Juntou-se a três colegas, um jornalista, um repórter fotográfico e um motorista, e foi trabalhar, nessa noite de domingo.
A polícia chegou ao local onde se reunia um grupo de jovens, que recitavam poesia, trocavam conversa e projectavam sonhos.
O grupo e os jornalistas foram questionados, rodeados, intimidados.
Ela respondeu que estavam ali a trabalhar.
O polícia mandou-a calar e ordenou que se sentasse no chão
À ordem que se seguiu, deu com ela numa esquadra, onde foi separada do grupo.
Perguntaram-lhe com que políticos da oposição privava.
Quiseram saber o que estava a fazer na praça.
Tiraram-lhe os pertences pessoais.
Vasculharam-lhe o telemóvel, viram o registo de chamadas e leram as suas mensagens.
Passada a noite, obrigaram-na a limpar a cela.
Humilharam-na, julgavam eles.
Deram-lhe guia de marcha.
Devolveram-na à liberdade.
Já na rua, deu entrevistas.
Fez a cronologia dos acontecimentos.
Disse que não, não se sentia intimidade.
Ia comer "qualquer coisa" para se refazer de uma noite sem dormir para pôr pés a caminho do jornal.
Tinha muito que fazer.
Muito que escrever.
Medo? Não.
"Isto dá-me mais força para trabalhar, para continuar", respondeu à repórter que a inquiria por telefone, a partir de Portugal.
Não era a primeira vez que passava a noite numa esquadra.
A voz de Ana Margoso não tremeu.
O pensamento não vacilou.
Reconheci a jornalista que me habituei a ver na Redacção do Novo Jornal; que sempre me tocou pela coragem e determinação.
E que, inspirada pelo exemplo do pai (general que, com outros, construiu os caminhos para a independência de Angola) também luta pelo seu país.
À sua maneira.
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