segunda-feira, 7 de março de 2011

Porquê?

Uma manifestação em Angola contra o poder instituído foi convocada a reboque da Primavera árabe que derrubou, nas ruas, governos ditatoriais e nepóticos na Tunísia e no Egipto e tenta, a custo de muitas vidas, fazer o mesmo na Líbia.
A manifestação assentava à partida num equívoco. A realidade angolana nada tem a ver com o quadro político no magreb. E depressa o partido no poder tratou de matar, com uma contra-manifestação pela paz, a manifestação pela mudança que não chegou a ser.
Ainda assim, menos de duas dezenas de jovens responderam ao apelo. Aproveitando o palco central do largo 1 de Maio, juntaram-se para trocar versos e mensagens políticas contra o regime de José Eduardo dos Santos.
A polícia não esteve com contemplações. Encarou o acto como subversivo e deteve todos os que se concentraram na vígília nocturna. Todos mesmo. Não escapou a equipa do Novo Jornal, que se limitava a fazer o seu trabalho.
Dois jornalistas (Ana Margoso e Pedro Cardoso) um repórter fotográfico (Afonso Francisco) e o motorista que os apoiava na deslocação (Dário Pandé) foram levados pela onda repressiva. E passaram a noite numa esquadra, impedidos de comunicar com os familiares que, amedrontados com as notícias da repressão líbia, passaram horas de aflição.
Já com o grupo todo em liberdade - manifestantes e equipa do Novo Jornal - resta a pergunta: Porquê?
Não há argumento que legitime uma atitute tão disparatada da polícia angolana.
Nem regime, por mais democrático que seja, que resista à erosão provocada pela detenção de jornalistas e gente pacífica.

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