Execuções públicas de mulheres em Raqqa, na Síria
Em 2014, Haruna Yukawa viveu um ano trágico. No espaço de
poucos meses, a mulher morreu de cancro e ele ficou falido. Tentou o suicídio,
mas como não foi bem-sucedido resolveu ir para a Síria. Talvez encontrasse no
meio do caos um sentido para a sua vida.
Finda a sua missão na cobertura da guerra, Kenji regressou
ao Japão. Haruna voltou para a Síria e, em Agosto, foi sequestrado por
elementos do autoproclamado Estado Islâmico. Quando soube do sequestro do
amigo, Goto apanhou um avião em direcção à Síria, numa tentativa de lhe salvar
a vida.
A 25 de Outubro, Kenji enviou uma mensagem em vídeo a amigos,
onde dizia que tinha atravessado a fronteira da Turquia com a Síria em
segurança e dirigia-se para Raqqa, capital do autoproclamado califado. “Aconteça
o que acontecer, isto é da minha responsabilidade”, afirmou o jornalista,
olhando para a câmara que registava pela última vez a sua imagem em liberdade.
Esta semana, Haruna e Kenji aparecem num vídeo do EI, onde
um homem vestido de negro, com uma faca na mão, ameaça matar os dois se o
governo japonês não pagar um resgate de 200 milhões de dólares.
A história dos dois amigos é revelada pela agência de
notícias Reuters. A ameaça do EI foi difundida em todo o mundo, mas até hoje
não vi uma única manifestação de muçulmanos contra a violência dos jihadistas,
que é contrária aos valores de qualquer religião que proclame o amor ao
próximo.
Também esta semana, foram divulgadas imagens que mostram
duas mulheres a serem executadas publicamente por homens suspeitos de pertencer
ao braço sírio da al-Qaeda, al Nusra, grupo rival do Estado Islâmico que tenta
proclamar um Emirado Islâmico no norte da Síria.
Um dos vídeos é divulgado pelo site de activistas “Raqqa Is
Being Slaughtered», que tem relatado as condições de vida e os crimes
praticados na Síria pelos jihadistas. Num dos vídeos vê-se uma mulher coberta
de negro, ajoelhada, cara virada para o chão. Atrás de si dois homens de pé. À
sua frente outro homem vai arengando uma lenga-lenga (segundo a descrição dos
activistas com acusações de adultério), enquanto a população, sobretudo
masculina, se movimenta de um lado para o outro. Assim que o homem se cala, o
que está atrás dispara um tiro na cabeça da mulher. O seu corpo tomba no
asfalto.
No outro vídeo, vê-se um grupo de homens a interpelar uma
mulher no passeio. Um deles começa a falar. A mulher contesta - percebe-se pelo
seu tom de voz – mas depois cala-se. Fica a ouvir de pé, enquanto vários homens
de metralhadora ao ombro a rodeiam. Um homem começa a ladainha, outro filma a
cena num aparelho de telemóvel. A mulher ajoelha-se. De vez em quando, ela
interrompe. A ladainha prolonga-se por um minuto e 20 segundos, findo os quais
se ouve um disparo. O corpo da mulher tomba sobre o passeio e projecta-se para
a estrada.
As imagens chocam pela barbárie. Um espectáculo indigno. Não
vi em nenhum lugar do mundo, quer na Ásia, na Europa, no Médio Oriente ou em
África imagens de muçulmanos indignados com este acto repugnante em nome da fé
islâmica.
Num vídeo exibido esta semana, o líder do grupo Boko Haram
reivindicou a autoria do ataque na cidade nigeriana de Baga, no nordeste do
país. Abubakar Shekau não se limita a reivindicar a autoria do atentado que
deixou um rasto de milhares de mortos, quer em Baga, quer nos arredores. Ameaça
fazer mais ataques na Nigéria e nos países vizinhos, numa altura em que se
desenrolam negociações para a constituição de uma força para combater o Boko
Haram, que, desde 2009, aterroriza a Nigéria, obrigando mais de um milhão de pessoas
a abandonar o norte do país.
“Matámos as pessoas de Baga. Matámo-las como o nosso Senhor
nos instruiu no Seu Livro”, afirmou Shekau, num discurso de 35 minutos,
colocado no Youtube.
Não vi ainda, um único crente do islão a levantar a voz para
denunciar o ultraje de quem invoca o seu profeta para matar. Não ouvi, nem vi grupos
de muçulmanos erguerem-se contra qualquer um destes atentados aos valores que
são de todos os seres humanos, independentemente da religião que professam.
Estas imagens são as verdadeiras caricaturas que ofendem
Maomé.
*Publicada no dia 23 de Janeiro de 2015
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