A ciência é uma das maravilhas do mundo e, nos últimos anos, tem avançado a um ritmo alucinante fazendo da ficção científica um conceito obsoleto.
Há, no entanto, domínios onde a ciência é de difícil penetração e aquilo que ela proporciona gerador de desordem. Resistência. Condenação.
A religião é um deles. O casamento entre a ciência e a religião dificilmente se dá, a não ser quando a primeira serve os interesses da segunda.
Foi assim no século 17, quando em plena Inquisição, Galileu Galilei declarou que o Sol é o centro imóvel do universo e a terra girava em torno dele. A teoria heliocêntrica do pai da ciência moderna foi considerada herética pela Igreja Católica, que se debatia com o avanço do protestantismo nos países baixos. E Galileu foi condenado pelo Tribunal do Santo Ofício por desobediência e por proferir conteúdos contra a Doutrina a pena de prisão, posteriormente comutada a confinamento, traduzida hoje por prisão domiciliária.
Com o universo astronómico bem definido no século 20, foi possível criar o GPS. Instrumento de navegação que serve também a fé, mas que tem levado alguns peregrinos do santuário mariano de Lourdes, em França, ao destino errado.
Não porque as coordenadas estejam erradas, mas porque os crentes se enganam quando dão indicações ao aparelho. A diferença, segundo o jornal britânico «The Guardian» está no “s” existente no santuário, que todos os anos recebe seis milhões de peregrinos, e ausente em Lourde, povoação que fica 92 quilómetros a Oeste.
Os 94 habitantes desta pequena aldeia francesa já se habituaram à confusão e até se divertem, embora pouco proveito tirem do fervor religioso. “De há dois anos para cá cada vez mais gente se engana. Temos espanhóis, holandeses, belgas e franceses. É a prova de que não sabem usar a tecnologia”, reagiu um popular citado pelo diário britânico.
Quem dispensa a orientação da tecnologia nas coordenadas que emana para o seio da sua igreja é o Vaticano. Apesar dos percalços, mantém-se firme nos seus dogmas, provando que em matéria de coerência não há quem lhe dê lições.
Num mesmo documento, divulgado em Julho, o Vaticano anuncia uma alteração às regras da lei canónica para facilitar a punição dos padres que abusaram sexualmente de menores e coloca no mesmo patamar dos sacerdotes pedófilos a ordenação de mulheres como padres.
Traduzindo: para o Vaticano a ordenação de mulheres é um dos crimes mais graves, estando ao nível da heresia, do cisma e da pedofilia, por isso, sujeito a excomunhão da mulher ordenada e do bispo que a tentar ordenar.
Um especialista em religião do «The Guardian» qualifica a decisão do Vaticano de misturar as duas coisas num mesmo documento como “uma catástrofe de relações públicas”, argumentando que é “uma conjugação que não vai cair bem no mundo exterior” e que “um organismo que tivesse alguma noção de relações públicas publicaria as duas revisões separadamente”.
Apesar de crescer o número de vozes que defendem o sacerdócio feminino (nos EUA uma sondagem, em Maio, revelou que 59 por cento de católicos são a favor), o Vaticano quer manter as mulheres na sacristia. Admite que ela suba ao púlpito para celebrar eucaristia, como solução de recurso para a falta de sacerdotes, mas nunca como solução definitiva, em nome de um dogma que continua a subalternizar as mulheres. E que fica institucionalizado como “delito grave contra a fé”, nas palavras do porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, punido com pena de excomunhão.
Em nome do quê é que fica por explicar, permanecendo como um dos poucos dilemas por esclarecer, desde que há pouco mais de uma semana, cientistas da Universidade de Sheffield e Warwich esclareceram uma das maiores dúvidas que havia - quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha.
Acreditava-se até há bem pouco tempo que seria o ovo, graças à evolução que teria permitido que dois animais semelhantes (sem serem galinhas) teriam cruzado e originado um ovo que se tornaria a primeira galinha.
Os cientistas dizem agora que não. A galinha veio primeiro, porque a formação da casca do ovo depende de uma proteína que só é encontrada nos ovários das galinhas.
“Há muito que se suspeita que o ovo veio primeiro, mas agora temos a prova científica de que, na verdade, a galinha foi a precursora”, afirmou Colin Freeman, do Departamento de Engenharia Material da Universidade de Sheffield.
O seu colega John Harding acredita que o estudo poderá servir como base para novas pesquisas, sublinhando: “A cada dia a natureza mostra-nos as suas soluções inovadoras para todo o tipo de problema que ela encontra. Isso só comprova que podemos aprender muito com ela”.
Vaticano incluído.
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