Já são conhecidos os candidatos ao Prémio Nobel da Paz de 2011.
São 241 nomeados dos quatro cantos do mundo, um número recorde, 53 dos quais são organizações.
Apesar de a lista ser um segredo bem guardado até à data do anúncio do vencedor, em respeito pelos estatutos, o director do Instituto Nobel destapou um pouco o véu. E, sem trair a identidade dos nomeados, admitiu que a edição deste ano foi influenciada pela «Primavera árabe». “Recebemos várias propostas que reflectem a situação” na Tunísia, Egipto e Líbia, precisou Geir Lundestad.
Mas nem só da Primavera se fazem os prémios Nobel deste ano.
A Wikileaks, que com a enxurrada de informações que começou a jorrar no Outono atirou vários governos para um Inverno gelado, está também entre os nomeados para o Prémio Nobel da Paz. Não fosse o site criado pelo australiano Julien Assange, no plano da metáfora das estações, ele próprio uma primavera ao fazer florescer a esperança de um mundo melhor por expor, através da publicação de informações confidenciais, “a corrupção, os crimes de guerra e a tortura”. Isso mesmo evidencia o deputado norueguês, Snorre Valen, o promotor da candidatura do Wikileaks. Os nomeados ao Nobel da Paz são propostos por milhares de pessoas em todo o mundo – deputados e ministros, anteriores laureados, membros de instâncias internacionais, professores universitários – que têm de apresentar as suas propostas até ao dia 1 de Fevereiro.
Para além de personalidades ligadas à «Primavera árabe» e do Wikileaks, estão entre os nomeados os pais da Internet – os norte-americanos Larry Roberts e Vint Cerf e o britânico Tim Berners-Lee, a União Europeia, o antigo chanceler alemão Helmut Kohl, a Presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf, o dissidente cubano Oswaldo Paya Sardinas, o médico congolês Denis Mukwege, a dissidente uigure Rebiya Kadeer, a comunidade católica de Sant'Egidio e a militante afegã dos direitos humanos Sima Samar.
A organização não governamental de defesa dos direitos humanos russa Memorial e uma das suas responsáveis, Svetlana Gannuchkina também foram nomeadas pelos esforços na protecção das liberdades na Rússia.
Assumindo a importância e o papel de cada um dos nomeados na promoção dos valores intrínsecos à paz, formulo desde já o meu voto, antecipando a escolha conhecida em Outubro de 2011.
Os pais da internet são os justos vencedores do prémio, que será entregue a 10 de Dezembro, data da morte do seu fundador, o inventor sueco da dinamite Alfred Nobel.
Tal como a dinamite precisa de um rastilho para explodir, a «Primavera árabe» e a Wikileaks tiveram na internet a sua mecha. Não há como ignorar, estes foram os dois fenómenos sociais e políticos, com repercussões na paz, mais importantes deste ano. E que tiveram a precede-los um acontecimento anterior, que deve ser devidamente reconhecido.
Os benefícios da Internet não deixam de espantar. Essa correia de transmissão social, auto-estrada da informação, aldeia global num clique, sala de estar do planeta serve para aproximar e também para unir aquilo que a vida, muitas vezes, separa e afasta.
Há uma semana, uma imigrante portuguesa residente na Venezuela reencontrou a filha que desapareceu, há 12 anos, numas enxurradas no estado de Vargas, Venezuela. As cheias levaram-lhe a casa e a menina. Lucinda Nunes procurou-a durante anos. Palmilhou quilómetros de estrada, calcorreou cidades e aldeias, visitou instituições, contactou os governantes – o próprio Presidente Hugo Chávez – numa busca desenfreada que cessou há uma semana.
No conforto de casa, Lucinda falou com Carla Ures, sem saber que era a sua filha, através do Facebook, outra grande ferramenta da actualidade.
A menina desaparecida, que adoptou outro nome após o desaparecimento por não saber a sua identidade, abriu uma página no Facebook. Um dia a mãe, que contactava um grupo de religiosas na internet, falou com ela. Temerosa, para não alimentar falsas esperanças, Lucinda pediu a um irmão na Madeira que averiguasse. Um dia, Carla foi contactada por Carlos Ferreira, o madeirense que lhe pediu amizade e que lhe explicou que tinha uma irmã em Valência (Venezuela) à procura de uma filha desaparecida nas enxurradas de Vargas.
O reencontrou deu-se. Tal como um ano antes, uma mãe nos EUA, a quem o marido roubara os três filhos dizendo-lhe que tinham morrido num acidente de viação, reencontrou-os, graças à internet.
Que a academia sueca esteja no caminho certo para premiar Larry Roberts, Vint Cerf e Tim Berners-Lee, porque, desta forma, o Nobel da Paz chegará a todas as primaveras.
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