Os teóricos do PSD de Pedro Passos Coelho têm um dilema em mãos.
Não. Não é a proposta de revisão constitucional apresentada pelo seu líder, mas decorre dela.
O partido português vai ter de rever o seu nome ou então, se quiser manter as siglas, deve fazer ajustes que não ponham em causa a seriedade dos seus dirigentes, os actuais, é claro, sob pena de serem acusados de não conhecer a história da organização.
"Fundado em 6 de Maio de 1974, por Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota sob o nome Partido Popular Democrático (PPD). Foi legalizado em 25 de Janeiro de 1975, passando a designar-se a 3 de Outubro de 1976, Partido Social Democrata (PSD)". É assim que reza no site oficial do partido.
Ora bem, com a proposta do senhor Passos o partido deixa de ser "Popular", para passar a representar os interesses do material, pelo que proponho que retomem a sigla inicial e passem a chamá-lo Partido das Pessoas com Dinheiro.
É certo que se mantém a matriz democrática, porque a proposta não propõe, passo a redundância, o fim dos actos eleitorais, mas a revisão constitucional (que, em bom rigor, devia chamar-se proposta de nova Constituição para a República Portuguesa) preconizada pela direcção de Pedro Passos Coelho é pouco democrática, no sentido filosófico do termo, que remete para popular (povo), igualdade.
Adiante!
A segunda sigla, a que vingou na história do partido, é de difícil aproveitamento, sendo necessários ajustes mais radicais, como a queda de uma letra (a última) e a sua substituição por um L. Vejamos: o partido passaria a chamar-se Partido Superlativamente Liberal (PSL).
E, “prontos”, teríamos o nome adequado à filosofia, porque há que assumir as coisas pela totalidade e não fazê-las pela metade, a que dá jeito.
É que, convenhamos, substituir o despedimento com "justa causa" por despedimento com "razão atendível" é liberalizar o acto de despedir.
Não gostar do trabalhador é uma razão tão “atendível” como ele não desempenhar bem as suas tarefas profissionais. E qualquer bom patrão tem todo o direito a não gostar do empregado e a não ter que justificar porque é que não gosta. "Não gosto, e prontos!".
Que a proposta do PPD (passo já a assumir o novo nome) põe fim ao Serviço Nacional de Saúde, tal como o define António Arnaut (que é o pai do SNS e, portanto, como pai sabe do que fala) também nenhum português com dois dedos de testa tem dificuldade em entender.
Pedro Passos, que tirou com esta proposta de revisão um coelho (e dos grandes, pelo espanto que causa) da cartola, quer expurgar da Constituição as alíneas que atribuem ao Estado o dever de assegurar o acesso gratuito aos cuidados de saúde, retirando o "tendencialmente gratuito”.
O senhor Passos garante que com a Constituição dele não poderia ser recusado a nenhum português o tratamento, mas cada um deve pagar à medida do seu bolso. Certo. Mas fica-me uma dúvida: os portugueses passam a ter de andar com a declaração de IRS na carteira, ou no bolso, para, no caso de um acidente, o hospital saber quanto lhe deve cobrar? Ou o hospital vê pela indumentária com que se apresenta? Ou pelos anéis, no caso de ainda os ter?
Dúvidas para as quais, certamente, os teóricos do PPD já devem ter respostas.
PS 1. Aconselho a JSD a fazer este ano a sua universidade de verão (conjunto de debates, onde os jovens social democratas aprendem a ser políticos) em Brasília para que possam aprender com Lula da Silva como é que se faz crescer um país sem retirar aos pobres. Pelo contrário, dando condições aos menos afortunados para que eles também façam crescer a economia (a deles incluído). Para depois ensinarem a Pedro Passos Coelho como se faz.
PS 2. Já agora aconselho os jotas laranja a tentarem saber como é que Lula da Silva conseguiu em cinco anos criar 20 milhões de empregos. Só no primeiro semestre de 2010 foram criados 1,5 milhões. É uma maneira mais eficaz de tirar o país do buraco, sem ter de mandar para o fosso quem nele vive.
Muito, muito, mesmo muito interessante.
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