No Japão o celibato é um caso sério. E está a pôr em causa a
própria existência do país.
No espaço de 40 anos, o país passará de 126 milhões de
habitantes para 86 milhões. E poderá juntar-se à vizinha Coreia do Sul.
Projecções da Assembleia Nacional de Seul alertam que a Coreia do Sul poderá
ficar sem habitantes até 2750, a manterem-se os actuais índices populacionais, que
revelam uma quebra demográfica severa.
Qualquer das ofertas poucos efeitos tem produzido. Nos
últimos 20 anos, só um habitante desembarcou em MIshima; nas outras povoações,
a curva da natalidade continua em baixa acentuada.
Em muitos pontos do globo, os países confrontam-se com a
concentração de pessoas nos grandes centros e o despovoamento do interior. Mas
o problema no Japão é pior. A nova geração tem horror aos relacionamentos. Coloca
os estudos e as carreiras profissionais em primeiro plano. Muitos ficam-se por aí
e optam pelo celibato. Um fenómeno que atinge homens e mulheres.
Consciente de que o “síndrome do celibato” pode
transformar-se numa catástrofe, o governo nipónico resolveu meter mãos à obra e
dar números ao fenómeno. Um estudo realizado em 2012 revelou que um terço das
pessoas com menos de 30 anos nunca teve qualquer tipo de experiência amorosa. E
os japoneses com menos de 40 anos perdem o interesse pelos relacionamentos
convencionais.
Uma pesquisa realizada um ano antes revelou que 61% dos
homens e 49% das mulheres, entre os 18 e os 34 anos, não mantinham qualquer
relação amorosa. Em 2012, o número de bebés nascidos no país foi o menor desde
que há registos. As vendas de fraldas geriátricas ultrapassaram as de fraldas
para bebés, pela primeira vez. Já nesse ano, soou o alarme. A crise demográfica
é tão grave que o Japão “pode eventualmente acabar em extinção”, afirmou Kunio
Kitamura, da Associação de Planeamento Familiar.
O problema acabou por abrir nichos de negócio. Surgiram os
conselheiros de sexo e relacionamento, maioritariamente femininos, com a missão
de ajudar os japoneses a “entender o modo como o corpo do ser humano real
funciona”. Ai Aoyama, de 52 anos, é uma dessas conselheiras. Esta ex-dominadora,
de aparência jovem e sedutora, recebe homens, em maior número, mas também
mulheres. Não há qualquer tipo de relação sexual durante o seu trabalho. Por
vezes, pode despir-se para os homens, mas só para guiá-los fisicamente. Mesmo
assim, Ai não tem tido a vida facilitada. Ela cita um cliente, de 30 anos,
ainda virgem, que só fica excitado quando vê robôs femininos em jogos.
Os homens com este tipo de preferência até já têm nome no
Japão. São os Otakus. Gostam mais de literatura manga (banda desenhada japonesa)
e de jogos nos computadores. Preferem namoradas virtuais às reais. Kunio
Kitamara descreve estes japoneses como “herbívoros passivos e sem desejo
carnal”.
Os Otaku vivem uma vida sedentária e com pouca interação com
o sexo oposto. Muitos destes jovens são tão tímidos e têm tantas carências afectivas
que levaram à criação de um novo serviço. Por 32 dólares podem deitar-se ao
lado de uma rapariga, durante 20 minutos. Uma noite pode chegar aos 400
dólares. Quer num, quer noutro caso não há qualquer contacto físico.
Em 2008, o Japão lançou um pequeno robô, com traços
femininos, que beija quando recebe uma ordem. Esta semana, os japoneses
lançaram uma cadeira, em forma de boneca, que dá abraços, lembra as horas dos
medicamentos e das idas à casa de banho.
A «cadeira da tranquilidade» ainda não está a venda, mas
revela a preocupação dos japoneses em lutar contra a solidão. Uma luta que está
a ser mal dirigida. Em vez de aparelhos, as autoridades nipónicas deviam
preocupar-se em ensinar os japoneses a pedir, ou a oferecer, um abraço.
*Publicada no dia 3 de Outubro de 2014
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