Manuel Domingos estacionou o carro frente a casa, com a chave na ignição.
Um amigo, desencartado, entrou no veículo e arrancou.
O automóvel embateu na parede de um vizinho, provocando danos numa chapa de zinco, três pratos e um balde.
Manuel assumiu o prejuízo.
O vizinho, não satisfeito com a garantia, ligou para a polícia.
A esquadra mandou três agentes.
Os polícias anunciaram a chegada com tiros para o ar e deram início a uma coreografia irada.
Sovaram Domingos, espancaram-no, lançaram com a cabeça dele contra a parede e queimaram-lhe a boca com o cano do revólver.
A mulher, grávida de oito meses, e os dois filhos do casal, também foram mimoseados com golpes.
Depois de uma noite na esquadra, os três agentes pediram 200 dólares a Manuel para não o matarem.
Como não tinha dinheiro, soltaram o homem com o corpo desfeito, perda total de visão num olho e redução de 70 por cento no outro.
Aos 37 anos, Domingos viu a vida que tinha escapar-lhe.
Ficou incapacitado e privado de exercer qualquer profissão.
Perdeu a autonomia, a mulher e os filhos.
Quatro anos depois, o Tribunal Provincial de Luanda condenou os polícias a oito anos de cadeia, cada um, pela prática do crime de ofensas corporais, agravada em um terço por os réus terem cometido o crime quando estavam fardados e armados.
O Ministério do Interior foi condenado ao pagamento de uma indemnização de 12 milhões de kwanzas (1 milhão e 200 mil dólares) à vítima.
Uma pena exemplar para quem se excede e no cumprimento do dever se transforma em criminoso.
Do vizinho perdeu-se o rasto na história.
Será que dorme em paz?
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