segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Anno horribilis (crónica publicada no Novo Jornal)

A profecia Maia vaticina o fim do mundo em 2012, prevendo que algo de muito grave se irá passar no solstício de Inverno, a 21 de Dezembro, altura em que a Terra estará alinhada com o Sol e com o centro da nossa galáxia, a Via Láctea.
Baseados em Einstein e em alguma informação astronómica, há quem sustente a profecia Maia, explicando que o alinhamento com o buraco negro supermassivo existente no centro da Via Láctea levará a uma mudança do campo magnético terrestre que irá conduzir a uma série de catástrofes naturais: tsunamis, vulcões e terramotos.
Os mais cépticos temem que esta sucessão de catástrofes leve ao fim do mundo; os mais optimistas acreditam que o mundo não acabará, mas que a transformação será tão grande que o mundo tal como o conhecemos desaparecerá.
Olhando para o calendário Gregoriano (aquele pelo qual os cristãos se regem) poder-se-á dizer que na Europa a profecia Maia concretizou-se um ano antes. Os europeus tiveram em 2011 o seu anno horribilis. A crise na zona Euro acentuou-se tanto que vários países entraram no vermelho, a moeda única quase foi ao charco e o projecto europeu está na iminência de se desintegrar.
O cenário na Europa aproxima-se da catástrofe e já se fala em planos de contingência.
Segundo o jornal «The Daily Telegraph», o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha tem um plano de retirada de britânicos que vivem em Espanha e em Portugal se a "crise na zona euro arrastar os seus bancos” e eles deixarem de “ter acesso às suas contas bancárias”.
De fora da manchete ficou a Grécia, país que há muito está à beira da agonia. A crise helénica empobreceu os gregos, derrubou o governo de Papandreou, expos os esquemas de corrupção que sugaram os dinheiros públicos e demonstrou que a fé nem sempre está associada à moral.
Três dias antes da chegada de 2012, as autoridades deitaram a mão ao abade de um mosteiro ortodoxo grego com mais de mil anos de história. O religioso foi acusado de ter tido um papel fundamental num alegado escândalo imobiliário que envolvia negócios com o Estado grego.
Segundo os investigadores, o mosteiro de Vatopedi fez uma troca de terrenos com o Estado, que beneficiou a instituição religiosa. Um negócio que custou cerca de 100 milhões de euros (129 milhões de dólares) aos contribuintes e contribuiu para a derrota do governo conservador grego, nas eleições de 2009.
O abade Efraim, de 55 anos, foi levado para uma prisão nos subúrbios de Atenas; um grupo de apoiantes, que inclui muitos monges e freiras, manifestou-se à porta do estabelecimento prisional, demonstrando que ninguém deve ser excluído das “tetas” do Estado.
A ONU também não escapou a este anno horribilis. Na véspera de Natal, os 194 Estados-membros da Organização das Nações Unidas aceitaram reduzir o orçamento da instituição, após uma longa maratona negocial, o que acontece pela segunda vez em 50 anos.
Aconselha-se, pois, às agências das Nações Unidas que tenham mais critério na definição de estratégias para evitar gastar dinheiro em vão e mea culpas como a que foi agora assumida pelo chefe do Alto Comissariado para os Refugiados em Cabul, ao admitir que a estratégia que segue há 10 anos no Afeganistão foi um “fracasso” e o “maior erro do ACNUR”.
Perto de um quarto da população afegã é constituída por refugiados que estiveram exilados no Paquistão ou no Irão e regressaram após a intervenção ocidental, em finais de 2001. E muitos deles continuam sem abrigo ou vivem em acampamentos improvisados.
"Pensávamos que se fosse dada ajuda humanitária, o desenvolvimento económico se seguiria, mas o que conta é o ganha-pão. É preciso encontrar trabalho para os que regressam", rematou Peter Nicolaus.
O Brasil de Lula da Silva percebeu cedo que era preciso dar trabalho ao povo e fazer circular o dinheiro, o que permitiu ao país estar em contra-corrente.
Enquanto na Europa governos reduzem os salários e cortam nos benefícios sociais, a Presidente brasileira, Dilma Rousseff, assinou no dia 23 de Dezembro o decreto que aumenta em 14 por cento o valor do salário mínimo do país, a partir de 1 de Janeiro de 2012.
Destinos díspares tiveram os ditadores depostos em 2011. Muamar Kadafi foi barbaramente assassinado às mãos dos rebeldes; Ben Ali foi deposto na Tunísia, mas encontrou um exílio dourado na Arábia Saudita, país que demonstra um profundo desprezo pelos direitos humanos; e Ali Abdallah Saleh, o Presidente iemenita que aceitou abandonar o poder, está a caminho dos Estados Unidos.
Ter amigos poderosos ajuda a enfrentar um ano mau.
Bom Ano de 2012.

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