domingo, 29 de maio de 2011

Do outro mundo (crónica publicada no Novo Jornal)

Em 1969, Neil Armstrong, ao pisar a lua, afirmou que aquele era “um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para a humanidade”.
A frase ecoou pelo mundo e passou a fazer parte dos anais da história. Mas o passo de gigante de Armstrong arrisca-se a ser relegado para segundo plano. Esse é o desafio da «New Scientist». A revista lançou um desafio aos seus leitores para encontrar as melhores palavras para serem ditas quando o homem pisar Marte.


A frase só deverá ser dita daqui a pouco menos de 20 anos – o editor da revista, Roger Highfield, estima que o homem seja capaz de pisar Marte em 2030 – mas os candidatos têm apenas mais cinco dias para responder ao desafio.
Quase duas mil pessoas já concorreram e espera-se que na recta final – o prazo termina a 31 de Maio - haja mais candidatos ao prémio que é do outro mundo. O autor da frase vencedora tem direito a um meteorito do planeta vermelho.
Do outro mundo parece ser o amor que “deflagrou” numa jovem chinesa de Wuhan, capital da província de Hubei.
Um motorista de autocarro daquela cidade viu-se obrigado a chamar a polícia para impedir que a jovem o persiga e lhe faça declarações de amor.
A perseguição começou no dia 9 de Maio, quando Wen, o condutor de 37 anos de idade, respondeu ao pedido da mulher, de 23 anos, e deu-lhe o seu número de telefone, pensando tratar-se de uma superior sua.
Desde aí a mulher passou a apanhar o autocarro de Wen todos os dias, declarando-lhe o seu amor. Cansado de tanto afecto, o homem deixou de falar com ela e a mulher mudou de estratégia. Passou a esperá-lo na central de autocarros.
No dia 12 de Maio, já em desespero de causa, Wen mandou a pretendente para casa e pediu à família da jovem para que esta o deixasse de seguir. Em vão. No dia seguinte, a rapariga voltou à carga e Wen chamou a polícia.
Só que as autoridades não puderam intervir, porque a mulher não fez qualquer tentativa de agressão. O homem vai ter de engendrar, sozinho, manobras para despistar tanto fervor amoroso.
Embora, na esmagadora maioria dos países, seja uma cena comum no quotidiano diário, na Arábia Saudita dá direito a detenção uma mulher ser apanhada a conduzir em público.
Foi o que aconteceu a Manal al-Sharif, uma consultora informática de 32 anos, que quis quebrar uma das muitas barreiras que amordaçam as mulheres no seu país.
A activista, que foi detida no sábado, em Khobar, no leste da Arábia Saudita, não se limitou a conduzir. Colocou no Youtube um vídeo em que aparece ao volante do automóvel e lançou, com outras mulheres, uma campanha na rede social Facebook pelo direito das mulheres a conduzir.
Descontente com a detenção, a organização dos direitos humanos Human Rights Watch pediu na quarta-feira a libertação da mulher e não poupou na adjectivação.
“O rei Abdallah deve ordenar imediatamente a libertação de Manal al-Sharif e suspender a proibição de conduzir [para as mulheres] no reino”, afirmou a organização num comunicado, desafiando o monarca a “pôr fim ao estatuto de ‘pária’ da comunidade internacional que tem a Arábia Saudita, único país do mundo a proibir as mulheres de conduzir” e a seguir o exemplo dos seus antecessores que, pela primeira vez, “permitiram o acesso das raparigas à educação”.
A campanha “Teach me how to drive so I can protect myself" (“ensinem-me a guiar para eu me poder proteger”), apela às mulheres para que conduzam em público no próximo dia 17 de Junho. As promotoras argumentam que não há na Arábia Saudita nenhuma lei que proíba expressamente as mulheres de conduzir e que a proibição se baseia num decreto religioso.
Uma outra campanha foi lançada na Internet para pedir ao rei saudita que interceda por Manal al-Sharifm. O seu gesto aproximaria o seu reino deste mundo.
Digno de um enredo marciano é a história do casal de namorados português. Em 2007, Cristina e Luís ganharam 15 milhões de euros (21 milhões de dólares) no Euromilhões. Mas aquilo que a maioria dos terráqueos veria como uma bênção virou maldição para o par amoroso.
Ela recusou partilhar o dinheiro com o namorado, alegando que lhe pertencia por ter sido a autora “intelectual” da chave vencedora. Ele contrapôs, argumentando que a totalidade dos 15 milhões de euros eram seus por ter sido ele quem preencheu o boletim e pagou o respectivo registo.
O caso andou pelos tribunais e o dinheiro ficou retido no banco. Vai agora ser dividido por ordem do Tribunal. O amor, esse, já lá vai. Afinal, não era digno deste nem de outro mundo. 

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