Este blogue contém as crónicas publicadas pela autora no semanário angolano «Novo Jornal».
domingo, 13 de março de 2011
Imprensa livre em Angola
Para os que insistem na ideia que em Angola não há imprensa livre, aqui fica, reproduzido na íntegra, o editorial do Director do Novo Jornal, Victor Silva, da edição de 11 de Março de 2011, a propósito da detenção de três jornalistas e um motorista, quando faziam a cobertura de uma manifestação anti-governamental agendada para o dia 7 de Março, mas que não chegou a realizar-se:
A Praça 1.º de Maio
Victor Silva, Director do Novo Jornal
Afinal “a montanha pariu um rato”!
Este poderia ser o título mais adequado para a pretensa manifestação contra o Governo que foi veiculada através das redes sociais e deixou muito perturbado o partido no poder, ao ponto de ter convocado uma “marcha patriótica” contra os que se “julgam mãos limpas, os mais patriotas com o apoio dos serviços de inteligência ocidentais”.
Poderia ter sido este o cenário não fosse um “erro grave” da Polícia Nacional ao prender dúzia e meia de pessoas que nem chegam para encher o botequim da esquina, que se encontravam no Largo da Independência, entre elas três jornalistas e o motorista do Novo Jornal, devidamente identificados e em serviço.
Uma “mancha” que estragou a estratégia de vitória e descredibilização dos seus apócrifos organizadores e dos meios de comunicação social, sobretudo portugueses, que lhes deram a importância que não possuem.
Pretenderem, agora, inverter os papéis e associarem o Novo Jornal aos manifestantes, só pelo facto dos seus jornalistas terem prestado declarações sobre a sua situação, não é um exagero. É uma incongruência. Um abuso. Um dislate.
O Novo Jornal não se associa ao incitamento à violência. Não alinha em clientelismos populares ou de circunstância. Esforça-se por ser uma referência pelo rigor, isenção e pluralismo da sua informação.
Os factos: Na madrugada do dia 7 de Março de 2011, cerca da uma hora da manhã, uma equipa de reportagem do Novo Jornal foi detida por efectivos da Polícia Nacional quando se encontrava em serviço no Largo da Independência.
Uma missão planeada e coordenada na habitual reunião de pauta de sexta-feira, onde se organiza o trabalho jornalístico da semana. Nessa reunião foram agendados os temas e distribuídas as respectivas equipas, de entre os quais se programou a cobertura da “marcha patriótica” organizada pelo comité provincial de Luanda do MPLA, no sábado, dia 5, mais de uma semana antes da saída desta edição.
Constava igualmente a cobertura da concentração e eventual manifestação anti-governamental anunciada, via Internet, para a madrugada do dia 7.
Em obediência ao rigor jornalístico e profissionalismo com que se trabalha no Novo Jornal, as instruções foram as de estar no local à hora indicada para verificar, in sitio, o perfil e ideário dos propalados manifestantes.
Em qualquer dos casos, havia notícia. A equipa tinha ainda orientação para dar uma volta pela cidade, sobretudo junto aos organismos públicos, para aferir se era notório, ou não, o reforço das medidas de segurança e de policiamento.
No domingo, o jornalista Pedro Cardoso solicitou à direcção do Jornal e foi autorizado a fazer apontamentos para a Rádio Renascença, de Portugal, uma situação de colaboração comum entre órgãos de imprensa.
Uma vez no local, a equipa de reportagem do Novo Jornal deparou-se com meia dúzia de indivíduos, conotados com o meio artístico e que, à primeira vista, nada tinha a ver com a propalada manifestação.
Quando estavam a procurar saber das razões da sua presença surgiram efectivos da Polícia Nacional que os interpelaram e levaram, arbitrariamente, para a Direcção Provincial de Luanda de Investigação Criminal, na Avenida Deolinda Rodrigues, onde permaneceram encarcerados por mais de nove horas.
Durante o cativeiro, os jornalistas foram submetidos a interrogatórios individuais e viram os seus telemóveis abusivamente revisados.
Nunca, em circunstância alguma, lhes foi dito que a sua presença na prisão se ficava a dever a “medidas para a sua protecção” como, enganosamente, se disse, depois, a título justificativo. Os inquisidores insistiram em saber o porquê de ser o Novo Jornal o único órgão de comunicação social presente no local, dentro de uma lógica que, veio a confirmar-se depois, pretendia associar este semanário à alegada manifestação.
A posição oficial do Novo Jornal sobre a aludida manifestação foi publicada na edição nº 164, de 4 de Março de 2011, quer através do Editorial, quer da coluna Palavra na Hor@gá, assinadas pelos seus directores. O seu conteúdo não deixa qualquer dúvida o que sobre isso se pensa nesta casa de imprensa.
As insinuações, torpes, de casamento entre o Novo Jornal e os pretensos manifestantes não são mais do que uma repetida prova da confusão que por cá se faz entre jornalismo e propaganda, o que se lamenta quando, em causa, estão instituições públicas, pagas com o dinheiro dos contribuintes, a quem se exige que não confundam o Estado com o Governo.
Não é verdade que tenha sido o Novo Jornal o único órgão de comunicação social a estar presente no Largo da Independência. Uma equipa da TV Zimbo também por lá andou. Mas foi antecipadamente ‘travada’ pela comandante em exercício da Polícia de Luanda, Elizabeth Ranque Frank.
Sozinho ou acompanhado, o Novo Jornal cumpria o seu dever. Se os outros assim não o entendem, só a eles competirá explicar a forma como exercem a profissão. Em jornalismo não boas nem más notícias. Há notícias.
Estranha-se que, à tarde, quando as televisões portuguesas anunciaram o adiamento da hora da manifestação, o Largo 1.º de Maio tenha sido invadido por equipas de reportagem de outros órgãos de infomação, principalmente públicos!!!
Na ausência de manifestação, a detenção dos jornalistas passou a ser o facto do dia para alguns órgãos da imprensa portuguesa. Os jornalistas do Novo Jornal foram entrevistados e revelaram, apenas, o que realmente se tinha passado, sem manifesto de simpatia ou reportando qualquer outro assunto que não fosse a sua detenção e a humilhação a que foram sujeitos, nomeadamente a obrigação imposta de limpar a cela.
É pecaminoso inverter a situação passando as vítimas a culpados, como está a ser insinuado e amplificado recorrendo-se, inclusive, a preconceitos rácicos para tentar denegrir o Novo Jornal, como se fosse crime ser-se angolano de raça branca.
O Novo Jornal é completamente alheio a esta ou outras campanhas e reitera o seu compromisso com os leitores, no respeito do direito constitucional que garante a liberdade de informar e ser informado, pautando-se pela divulgação da verdade sem alinhamentos directos ou camuflados com os vários poderes instituídos ou com qualquer movimento de oposição política, dispensando as honras que mentes obtusas e serviçais de aprendizes lhe queiram prestar.
A Praça 1.º de Maio é, de facto, um símbolo de Angola e dos angolanos. Foi lá que Agostinho Neto proclamou «perante África e o Mundo a independência de Angola», tornando aquele chão um palco sagrado para todos quantos amam a Liberdade e a Democracia. Quem o vilipendiou não foram os jornalistas nem o Novo Jornal!
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nice blog. visit & follow me back
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