segunda-feira, 15 de abril de 2013

Um homem, apenas! (crónica publicada no Novo Jornal*)

Activistas dos direitos humanos passaram a pente fino imagens de manifestações de apoio ao Presidente da Síria, Bashar al-Assad, que há mais de um ano trava uma guerra sanguinária para oprimir os protestos no país, e encontraram um emplastro.
Trata-se de um homem que aparece sempre que há um ajuntamento de apoio a al-Assad.
Sempre que as câmaras são da televisão oficial, fiel ao regime de Bashar, o fervoroso apoiante acaba invariavelmente por prestar declarações, em nome do “povo sírio” e contra os “terroristas”. Quando se trata de televisões estrangeiras, limita-se a surgir como mirone.
Na primeira vez que a presença deste homem foi notada corria o mês de Maio de 2012. Os activistas descreveram-no então como membro das milícias Shabiha. Dois meses depois, um activista da Hama deu conta da presença deste defensor de Assad num comício de apoio ao Presidente sírio, em Damasco, e assinalou duas entrevistas dadas por ele no mesmo evento. Nesse mês de Julho, foi feita uma compilação com 18 eventos onde o emplastro aparece.
Na segunda-feira, após um atentado suicida em Damasco, que causou 15 mortos e mais de 50 feridos, lá surgiu ele novamente, de fato e gravata. Foi aí que os activistas resolveram rever todas as gravações sobre o conflito da Síria, que já fez mais de 70 mil mortos, para desfiar o novelo desta misteriosa personagem.
Os activistas fizeram uma nova colecção com as aparições do “mais indignado transeunte da televisão síria”, como lhe chama o «The New York Times». O registo acaba por ter um tom cómico, dada a quantidade de vezes que surge no écran, ora envergando fato e gravata, ora um uniforme do Exército, umas vezes surgindo de boné, outras optando por uma boina. A barba e os contornos do rosto não deixam margem para dúvida, mesmo que nalguns registos o homem surja de óculos escuros.
“Ignorem os talentos do tipo, isto diz-nos é quantos apoiantes o regime tem… uma ‘mão cheia’ que têm de estar em cada sítio”, comentou no Facebook o fotógrafo sírio a viver em França Allaf Ammar Abd Rabbo.
A receita do apoiante do Presidente sírio pode vir a revelar-se eficaz para o que ai vem e que é explicado no estudo de uma investigadora australiana.
Jennifer Graves descobriu que, dada a fragilidade do cromossoma y, o sexo masculino está em risco de extinção. Sim, leu bem. O homem está em risco de sumir!
Pois bem. A investigadora da Universidade de Camberra chegou à conclusão que o desaparecimento do cromossoma Y é um “acidente evolutivo”.
Jennifer, que apresentou a sua investigação numa palestra da Academia Australiana de Ciência, realizada sob o tema «O Declínio e a Queda do Cromossoma Y e o Futuro do Homem», ainda não sabe muito bem o que vai acontecer quando o cromossoma Y desaparecer totalmente. Mas estabelece uma analogia com uma espécie de roedor que vive no Japão, que consegue reproduzir-se sem o respectivo cromossoma.
Tendo em conta que os homens têm cromossomas XY e as mulheres XX, a cientista considera que a estrutura do Y apresenta-se mais frágil do que a do X, até porque o cromossoma Y hoje tem menos de 100 genes, quando há três milhões de anos tinha cerca de 1.400. Vai daí, Jennifer conclui que este facto tem consequências na espécie.
De qualquer forma não há razões para pânico, pelo menos por agora. Ainda faltam uns bons milhões de anos para testar a falibilidade da teoria de Graves. E pode ser que até lá a desintegração do cromossoma Y leve ao surgimento de outro cromossoma, que desempenhe o seu papel, originando assim uma nova espécie, como a própria investigadora admite para sossego de todos, homens e mulheres.
Enquanto não se põe à prova o estudo da investigadora australiana seria bom admitir a extinção dos homens, mas apenas dos estúpidos, com efeitos retroactivos de uma década.
Podia ser que assim se impedisse a decisão imbecil de atacar o Iraque, o que dispensava os países que se aliaram aos EUA para legitimar a invasão de terem de passar os 10 anos seguintes a desculparem-se com erros de avaliação, baseados em informações incorrectas.
Não só se concluiu que o Iraque não tinha armas químicas, como não se instaurou a democracia no país, razões que justificaram a invasão. E ainda se mataram mais de 174 mil pessoas, 110 mil das quais civis, segundo a contabilidade do Iraq Body Count, e se destruiu um país. Com base, apenas, na decisão estúpida de um homem.

*publicada no dia 12 de Abril

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