No momento em que se assinalam 13 anos sobre os atentados de 11 de Setembro
de 2001, nos EUA, a senadora Kirsten Gillibrand e três deputados pelo Estado de
Nova Iorque, anunciaram a intenção de pedir ao Congresso americano que estenda
até 2041 o programa federal que prevê tratamentos e subsídios aos que
participaram nas operações de resgate nos escombros das torres gémeas, em
Manhattan, após o embate de dois aviões.
Mais de 40 mil pessoas já participam no programa – duas mil já receberam
indemnizações, num montante superior a 130 milhões de dólares – mas teme-se que
o número de voluntários afectados seja muito maior. Isto porque parte das
doenças registadas, como cancros, problemas respiratórios e distúrbios
psicológicos, podem surgir muito anos depois do acontecimento que desencadeou
esses traumas.
A luta dos heróis anónimos do 11 de Setembro para recuperar das mazelas do
maior atentado terrorista da história não tem sido fácil. Lutam contra os
fantasmas do drama, que matou perto de três mil cidadãos de mais de 70 países,
só nas torres gémeas, alguns eram colegas seus que participavam nas operações
de salvamento. E lutam também contra os obstáculos erguidos pelo governo
americano para obterem reconhecimento como vítimas do 11 de Setembro.
Em Julho de 2011, 10 anos depois dos atentados, o governo dos EUA publicou
um estudo do Instituto para a Segurança e Saúde Ocupacional, que descartava a
ligação entre os ataques às Torres Gémeas e o cancro suscitando a indignação
das associações de vítimas do 11 de Setembro.
John Feal, presidente da Fundação «FealGood», que defende os direitos dos
socorristas que intervieram nos resgates, fez-se porta-voz da revolta: “Não é
preciso ser médico ou especialista para perceber que existe uma relação directa
entre os casos de cancro e os fumos e cinzas do 11 de Setembro”.
Só nesse ano, John assistiu ao funeral de 53 pessoas que morreram vítimas
de doenças contraídas depois do embate dos dois aviões contra as torres gémeas,
no coração de Manhattan.
Um estudo publicado na revista científica «The Lancet», também em 2011,
contrariou as análises do governo, ao concluir que os bombeiros que responderam
às chamadas de emergência depois dos atentados sofrem, desde então, mais de
cancro.
O estudo teve por base uma investigação a cargo do Departamento de
Bombeiros de Nova Iorque. O chefe dos serviços médicos dos bombeiros de Nova
Iorque, David Prezant, examinou, nos sete anos anteriores, o historial clínico
de 11 mil operacionais e oficiais de corporações que trabalharam durante o 11
de Setembro e comparou os dados com os que haviam sido obtidos com os mesmos
funcionários antes dos atentados. Se havia margem para dúvida, deixou de haver.
Os casos de leucemia aumentaram entre os bombeiros que trabalharam na «zona zero».
As evidências que já existiam antes levaram à aprovação da lei de 2010, que
regulamenta o programa federal que prevê tratamento e subsídios para os que
contraíram doenças e que foi baptizada com o nome de James Zadroga, em
homenagem a um polícia que participou nas operações de resgate e que morreu com
uma doença respiratória.
Dados recentes reforçam as preocupações. O centro do Hospital Mount Sinai,
em Nova Iorque – que atendeu mais de 37 mil pessoas que participaram nos
resgates, desde 2002 – divulgou que, até Julho, pelo menos, 1.646 casos de
cancro poderiam estar relacionados com o trabalho realizado após os atentados.
Muitos deles devem-se à poeira tóxica que desencadeou leucemias, mielomas e
cancros do pulmão e da tiroide.
O receio de que mais casos possam vir a desenvolver-se com o envelhecimento
dos voluntários e agentes levou a senadora Kirsten Gillibrand a lançar o apelo
ao congresso. Três deputados juntaram a sua voz para que a lei de 2010 não
expire em 2016, como está previsto, e para que o prazo seja prorrogado, pelo
menos, até 2041, para que possa contemplar todos os heróis de 11 de Setembro, a
maioria dos quais anónimos.
É que não basta evocá-los. É preciso dar-lhes a mão, como eles fizeram
quando as torres gémeas desmoronaram e, com elas, caiu a noção de segurança que
até aí o mundo tinha.
*Publicada no dia 12 de Setembro de 2014
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