O primeiro grupo de sete presos políticos libertados pelo regime de Raul Castro, num total de 52 que sairão das cadeias cubanas nos próximos meses, pisou solo espanhol na terça-feira, dia 13, e já foi tarde.
Deviam começar a sair há muito tempo, porque há cada vez menos espaço para delitos de opinião, seja em Cuba, seja noutro ponto qualquer do globo terrestre.
A libertação dos prisioneiros de “consciência”, como agora chamam aos presos políticos, “significa o começo de uma nova etapa para o futuro de Cuba e de todos os cubanos”, afirmaram num comunicado lido pelo jornalista Julio César Gálvez, no aeroporto de Madrid. “Esperamos que os que ficam em Cuba – acrescentou - desfrutem da mesma liberdade que nós”.
Uma meia liberdade espartilhada por um exílio. Uma liberdade que para ser completa devia conferir-lhes a liberdade de escolherem ficar no seu país. E que prolonga o sabor amargo de ver ainda derrubado o direito de escolher e de o dizer.
Falta agora, como afirmou o Presidente brasileiro Lula da Silva – ele próprio um ex-preso político, enquanto foi sindicalista - que se abram as portas das prisões de todos os países que ainda têm presos políticos.
Inexplicável é a libertação de um ex-elemento das milícias pró-indonésias, Maternus Bere, em Timor Leste, a 30 de Agosto de 2009, por decisão política, e que desembocou num processo contra a ministra da Justiça, Lúcia Lobato.
O Ministério Público timorense considerou a libertação “ilegal”, por ter sido feita à margem de qualquer decisão judicial. A ministra da Justiça foi constituída arguida, mas diz que não devia estar sozinha porque outros políticos participaram na decisão. E o primeiro-ministro, Xanana Gusmão – também ele um ex-preso político, na altura em que Timor lutava contra o jugo indonésio – disse estar disposto a prestar esclarecimentos sobre o processo de soltura de Bere ao tribunal.
Xanana vai ter muito que explicar. Maternus Bere não era um preso qualquer. Não tinha estatuto de prisioneiro de “consciência”. Estava indiciado por vários crimes contra a humanidade, incluindo homicídio, estupro, deportação, sequestro e tortura em Timor-Leste, em Setembro de 1999, após o anúncio do referendo que ditou a autodeterminação do povo maubere. Crimes que não têm perdão. E que nem uma pretensa reconciliação justifica.
Ingrid Betancourt, a antiga candidata presidencial colombiana que esteve sequestrada pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), durante mais de seis anos, viu a sua popularidade ser aprisionada por uma decisão que mudará irremediavelmente a imagem que o mundo criou dela.
A mulher, com aparência frágil em aparente contraste com o estatuto de heroína que conquistou durante o cativeiro, emocionou o mundo, em 2008, quando elementos do exército colombiano a resgataram da selva, juntamente com três norte-americanos e 11 oficiais das forças armadas colombianas.
Betancourt foi ovacionada no seu país, foi homenageada em França, país de origem do pai dos seus dois filhos, que a recebeu como protagonista de um filme heróico, e remeteu-se a um longo silêncio, entrecortado, aqui e ali, por acusações ao seu carácter geradas durante o cativeiro.
A 2 de Julho, Betancourt regressou a Bogotá para celebrar o segundo aniversário da sua libertação.
A emoção que o seu regresso à capital da Colômbia suscitou deu lugar ao ressentimento, quando se ficou a saber que pedira uma indemnização de oito milhões de dólares ao Estado colombiano pelo seu sequestro.
A notícia causou uma indignação tal que Ingrid se viu obrigada a recuar. Na segunda-feira, o seu advogado Gabriel Devis comunicou a desistência das acções que a sua cliente promoveu e onde pedia três milhões de dólares por rendimentos que deixou de receber durante os 3.320 dias de cativeiro e 5,1 milhões de dólares por danos morais e prejuízos que teve por causa do sequestro.
O vice-presidente colombiano, Francisco Santos, classificou o pedido da ex-refém como um “prémio mundial à ingratidão e à desfaçatez”.
O líder do partido da oposição Polo Democrático, Gustavo Petro, recordou que “foram as FARC que a sequestraram, não o Estado”.
E Betancourt foi à televisão justificar que o objectivo era “ter um acto de solidariedade para com os companheiros e ex-sequestrados que pedem indemnizações pelo sofrimento vivido e explicar ao Estado os factos do sequestro”.
Difícil mesmo é explicar a atitude de uma heroína que, afinal, era de barro. E que, com este gesto, se estilhaçou.
...Tal como acontecerá relativamente aos senhores Cubanos, a verdade é como o azeite colocado em água...
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