Bernard Madoff, o especulador norte-americano que precipitou para a ruína três milhões de investidores em todo o mundo com o maior esquema em pirâmide Ponzi de todos os tempos, confidenciou a um parceiro de reclusão que não tem pena das suas vítimas, porque “eram ricas e gananciosas”.
“Que se danem as minhas vítimas. Aturei-as durante vinte anos e agora estou a cumprir 150 anos”, respondeu Madoff, quando questionado por um traficante de droga, que partilhou o desabafo com a revista «New York Magazine».
Segundo Madoff, as pessoas continuavam a atirar-lhe dinheiro para investir e se ele recusasse respondiam: “Então, não sou suficientemente bom”. O ex-presidente da bolsa de Nasdaq fez-lhes a vontade e aumentou o tamanho da pirâmide, donde todos – gananciosos e gente que simplesmente queria dobrar as suas poupanças – vieram a cair.
Houve quem tivesse recuperado da queda. Mais de 700 vítimas, na maioria investidores europeus, chegaram a acordo com os seus bancos, e conseguiram receber 15,5 mil milhões de dólares, de acordo com o jornal «The New York Times».
Mas só tiveram sorte os mais gananciosos, aqueles que Madoff crítica, que ainda ficaram com verbas volumosas para contratar conceituadas firmas de advogados para negociarem com os bancos. E estes, escaldados, com a abrasão da queda do sistema financeiro que gerou a crise económica mundial, lá abriram os cordões à bolsa.
Os gananciosos de pequena dimensão da pirâmide que Madoff ergueu, que provocou perdas na ordem dos 64,8 mil milhões de dólares, lá ficaram a arder, como queimados ficaram os que confiaram a engorda do seu dinheiro a Scott Rothstein.
Conhecido como o Madoff da Florida do Sul, Scott foi condenado, na quarta-feira, a 50 anos de prisão por ter engendrado um esquema Ponzi, que lhe permitiu arrecadar 1.200 milhões de dólares. Não lhe valeu de nada, porque o Tribunal de Miami ordenou que os seus bens sejam penhorados de modo a ressarcir as vítimas.
Este caso “é um exemplo humilde do que pode acontecer quando a cobiça e a ambição tomam o controlo”, afirmou o juiz Wifredo A. Ferrer.
Pouco exemplar é a decisão de um tribunal indiano que esta semana condenou sete quadros superiores da filial de Bhopal da empresa norte-americana Union Carbide, 24 anos depois de uma fuga de gás que provocou a morte a mais de 25 mil pessoas e doenças em 100 mil.
Os sete antigos responsáveis da filial indiana – um oitavo não chegou a ser julgado, porque os EUA recusaram o pedido de extradição – foram condenados a dois anos de prisão e ao pagamento de uma multa no valor de 100 mil rupias cada (o equivalente a 2.100 dólares), mas seguiram em liberdade, sob fiança. A Union Carbide India foi condenada ao pagamento de 500 mil rupias (10 mil dólares).
A sentença foi considerada, e bem, pelos familiares das vítimas e por diversas organizações de defesa dos direitos humanos como “um insulto”. “Se isto não é uma piada, então não sei o que é”, reagiu uma das activistas que aguardava a sentença à porta do tribunal.
O insulto torna-se ainda maior quanto comparado com o montante a que foi condenada uma empresa de electricidade, que contaminou com substâncias tóxicas a água de uma pequena cidade da Califórnia, EUA, provocando a morte por cancro de várias pessoas.
A PG&E foi condenada, em 1996, ao pagamento de 333 milhões de dólares às vítimas de Hinkley, depois de ficar provado que os responsáveis da empresa-mãe sabiam que as águas estavam a ser contaminadas com crómio, graças a uma investigação desenvolvida pela arquivista de uma pequena empresa de advogados.
Erin Brockovich dedicou 10 anos da sua vida a vasculhar as irregularidades da filial de Hinkley da PC&E, tornou possível uma sentença que fez jurisprudência na punição de empresas negligentes com a saúde das populações envolventes, passou a ser activista depois de se licenciar em advocacia e a sua vida foi transposta para o cinema pelo realizador Steven Soderbergh, que escolheu para interpretar o seu papel a actriz Julia Roberts.
Também no caso da fuga de gás na Índia ficou provada a negligência da empresa de pesticidas.
Por ganância, houve erros de concepção da fábrica e práticas negligentes de manutenção, que eram conhecidos da direcção, mas desvalorizados por razões comerciais.
Mais de 25 mil pessoas de Bhopal, cidade a cinco quilómetros da fábrica, morreram com a nuvem provocada pela fuga de 40 toneladas de isocianato de metilo. Perto de 50 mil pessoas tiveram de receber tratamento hospitalar. E nos anos seguintes multiplicaram-se as doenças crónicas, a incidência de cancro, problemas respiratórios, neurológicos e de visão, entre outras patologias.
Só que a vida humana, pelos vistos, tem menos valor na Índia.
A ganância, essa, é igual em todo o mundo.
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