No ano do seu bicentenário, o Chile viveu o céu e o inferno.
Foi abanado por um terramoto devastador; assistiu a um tsunami destruidor; testemunhou um desabamento que enclausurou 33 homens dentro de uma mina; e acompanhou o resgate das entranhas da terra dos 33 mineiros que simbolizam a coesão nacional e que representam o resgate de valores, como a segurança e o respeito pela vida humana.
O sinal de que o Chile aprendeu com a tragédia vivida pelos mineiros e que emocionou o mundo inteiro foi dado pelo próprio Presidente do país, Sebastián Piñera. O mesmo que não vacilou, nem perante os enormes custos da operação (ainda não totalmente contabilizados), e que fez da subida à superfície dos pais, maridos, irmãos e filhos chilenos, e um boliviano, um compromisso de honra, deitando mão a toda a ajuda oferecida pelo mundo
O sinal de que o Chile aprendeu com a tragédia vivida pelos mineiros e que emocionou o mundo inteiro foi dado pelo próprio Presidente do país, Sebastián Piñera. O mesmo que não vacilou, nem perante os enormes custos da operação (ainda não totalmente contabilizados), e que fez da subida à superfície dos pais, maridos, irmãos e filhos chilenos, e um boliviano, um compromisso de honra, deitando mão a toda a ajuda oferecida pelo mundo
E porque a honra tem mais valor do que as promessas políticas, cumpriu o compromisso, como parece determinado a cumprir o aviso dado aos empresários que descuram a segurança de quem para eles trabalha e de quem dependem para enriquecer.
O apelo que soou de dentro da mina, “Não desistam de nós”, teve eco junto do poder político chileno e repercutiu-se no país e no mundo inteiro.
Desde o 11 de Setembro de 2001, altura em que dois aviões atingiram as torres gémeas, no coração financeiro de Nova Iorque, nos Estados Unidos, nenhum acontecimento mobilizou tanto o mundo como a tragédia vivida no deserto de Atacama, no norte do Chile.
A notícia do desabamento na mina a 5 de Agosto mereceu nota de rodapé nos noticiários em vários países. A confirmação, 17 dias depois, de que os 33 mineiros estavam vivos, subiu no alinhamento dos telejornais. Os apelos gravados na imensa escuridão dos 30 metros quadrados da mina abriram serviços informativos e a partir daí o mundo passou a sentir como sua a tragédia dos 33 homens.
Não há espinha que não se tenha arrepiado com a vida no interior do maciço granítico a 622 metros de profundidade; não há quem não tenha tido acessos de claustrofobia com a clausura; não há quem não tenha sentido a angústia de uma permanência prolongada sem a certeza da saída; não há quem não tenha sentido o aperto da cápsula Fénix 2 que fez renascer, um a um, os 33 homens e o orgulho chileno; não há quem não se tenha emocionado com os abraços na superfície entre os mineiros e suas famílias e entre todos aqueles que testemunharam a mais complexa e bem sucedida operação de resgate no mundo.
Esta tragédia faz lembrar outra, também ocorrida em Agosto, mas com desfecho totalmente diferente.
A 12 de Agosto de 2000, o submarino Kursk, da Marinha Russa, afundou a uma profundidade de 108 metros por causa de duas explosões registadas por estações sísmicas no Canadá e Alasca. O acidente só foi tornado público, dois dias depois, e desencadeou reacções no mundo inteiro, temendo-se um desastre equivalente ao de Chernobyl.
Vários países, como França, Alemanha, Grã-Bretanha, Israel, Itália, Noruega e Estados Unidos da América, ofereceram ajuda. Como o submarino continha tecnologia e segredos militares, a Rússia, sob a presidência de Vladimir Putin, recusou.
As autoridades nacionais resistiram em admitir que 23 marinheiros, dos 118 a bordo, haviam sobrevivido às explosões. Os sobreviventes conseguiram emitir sinais de socorro durante 48 horas, que foram captados por vários países, e perante as evidências e a pressão internacional, Moscovo acabou por aceitar a ajuda dos noruegueses e britânicos, quatro dias mais tarde.
No dia 21 de Agosto, quatro mergulhadores noruegueses de uma empresa privada conseguiram abrir a primeira escotilha do submarino e depararam-se com um enorme sarcófago. A água tinha-se infiltrado em todo o submersível, matando os 23 sobreviventes. “Todos os compartimentos estão inundados e nenhum membro da tripulação sobreviveu”, declarou o vice-almirante russo Mikhail Motsak. Seguiu-se o repúdio internacional que fez corar uma das potências militares do mundo.
“Sempre tive fé nos profissionais que há no Chile”, afirmou Mário Sepúlveda, o segundo homem a chegar à superfície e que sintetizou bem o drama vivido nestes dois últimos meses: “Estive com Deus e com o diabo, agarrei-me à melhor mão”.
A mão que conduziu a resposta a esta tragédia encaixa no corpo do Presidente chileno.
Foi a vitória da acção que mostra qual o valor que a vida humana tem para alguns dos que detêm o poder.
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