ajuda a explicar os comportamentos ligados à generosidade, a preocupação pelos outros e a participação cívica.

Atitudes presentes em cada vez menos seres humanos e que podem vir a ter utilidade, caso se pretenda aumentar o número de espécies simpáticas.
A conclusão é minha. É abusiva? Pois claro que é, mas ainda não é proibido sonhar.
A investigação, chefiada por Michel Putin, teve como ponto de partida o conhecimento de que há hormonas (como a oxitocina ou vasopressina) a funcionar nestes comportamentos sociais e que estas moléculas funcionam ligando-se às células através de receptores, que têm várias formas, ditadas pela genética do indivíduo.
Isto quer dizer que a exposição à oxitocina, presente nos comportamentos maternais, aumenta a sociabilidade.
E como é que os investigadores chegaram a este resultado?
Recolheram a saliva de 711 voluntários e analisaram a forma dos receptores de oxitocina e vasopressina, associando esta informação a um questionário sobre se as pessoas consideravam o mundo ameaçador. Aos resultados foi acrescentada informação sobre a sua participação comunitária e grau de envolvimento cívico.
A conclusão não é, propriamente óbvia, mas também não é inesperada. As pessoas que consideravam o mundo ameaçador revelaram ser menos solidárias, excepto se tivessem versões dos receptores que se sabe estarem associados à simpatia. Ou seja, certas versões dos receptores ajudavam a vencer a percepção do mundo ameaçador, levando as pessoas a ajudar mais os outros.
O trabalho «Neurogenética da Simpatia», desenvolvido por uma equipa de cientistas das universidades de Buffalo e da Califórnia, Irvine, nos EUA, foi publicado na revista especializada Psychological Science. E pode ser um estímulo para o altruísmo. Poderá também ser útil para ajudar a encontrar uma terapêutica para os rezingões, aqueles que teimam em ver o mundo negro e a moldá-lo à medida das suas conveniências.
Para aumentar a utilidade desta investigação, os cientistas podem usar o mapa da felicidade traçado pela ONU, no primeiro Relatório Mundial sobre Felicidade, e assim saber com maior exactidão onde actuar.
O estudo, que envolveu 156 países, chegou a conclusões, menos surpreendentes dos que as da primeira investigação.
No topo da lista dos mais felizes estão países como a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega. Nos antípodas estão os países da África Subsariana. Os cidadãos do Togo, Benim e República Centro-Africana são os mais infelizes.
Não era preciso consumir recursos, nem gastar anos de trabalho para chegar a estas conclusões. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que o grau de felicidade dos cidadãos está intimamente relacionado com o grau de satisfação das suas necessidades.
Factores como a riqueza, condições económicas, o trabalho e bem-estar, a liberdade política, ausência de corrupção e os laços sociais, além de factores pessoais, onde se incluem a educação e saúde, elevam o grau de felicidade e, por isso, foram tidos em conta na investigação da ONU.
Em matéria de estudos, a semana que finda é prolífera.
Outra pesquisa conclui que mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo são afectadas por demência, o que não é difícil de entender tendo em conta os relatos de actos de loucura que os órgãos de comunicação social noticiam diariamente.
A inquietação aumenta quando o estudo revela que o número pode duplicar em 2030 e mais do que triplicar em 2050, levando a questionar qual a causa de desproporcional subida.
Segundo o estudo da Organização Mundial de Saúde, que aponta a falta de informação sobre o problema (talvez isso justifique o exponencial aumento da demência nas próximas décadas), a doença não é discriminatória: ela atinge toda a população do planeta. Porém, mais de metade (58%) das pessoas com demência vive em países com baixo ou médio rendimento e em 2050 essa percentagem deverá subir aos 70%.
Não é complicado perceber porquê. Com tantas dificuldades diárias não é difícil enlouquecer e, com tão poucos recursos financeiros, não é fácil atenuar o impacto da patologia que, actualmente, tem custos estimados em 604 mil milhões de dólares por ano, empregues em tratamentos e cuidados com os doentes.
O que é que há de novo nestes estudos? Nada, nem a constatação de que a simpatia traz dividendos: a quem a oferece e a quem a recebe.

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