sexta-feira, 9 de julho de 2010

À margem do mundial (crónica publicada no Novo Jornal

Espanha e Holanda vão disputar pela primeira vez a final de um mundial de futebol.
A Holanda passou o teste frente ao Uruguai, fazendo recordar os tempos da selecção, que continua laranja mas foi perdendo a mecânica, dos mundiais de 1974 e 1978.
A Espanha bateu a selecção alemã, tida como a mais forte candidata ao título, por causa do polvo. Sim. Isso mesmo, o polvo. Não o da máfia calabresa que deu má fama ao molusco, mas Paul, um polvo adivinho do aquário Sea Life, na cidade alemã de Oberhausen.
Os alemães, que como toda a gente sabe são extremamente cerebrais, seguiam com uma fé cega as profecias do oráculo do Sea Life que adivinhou os resultados de todos os jogos disputados pela sua selecção.
Na véspera das partidas, os germânicos colocavam duas caixas transparentes com uma bandeira, cada uma – da Alemanha e do país adversário – e no seu interior um mexilhão. Paul, depois de um passeio pelo aquário, enfiava os tentáculos numa delas e retirava o petisco que devorava. A bandeira da caixa escolhida era a selecção vencedora.
As previsões do Paul eram matemáticas. Adivinhou as duas vitórias da Alemanha na fase de grupos. Acertou na derrota com a Sérvia. Vaticinou os dois triunfos frente à Inglaterra e a Argentina e escolheu o mexilhão da caixa com a bandeira espanhola no jogo das meias-finais, deixando os alemães a rezar para que, desta vez, o molusco tenha trocado as voltas aos tentáculos, como fez no final do Euro 2008.
No último Europeu, Paul profetizou a vitória da Alemanha e ganhou a Espanha. Escapou à panela. Vamos ver se volta a sair incólume e permanece no banho, sem ser Maria.
O jornal português mais antigo revelou na recta final deste mundial que está aí para fazer face à concorrência com tacto e imaginação.
O DN resolveu lançar uma votação para a escolha do «11 mais bonito do Mundial», a que chamou pomposamente de «Sondagem – Mundial 2010».
A coisa é tão meticulosa que o DN escolheu um total de 23 jogadores, facilitando a vida de quem vota, poupando-os da árdua tarefa de olhar para a cara, um a um, de todos os jogadores que passaram pela África do Sul.
No escrutínio final do DN passaram três guarda-redes, sete defesas, nove médios e quatro avançados, revelando uma supremacia dos homens que andam no meio campo.
Se atendermos à lista do DN, Espanha (com quatro jogadores: Iker Casillas, Gerard Piqué, Xabi Alonso e Fernando Torres) está bem lançada para a final frente à Holanda que, em matéria de beleza, só tem um trunfo a apresentar (Nigel de Jong), deixando-me a pensar que talvez a decisão do polvo tenha a ver com questões meramente estéticas.
É que a selecção alemã nem uma carinha laroca tem na prestimosa lista que o DN submete à nossa apreciação, com direito a fotos para os votantes mais dados ao consumo de queijo.
Cristiano Ronaldo, que segundo o DN é um dos meninos bonitos deste mundial, revelou, mais uma vez, esta semana uma face pouco formosa.
O avançado português quis ter um filho, foi aos Estados Unidos, alugou uma barriga e, passados nove meses, precisamente a 17 de Junho de 2010, a criança nasceu e o melhor jogador do mundo de 2009 foi pai.
A namorada do rapaz, que não sabia de nada, não gostou da surpresa. Ronaldo voltou aos Estados Unidos, encontrou-se com a modelo russa Irina Shayk num dos restaurantes mais in da Big Apple (o Da Silvano), almoçou com ela, o casal saiu – primeiro ela, depois ele – e, no final, a relação vislumbrou-se out.
Que Cristiano Ronaldo queira ter sido pai, não me espanta; que tenha recorrido a uma barriga de aluguer, privando o filho de uma ligação com a mulher que o gerou, é lá com ele; agora que as televisões, jornais e afins percam horas com mais este folhetim do menino de ouro do futebol português é que já me parece demais.
Como demasiado má é a imagem que um dos ícones da juventude actual dá de um ser humano que não descola da meninice.
Enquanto a trama se desenrola e as sanguessugas da vida alheia vão exaurindo eu só me questiono: que história Cristiano Ronaldo vai contar ao filho quando ele crescer e perguntar – “pai onde está a minha mãe?”

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