O ataque de Israel a navios com 10 mil toneladas de ajuda humanitária para a Palestina revela um total desprezo por toda e qualquer vida humana que não seja a do «povo eleito», como os judeus se autointitulam por, alegam, Deus os ter escolhido para receberem as revelações da Tora (livro sagrado).
O ataque de Israel à flotilha de movimentos pró-palestinianos «Gaza livre» confirma o que há muito vem sendo denunciado: está em marcha um genocídio na faixa de gaza.
Dizer menos do que isto é eufemismo; tentar minimizar os sistemáticos massacres que o Estado hebraíco vem fazendo com o argumento de que se está a defender dos ataques dos países árabes é iludir a realidade e ter uma visão sectária dos acontecimentos: de um lado os bons, do outro os maus.
Não há melhor argumento para sintetizar a acção militar israelita em águas internacionais do que aquele que foi usado pelo chefe da diplomacia turca, o país que liderava a frota de ajuda humanitária.
“Não devia ser uma escolha entre a Turquia e Israel. Devia ser uma escolha entre o certo e o errado”, afirmou o ministro Ahmet Davutoglu, depois dos Estados Unidos recusarem condenar Israel.
O ataque de domingo não esconde a face maléfica do Estado hebraíco, revela-a com absoluta nitidez. Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelita, que é um reincidente na forma violenta como gere o conflito israelo-palestino, perdeu completamente o pudor e deixou cair a máscara.
Israel tornou-se um “lugar desumano”, afirmou em Setembro de 2009, na véspera de um concerto em Portugal, o maestro isrealita Daniel Barenboim. A entrevista dada por este filho de judeus refugiados, que nasceu em Buenos Aires, cresceu em Israel e hoje vive em Berlim, ao jornal português «Público» mantém uma actualidade desconcertante.
Barenboim, que em 1999 criou, como o seu amigo palestiniano Edward Said, a orquestra Divan para jovens músicos do médio oriente, vê cada vez mais distante o desejo de uma região em paz. Um sonho tornado possível em 2005 num concerto memorável da Orquestra Divan na cidade palestiniana de Ramallah. Músicos israelitas, palestinianos, sírios, libaneses, jordanos e egípcios tocaram a mesma música e ainda hoje permanecem unidos, apesar da desafinação política dos países que representam.
“Acho que (a situação) nunca foi tão má, tão desastrosa. Israel tornou-se realmente um lugar desumano. Não é uma questão de política, se estamos à direita ou à esquerda. É total desrespeito, e não só pelos palestinianos. O governo israelita actual está a brincar com a futura existência do Estado de Israel, ao fazer com que não seja possível haver nem dois estados nem um estado binacional”, afirmou Barenboim, um dos poucos cidadãos israelitas com cidadania palestiniana.
O pianista e maestro, um dos mais conceituados do mundo, confessou “estar cada vez mais impaciente” com os diferentes governos israelitas – “Acho que perderam todo o sentido da realidade”; lamentou que Israel se assemelhe cada vez mais ao apartheid sul-africano – “A África do Sul viu que não havia outro caminho e tornou-o possível. Se Israel não vir isso, será terrível” – e considerou “indesculpável” o “homicidio em massa” em Gaza, em Janeiro de 2009, onde até o edifício das Nações Unidas foi atacado pelas bombas israelitas.
Com a narrativa que criou para a sua própria história, e que “não é completamente verdadeira“ porque omite “o que aconteceu em 1948” e a forma “como as pessoas (palestinianos) foram forçadas a sair”, “não se pode fazer a paz”. Ela só é possível, segundo Barenboim, quando Israel tiver “um sentido de responsabilidade para com o problema palestiniano”.
Mas não é preciso recuar tanto e ir à entrevista de Daniel Barenboim. Vários intelectuais e comentadores israelitas reagiram com repúdio ao ataque do seu governo.
“Como é que ficámos tão burros?”, questionou Sima Kadmon, no título de um artigo no «Yedioth Ahronoth». O comentador político conclui: “Num país normal, teríamos pedido a demissão de alguém. Perdão, queria dizer que num país normal alguém já se teria demitido”.
Para o Nobel da Literatura Amos Oz, Israel está em vias de se “tornar o Estado pária do mundo”. O escritor, que tem defendido o diálogo israelo-palestino, considerou que o ataque “não é apenas uma questão de imagem, é um desastre moral para Israel”.
Foi com ironia que o comentador Ari Shavit descreveu as últimas acções israelitas: “Durante a guerra do Líbano de 2006 concluí que a minha filha de 15 anos poderia ter conduzido as operações melhor do que o Governo Olmert-Peretz. Fizemos progressos. Hoje é claro para mim que o meu filho de seis anos poderia ter feito muito melhor do que o nosso actual governo”.
É uma boa forma de retratar o que se passou, mas peca por defeito. Porque o ataque à frota «Gaza livre» é muito mais do que um acto infantil.
Que diferença haverá entre estes e os sanguinários de Hitler, que os perseguiu?
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