Depois de um artigo publicado, no «The New York Times», onde o presidente da Berkshire Hathaway e o terceiro homem mais rico do mundo apelou aos políticos para pararem de mimar os super-ricos, milionários de vários hemisférios ergueram-se a manifestar disponibilidade para ajudar a ultrapassar a crise económica.
Em França, país que tem o maior nível de endividamento público de todos os cinco países da zona euro que mantêm a notação de risco máxima (AAA), um grupo de milionários que representa as 16 maiores fortunas nacionais pediu ao governo para lhes impor um imposto especial de modo a ajudarem a pôr fim à crise.
"Nós, presidentes e líderes empresariais, empresários, financeiros, profissionais ou cidadãos ricos, queremos o estabelecimento de uma ‘contribuição excepcional’ que afectaria os contribuintes franceses mais favorecidos", escreveram numa a petição publicada no jornal «Le Nouvel Observateur».
Entre os signatários incluem-se o presidente da L'Oreal e seu maior accionista, os patrões da petrolífera Total, o grupo hoteleiro Accor, a Danone, o banco Société Générale, o operador de comunicações Orange, a companhia aérea Air France-KLM ou o fabricante automóvel PSA Peugeot-Citroën.
Na quarta-feira, em reacção à disponibilidade dos multimilionários, o presidente Nicholas Sarkozy anunciou a criação de um imposto extraordinário de 3% sobre os contribuintes mais ricos, no âmbito de um pacote de austeridade que visa poupar 14 mil milhões de euros, em dois anos.
O exemplo francês pode vir a ter réplicas noutros países, mas - é preciso que isto se repita - foi necessário os mais ricos virem publicamente “dar autorização” aos políticos para entrarem nos seus cofres.
O poder político não se atreveu sozinho a tomar uma medida que, de tão justa, seria escandaloso não ter sido adoptada, deixando os mais pobres a suportar a factura de uma crise que afecta todos.
O ex-director do FMI, Dominique Strauss-Kahn, foi libertado na terça-feira, depois de um juiz do Supremo Tribunal de Justiça do Estado de Nova Iorque ter retirado as acusações contra si.
Dominique Strauss-Kahn saiu do tribunal de mão dada com a mulher, que se manteve sempre ao seu lado, mas a libertação não lhe dá grandes motivos para sorrir. A sua reputação saiu maculada e o seu futuro político irremediavelmente comprometido.
O juiz Michael Obus baseou a decisão de retirar as acusações no pedido do procurador de Manhattan Cyrus Vance que concluiu que o ex-director do FMI e Nafissatou Diallo tiveram uma relação sexual “não consentida”, mas as declarações “mentirosas” proferidas pela mulher inviabilizam o processo criminal.
Ainda que não conclusivas, as provas reunidas no inquérito sobre a acusação de violação de Diallon contra Strauss-Kahn “correspondem a uma relação sexual não consentida”, afirmou o gabinete de Vance.
Os registos de ADN “estabeleceram que vários pontos localizados na parte superior do uniforme da funcionária do hotel, a queixosa, tinham esperma correspondente ao ADN do acusado”, prosseguiu o procurador.
No entanto, o dossier da acusação caiu por terra devido a informações repetidas e “falsas” de Diallo. O procurador explicou que a queixosa mentiu repetidamente aos investigadores sobre o seu passado e sobre o que se passou logo após a alegada violação.
Ou seja, as provas apontam para a ocorrência de uma relação sexual não consentida, mas como a mulher – imigrante nos Estados Unidos – mentiu sobre o seu passado, talvez tanto ou menos do que as mentiras proferidas por Strauss-Kahn, fica impossibilitada de ver exercido o seu direito a justiça.
E para ultrapassar a sua “dúvida razoável” o procurador e, consequentemente, o juiz, precisavam que o ex-homem forte do FMI autorizasse a sua condenação, admitindo, como fizeram os milionários ao pedirem para serem taxados pelo poder político, que forçou o acto sexual.
O Ocidente rejubilou esta semana com a chegada dos rebeldes líbios a Tripoli e a anunciada queda de Muammar Khadafi. Ninguém contesta a oportunidade do derrube de um regime déspota e totalitário como aquele que governa a Líbia há mais de 40 anos. Mas a vitória dos rebeldes, porque patrocinada pelos países ocidentais e pelos seus interesses económicos nas riquezas nacionais – veja-se como as petrolíferas já se enfileiram para explorar os poços líbios – tem a mesma legitimidade do derrube de Saddam Hussein, em 2003, que mergulhou o Iraque no caos e numa guerra que se arrasta até hoje.
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