Este blogue contém as crónicas publicadas pela autora no semanário angolano «Novo Jornal».
domingo, 30 de maio de 2010
And the winner is... Sebastião Vemba
Com a devida vénia à Aoani d'Alva, a quem fui roubar a fotografia, aqui fica a imagem que testemunha o momento que todos nós antevíamos: Sebastião Vemba trouxe para Angola o prémio CNN/Multichoice na categoria de notícias gerais em língua portuguesa.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Só se eu for doida
Gosto da forma como alguns cantores angolanos transpõem para as suas músicas os problemas que mais afectam a sociedade deste país.
“Não nasci para sofrer
Não cresci para apanhar
Não investi para falhar”
É preciso dizer mais alguma coisa?
Chama-se Pérola, jovem cantora que apostou na kizomba, com um cheirinho de zouk das Antilhas, para dizer não à violência doméstica.
Abusos de poder (crónica publicada no Novo Jornal)
Um administrador distrital de Moçambique foi destituído por ter dado ordem de prisão a um homem, que foi julgado e condenado, só por ter criticado a sua prestação enquanto governante.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Na Belavista
Na província do Uíge o comércio é colorido e tem cheiro: o do pão fresco.
Os produtos esgotam-se na fachada, lá dentro entra-se no território íntimo e reservado de uma habitação da Belavista.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Staff Benda Bilili
Quando julguei que já nada me espantava, eis que deparo com os Staff Benda Bilili, uma das maiores revelações da música africana da última década e que tiveram em 2009 o seu ano de consagração internacional.
Os Staff Benda Bilili são um grupo da República Democrática do Congo que integra músicos paraplégicos, vítimas de poliomielite em crianças, que dormiam e ganhavam a vida nas ruas da capital congolesa a cantar e a tocar.
A banda nasceu no jardim zoológico de Kinshasa, onde ainda ensaiam. Aos cinco músicos iniciais, juntou-se um jovem, de 17 anos, exímio guitarrista de rua. Juntos misturam ritmos tradicionais, funk e a versão local da rumba, com instrumentos criados pelos próprios com objectos que encontram na rua.
A história do grupo está retratada no documentário francês «Benda Bilili», dos realizadores Renaud Barret e Florente de la Tullaye, que estreou numa sessão paralela do Festival de Cannes, na Quinzena dos Realizadores. Ao longo de cinco anos, os dois realizadores captaram imagens que vão desde a fundação da banda até concertos em prestigiadas salas europeias.
O álbum de estreia dos Staff Benda Bilili «Trés, trés fort» alcançou o primeiro lugar da World Music Charts Europe, em Maio de 2009; foi considerado o melhor do ano pela revista «fRoots»; e eleito o melhor álbum de world music de 2009 pela «Mojo». Também em 2009 receberam o prémio Womex, que normalmente só é entregue a músicos em final de carreira, como reconhecimento do seu exemplo extraordinário de dedicação à música.
A vida que os rodeia e a doença são as fontes onde os músicos bebem para compor.
Há candongueiros e candongueiros
Dos candongueiros (como são conhecidos os taxistas em Luanda) já se disse de tudo.
Que são mal educados;
que não respeitam as regras de trânsito, nem os outros automobilistas;
que põem a música muito alto e incomodam os passageiros;
que fazem especulação de preços;
enfim, um sem número de críticas que dão uma imagem pouco simpática dos homens que transportam a grande maioria dos luandenses.
Mas há também quem fuja ao retrato... porque aqui, como em tudo, há os e os.
Que são mal educados;
que não respeitam as regras de trânsito, nem os outros automobilistas;
que põem a música muito alto e incomodam os passageiros;
que fazem especulação de preços;
enfim, um sem número de críticas que dão uma imagem pouco simpática dos homens que transportam a grande maioria dos luandenses.
Mas há também quem fuja ao retrato... porque aqui, como em tudo, há os e os.
domingo, 23 de maio de 2010
Na banda não tem energia
Este fim-de-semana estivemos sem energia. Valeu o gerador... mas não é para todos. O vai e vem tem vindo a diminuir nalgumas zonas de Luanda. No musseque vai mais do que vem, como canta Yannick Afroman, o homem do rap que faz as melhores crónicas sociais de Angola. Ora ouçam lá.
Massacres
No dia 23 de Julho de 2008, Luanda adormeceu horrorizada.
Oito jovens que confraternizavam no largo da Frescura, no Sambizanga, foram mortos.
De uma carrinha Hiace irromperam vários homens que descarregaram as metralhadoras sobre os oito rapazes.
Uma das vítimas, antes de morrer, soprou os nomes de dois dos carrascos, identificados como agentes da autoridade.
Em poucos dias, a Polícia Nacional (PN) apresentou sete elementos da corporação suspeitos da autoria do crime, que ficou conhecido como «o massacre da Frescura».
Foram julgados e condenados a 24 anos de cadeia, cada um.
No dia 9 de Maio deste ano, três jovens da Samba foram levados por agentes da polícia.
Primeiro foi Liro, um delinquente cadastrado.
Depois Kadu, seu primo, e pelo caminho apanharam Kleber, que regressara há cinco meses a Angola, depois de concluir o curso na Zâmbia.
Os corpos dos três apareceram dois dias depois na morgue do hospital Maria Pia, baleados.
Inconformado, o pai de Kleber fez queixa na divisão da Samba da PN. Foi recusada.
José Lemos regressou uma semana depois com testemunhas que confirmaram que os jovens foram levados por agentes da autoridade. A queixa foi aceite.
A notícia ribombou nas televisões, rádios e jornais.
O Comando-Geral da Polícia foi obrigado a vir a público dizer que “ninguém manda matar na polícia”, que em Angola “não há esquadrões da morte”.
O comando não negou o envolvimento de agentes.
Pelo contrário.
O caso "está a ser investigado, há fortes indícios de que foram agentes da corporação", disse, “se se confirmarem as suspeitas a divisão da Samba será responsabilizada”.
Para o pai de Kleber é um sinal de esperança.
A vida do filho já ninguém lha devolve.
Também a de Liro, o jovem delinquente que arrastou para a tragédia dois inocentes.
Sempre que um criminoso insiste na reincidência acaba morto.
As execuções sumárias são socialmente aceites quando envolvem criminosos.
Os inocentes são chorados.
O filme repete-se.
Até que alguém ponha cobro ao argumento e mude o guião.
Oito jovens que confraternizavam no largo da Frescura, no Sambizanga, foram mortos.
De uma carrinha Hiace irromperam vários homens que descarregaram as metralhadoras sobre os oito rapazes.
Uma das vítimas, antes de morrer, soprou os nomes de dois dos carrascos, identificados como agentes da autoridade.
Em poucos dias, a Polícia Nacional (PN) apresentou sete elementos da corporação suspeitos da autoria do crime, que ficou conhecido como «o massacre da Frescura».
Foram julgados e condenados a 24 anos de cadeia, cada um.
No dia 9 de Maio deste ano, três jovens da Samba foram levados por agentes da polícia.
Primeiro foi Liro, um delinquente cadastrado.
Depois Kadu, seu primo, e pelo caminho apanharam Kleber, que regressara há cinco meses a Angola, depois de concluir o curso na Zâmbia.
Os corpos dos três apareceram dois dias depois na morgue do hospital Maria Pia, baleados.
Inconformado, o pai de Kleber fez queixa na divisão da Samba da PN. Foi recusada.
José Lemos regressou uma semana depois com testemunhas que confirmaram que os jovens foram levados por agentes da autoridade. A queixa foi aceite.
A notícia ribombou nas televisões, rádios e jornais.
O Comando-Geral da Polícia foi obrigado a vir a público dizer que “ninguém manda matar na polícia”, que em Angola “não há esquadrões da morte”.
O comando não negou o envolvimento de agentes.
Pelo contrário.
O caso "está a ser investigado, há fortes indícios de que foram agentes da corporação", disse, “se se confirmarem as suspeitas a divisão da Samba será responsabilizada”.
Para o pai de Kleber é um sinal de esperança.
A vida do filho já ninguém lha devolve.
Também a de Liro, o jovem delinquente que arrastou para a tragédia dois inocentes.
Sempre que um criminoso insiste na reincidência acaba morto.
As execuções sumárias são socialmente aceites quando envolvem criminosos.
Os inocentes são chorados.
O filme repete-se.
Até que alguém ponha cobro ao argumento e mude o guião.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
É Dom Cacho
Os Tuneza (uma espécie de gato federento de Luanda) foram a Portugal à procura das melhores uvas. Não trouxeram o melhor vinho, mas que é dos mais baratos, lá isso é!... Valha-nos a boa disposição da dupla de humor. Cuía bué (são fixes)
Humores (crónica publicada no Novo Jornal)
A Europa vive momentos difíceis - os mais complicados desde a segunda grande guerra mundial, segundo o presidente do Banco Central Europeu - mas nem todos vivem a situação com o mesmo estado de espírito.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Lokua Kanza
Muito ouvido em Angola, Lokua Kanza é um cantor e compositor da vizinha República Democrática do Congo que com a sua música mostra bem que África é muito mais do que os estereótipos criados pelo ocidente.
Filho de um pai mongo e de uma mãe tutsi, Lokua aprendeu a cantar em coros de igreja, criou afinidades com a guitarra nos conjuntos de rumba do então Zaire e reforçou os seus alicerces musicais com os estudos no Conservatório de Kinshasa.
O resultado está à vista e dispensa considerações.
Lokua Kanza criou um som próprio, caracterizado como soulful folclórico e que é distinto do dancefloor soukous, muito comum no seu país.
Apesar de viver actualmente no Brasil, o músico mantém as raízes bem assentes em África. E cruza nos seus temas várias línguas como o francês, o inglês e o português, sem nunca pôr de lado o lingala, o dialecto africano da sua província natal, Kivu, na parte oriental da RDC, provando que a música quando é boa não conhece barreiras linguísticas nem geográficas.
O primeiro tema «Motutu» foi extraído do seu primeiro álbum; o segundo «Meu amor» pertence ao terceiro disco.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Reportagens Sebastião Vemba III
Esta é a terceira e última reportagem sobre o desalojamento dos moradores do bairro Benfica, onde se confirma a inquietação do repórter. Sebastião Vemba não se limitou a escrever sobre a notícia do desalojamento, seguiu o rasto da história e dos moradores. Uma lição de jornalismo que sublinha como é importante em reportagem o jornalista entrar na história e não se limitar ao papel de observador.
Sugiro que comecem a ler as reportagens por ordem numérica, para se perceber cronologicamente os factos.
Reportagens Sebastião Vemba II
Esta é a segunda reportagem publicada sobre o desalojamento dos moradores do bairro Benfica e foi feita uma semana depois, já no Zango, para onde as famílias foram transferidas.
Reportagens Sebastião Vemba I
Conforme combinado, aqui vai a primeira de três reportagens publicadas no Novo Jornal e que valeram a Sebastião Vemba a nomeação para finalista do Prémio Jornalista Africano CNN/MultiChoice. Clicando no item «Ler mais» tem acesso aos textos.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Um caso sério
Sebastião Vemba parte no dia 25 deste mês para o Uganda para disputar a 15º edição do prémio Jornalista Africano CNN/MultiChoice. Na mala leva um conjunto de reportagens publicadas em três edições do Novo Jornal que retratam o desalojamento dos moradores do bairro Benfica da Ilha de Luanda.
O jovem jornalista, de 25 anos, foi um dos 27 finalistas seleccionados pelo júri num total de 975 candidaturas, em representação de 40 países, para a edição deste ano dos prémios, que coincide com as comemorações dos 30 anos da cadeia americana CNN.
Vemba é o terceiro angolano a chegar a uma final, depois de José Luís Mendonça e Ernesto Bartolomeu, que ganharam o prémio na categoria em português. E um dos mais jovens candidatos seleccionados.
A escolha de Sebastião Vemba, que vai disputar o prémio na categoria de notícias gerais em Língua Portuguesa com o moçambicano Sérgio Sitoe (da cadeia televisiva Miramar) e o grande prémio, é a confirmação de que, apesar de jovem, é já uma certeza no jornalismo.
O olhar desperto e atento aos pormenores e a capacidade narrativa fazem dele um excelente repórter . A estes ingredientes, Vemba soma uma inquietação permanente que extravasa também com a música. Tião MC, seu nome artístico, escolheu o hip hop e o rap para se expressar musicalmente. E em conjunto com o seu primo e também rapper, Mr. Leos, criou a «Casa de Rimas», Editora, Promotora e Distribuidora Independente que realiza quinzenalmente espectáculos e debates na comuna do Ngola Kiluanje.
O Prémio Jornalista Africano do Ano CNN foi criado em 1995 com o objectivo de reconhecer e incentivar a excelência do jornalismo por toda a África. Sebastião Vemba representa Angola e a Língua Portuguesa e qualquer que seja o resultado anunciado no dia 29 de Maio já ganhou. Porque ele é um caso sério no jornalismo angolano.
Wow Wow Wubbzy
Wubbzy e os seus amigos foram passear e encontraram a Quadrilândia, onde tudo era aos quadrados: casas, árvores, pessoas, carros, animais…
Wubbzy, Walden e Widget acharam a cidade engraçada, mas depressa lhes pareceu monótona.
Decidiram regressar a Wuzzleburgo, centro do desenho animado criado por Bob Boyle para crianças em idade pré-escolar.
Um habitante da cidade aos quadradinhos viu os três amigos e perguntou-lhes de onde vinham.
Wubbzy respondeu que vinham de uma terra onde todos eram diferentes: - “Existem pessoas amarelas, cor-de-rosa e até às riscas”.
Pelo caminho encontraram uma figura feminina às bolinhas, que lhes perguntou se queriam ir à pintalândia, onde tudo era às bolinhas.
Wubbzy e os amigos declinaram o convite. Queriam regressar a Wuzzleburgo e depressa, porque na terra de onde vinham a vida era mais divertida.
É tão bom que os nossos filhos aprendam, desde cedo, a viver e a gostar de viver na diversidade.
domingo, 16 de maio de 2010
Beleza africana ao natural
Teta Lando deixou no seu legado musical um manifesto pela beleza feminina africana, que dispensa a tissagem tão em voga nos dias de hoje.
sábado, 15 de maio de 2010
Concha Buika
Descobri-a ao ouvir o último álbum da fadista Mariza. O tema “Pequenas Verdades” trouxe-me uma voz irresistível. Saída da alma.
Concha Buika é filha de uma família da Quiné Equatorial. Cresceu em Palma de Maiorca, na Andaluzia, no meio de ciganos, e foi no canto flamengo que se formou artista.
Depois de anos a cantar jazz em bares, agarrou na copla, um género musical em desuso caracterizado por estrofes simples com o qual a mãe a embalava, e reabilitou-a, despontando como uma das melhores vozes espanholas. O álbum “Nina de Fuego”, donde foi extraído o tema “Volveras”, valeu-lhe a nomeação para o Melhor Álbum Latino dos Prémios Grammy.
Concha Buika não canta. Faz poesia com o diafragma.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Dá-lhes gás Sayovo
José Sayovo, o atleta invisual que nos Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004, conquistou três medalhas de ouro, continua à espera que se cumpram algumas das promessas feitas na euforia dourada.
Prometeram-lhe uma casa e deram-lha.
Prometeram-lhe um carro e entregaram-no.
Prometeram-lhe saldo vitalício no telemóvel e cumpriram.
Prometeram-lhe gás e luz de borla toda a vida, mas nicles. Continua às escuras.
Ainda assim, Sayovo teve energia suficiente para continuar e representar as cores da bandeira angolana.
Nos Paralímpicos de Pequim, em 2008, melhorou o seu próprio recorde e também trouxe da competição três medalhas de prata.
Por ser prateado, o feito não mereceu grandes parangonas.
E os angolanos perderam gás no entusiasmo.
Aos 37 anos de idade, Sayovo continua em frente e com determinação para enfrentar as próximas provas: o Mundial de Nova Zelândia e os Paralímpicos de Londres, como o atleta confessa numa reportagem do Álvaro Vitória, com fotografia de Ampe Rogério, publicada na edição 121 do Novo Jornal.
Devoção futebolística (crónica publicada no Novo Jornal)
Esta semana vi uma luz. Quando Nuno Gomes entregou ao Papa uma camisola do Benfica compreendi. Afinal Jesus não foi contratado como treinador para estancar os maus resultados do clube, mas para operar o milagre que se revelou na véspera da chegada do Papa a Portugal com a conquista do campeonato. E cumprir o desígnio “consubstanciado” na trilogia que Oliveira Salazar concebeu para a Nação portuguesa: Fátima, fado e futebol.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
quarta-feira, 12 de maio de 2010
"O monstro"
Deixou a mulher no aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda, com recomendações para ligar assim que se instalasse no hotel em Windhoek, capital da Namíbia, e fez-se à estrada.
No regresso engarrafado, àquela hora da manhã, 7h00, foi sendo assediado pelos inúmeros vendedores de rua que fazem das estradas da capital angolana um autêntico centro comercial a céu aberto. No sentido literal do termo.
Vende-se e compra-se tudo e de tudo: roupa, bens alimentares, utensílios domésticos e de lazer, insecticidas, veneno para matar ratos, baratas e outros rastejantes, jornais, electrodomésticos, aparelhos de rádio, estantes, tapetes, cintos, brinquedos, águas de diversas proveniências, sumos, fruta… Trimmm. “Já chegaste?”. “Sim”, respondeu a mulher a duas horas de distância de avião.
O engarrafamento em Luanda é, para usar uma metáfora de um jornalista brasileiro sobre o trânsito em S. Paulo, um “monstro”. Cresce todos os dias úteis; alimenta-se não se sabe do quê, nem quando e porquê; invade estradas, bermas e passeios; insufla irritação nos automobilistas; atulha a atmosfera de monóxido de carbono; e torna a vida de Luanda insuportável durante a semana.
Aos fins-de-semana, o monstro recolhe… a bem da sanidade mental.
Esta história é real. A existência do monstro também.
No regresso engarrafado, àquela hora da manhã, 7h00, foi sendo assediado pelos inúmeros vendedores de rua que fazem das estradas da capital angolana um autêntico centro comercial a céu aberto. No sentido literal do termo.
Vende-se e compra-se tudo e de tudo: roupa, bens alimentares, utensílios domésticos e de lazer, insecticidas, veneno para matar ratos, baratas e outros rastejantes, jornais, electrodomésticos, aparelhos de rádio, estantes, tapetes, cintos, brinquedos, águas de diversas proveniências, sumos, fruta… Trimmm. “Já chegaste?”. “Sim”, respondeu a mulher a duas horas de distância de avião.
O engarrafamento em Luanda é, para usar uma metáfora de um jornalista brasileiro sobre o trânsito em S. Paulo, um “monstro”. Cresce todos os dias úteis; alimenta-se não se sabe do quê, nem quando e porquê; invade estradas, bermas e passeios; insufla irritação nos automobilistas; atulha a atmosfera de monóxido de carbono; e torna a vida de Luanda insuportável durante a semana.
Aos fins-de-semana, o monstro recolhe… a bem da sanidade mental.
Esta história é real. A existência do monstro também.
Homenagem a Man Ré
Yuri da Cunha prestou, no seu último álbum, uma homenagem justa a Man Ré, cantor de rua malanjino que fez de Luanda o seu palco e da música popular o seu trunfo.
Porque um país não vive sem memória e porque a música, qualquer que seja, tem as suas raízes esta é uma combinação feliz que trouxe para a actualidade um músico que já morreu e não deixou obra gravada e que justifica porque Yuri da Cunha é tão aplaudido a cantar Angola.
Bom, muito bom.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Os tuneza, pois claro
Ignorem o título do vídeo, é inapropriado, desajustado, racista e infeliz. O que interessa são os tuneza. Uma equipa de humor genial.
PS. Registo que no youtube alteraram o nome do vídeo dos tuneza,tornando sem sentido este comentário. Ainda bem
Uma chapa, três pratos e um balde
Manuel Domingos estacionou o carro frente a casa, com a chave na ignição.
Um amigo, desencartado, entrou no veículo e arrancou.
O automóvel embateu na parede de um vizinho, provocando danos numa chapa de zinco, três pratos e um balde.
Manuel assumiu o prejuízo.
O vizinho, não satisfeito com a garantia, ligou para a polícia.
A esquadra mandou três agentes.
Os polícias anunciaram a chegada com tiros para o ar e deram início a uma coreografia irada.
Sovaram Domingos, espancaram-no, lançaram com a cabeça dele contra a parede e queimaram-lhe a boca com o cano do revólver.
A mulher, grávida de oito meses, e os dois filhos do casal, também foram mimoseados com golpes.
Depois de uma noite na esquadra, os três agentes pediram 200 dólares a Manuel para não o matarem.
Como não tinha dinheiro, soltaram o homem com o corpo desfeito, perda total de visão num olho e redução de 70 por cento no outro.
Aos 37 anos, Domingos viu a vida que tinha escapar-lhe.
Ficou incapacitado e privado de exercer qualquer profissão.
Perdeu a autonomia, a mulher e os filhos.
Quatro anos depois, o Tribunal Provincial de Luanda condenou os polícias a oito anos de cadeia, cada um, pela prática do crime de ofensas corporais, agravada em um terço por os réus terem cometido o crime quando estavam fardados e armados.
O Ministério do Interior foi condenado ao pagamento de uma indemnização de 12 milhões de kwanzas (1 milhão e 200 mil dólares) à vítima.
Uma pena exemplar para quem se excede e no cumprimento do dever se transforma em criminoso.
Do vizinho perdeu-se o rasto na história.
Será que dorme em paz?
Um amigo, desencartado, entrou no veículo e arrancou.
O automóvel embateu na parede de um vizinho, provocando danos numa chapa de zinco, três pratos e um balde.
Manuel assumiu o prejuízo.
O vizinho, não satisfeito com a garantia, ligou para a polícia.
A esquadra mandou três agentes.
Os polícias anunciaram a chegada com tiros para o ar e deram início a uma coreografia irada.
Sovaram Domingos, espancaram-no, lançaram com a cabeça dele contra a parede e queimaram-lhe a boca com o cano do revólver.
A mulher, grávida de oito meses, e os dois filhos do casal, também foram mimoseados com golpes.
Depois de uma noite na esquadra, os três agentes pediram 200 dólares a Manuel para não o matarem.
Como não tinha dinheiro, soltaram o homem com o corpo desfeito, perda total de visão num olho e redução de 70 por cento no outro.
Aos 37 anos, Domingos viu a vida que tinha escapar-lhe.
Ficou incapacitado e privado de exercer qualquer profissão.
Perdeu a autonomia, a mulher e os filhos.
Quatro anos depois, o Tribunal Provincial de Luanda condenou os polícias a oito anos de cadeia, cada um, pela prática do crime de ofensas corporais, agravada em um terço por os réus terem cometido o crime quando estavam fardados e armados.
O Ministério do Interior foi condenado ao pagamento de uma indemnização de 12 milhões de kwanzas (1 milhão e 200 mil dólares) à vítima.
Uma pena exemplar para quem se excede e no cumprimento do dever se transforma em criminoso.
Do vizinho perdeu-se o rasto na história.
Será que dorme em paz?
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Despojos
O homem está de cócoras. Chinelo preto no pé direito, vermelho no esquerdo. Barra um pedaço de pão numa lata de margarina que resgatou ao lixo. No passeio as pessoas seguem, indiferentes. O homem raspa de cócoras os restos do alimento encontrado no chão, no interior de um saco de despojos da capital da indiferença, onde a riqueza e a pobreza convivem lado a lado. Mas não se tocam.
sábado, 8 de maio de 2010
Chega de mutilações (crónica publicada no Novo Jornal)
O Senegal foi palco de um acontecimento importante na luta contra uma das práticas que mais vilipendeiam as mulheres. Deputados de 27 países africanos apelaram às Nações Unidas que adoptem, este ano, uma resolução universal que “proíba explicitamente” a mutilação genital feminina. O argumento não podia ser mais ajustado: trata-se de uma prática “contrária aos direitos humanos”, ponto final.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
A varanda
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