Vai percorrer o país num carro funerário para sepultar a corrupção.
José Manuel Coelho é o mais recente candidato às eleições presidenciais portuguesas.O deputado do Partido da Nova Democracia (PND) na Assembleia Legislativa da Madeira, que se tornou célebre pela forma insólita como exerce a política, apresentou a candidatura assente num slogan lapidar: “Basta de pastéis, Coelho a Belém”. Porque, explica o candidato, o “povo já está farto dos pastéis que lhe têm indisposto a vida, dos cinzentões e situacionistas”.
Se há tantos galos no poleiro, porque não um coelho? Isso mesmo sublinha noutro slogan de campanha: “Vamos meter o Coelho no Poleiro”. Este sempre é animado e, nos tempos que correm, de prostração, tem mais utilidade.
Já Winston Churchill, o grande estadista britânico, dizia: “A maior lição da vida é a de que, às vezes, até os tolos têm razão”.
Não quero com isto dizer que José Manuel Coelho seja tolo. Pelo contrário. É de uma lucidez desconcertante e faz política com base na verdade, o que num mundo ainda não refeito das mentiras do ex-Presidente dos EUA, George W. Bush, é de extrema conveniência.
Churchill, de novo, dizia que “uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir”.
A verdade sobre a invasão do Iraque chegou tarde, mas chegou. Ainda assim o antecessor de Barack Obama na Casa Branca mantém o espírito de comediante, que caracterizou os seus mandatos (na categoria de humor negro), e insiste na farsa.
Não é que Bush, num livro de memórias que vai publicar (Blair também lançou um, numa tentativa de refazer a história), diz que até hoje fica com o “estômago às voltas” por ter falhado em encontrar armas de destruição maciça no Iraque”!
Ora, digam lá se isto não é humor de qualidade?
Anda o Brasil preocupado com a possibilidade de um palhaço assumir o mandato de deputado federal, para o qual foi eleito com 1,3 milhões de votos, quando a América já teve o seu. E na Casa Branca.
Confesso que só com base numa antecipação feita pelo «The New York Times», estou ansiosa para ler «Decision Points», não pela visão da história que Bush criou, essa é previsível, mas porque aprecio o humor. E não perco uma oportunidade para gargalhar.
Diz Bush que cometeu muitos erros na guerra no Iraque, sobretudo no falhanço total em detectar as armas de destruição maciça que inúmeros relatórios dos serviços secretos garantiam existir.
Então e ninguém demitiu serviços secretos tão incompetentes?
Apesar das voltas no estômago, o ex-Presidente está satisfeito com a invasão do Iraque, porque os iraquianos ficaram melhor sem Saddam Hussein, a quem chama de “ditador homicida”, e também os EUA ficaram melhor sem Hussein no cenário, a tentar obter armas químicas e biológicas.
Pois, as tais que não chegaram a ser encontradas. Pormenores, mas hilariantes.
Outra pérola bushiana é digna de sublinhado. Bush confessa que Dick Cheney, que “se tornou num íman para as críticas dos media e da esquerda”, ofereceu-se para se demitir em 2003, permitindo que o Presidente escolhesse outra pessoa para o coadjuvar, na recandidatura presidencial. Mas Bush não o demitiu. “Afastá-lo provaria que era eu quem mandava”.
Nem mais! Entendidos.
É por estas e por outras que os humoristas profissionais, aqueles que vivem das palhaçadas dos políticos, têm um filão cada vez maior. Tão grande que fez com, nas últimas presidenciais no Brasil, comediantes fossem para a rua manifestar-se contra uma norma, que vigorava há 13 anos, e que proibia o uso de “trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação” durante as eleições. A manifestação levou o Supremo Tribunal a levantar a interdição.
Mais a norte, nos EUA, a iniciativa foi de Jon Stewart, o comediante mais influente da América. O autor de «Daily Show» organizou um comício para “restaurar a sanidade” dirigido aos americanos “normais” e que não se revêem no antagonismo e no alarido da cultura política americana tal como ela é retratada pelas televisões.
É que Stewart tem feito mais do que humor. Tem desmontado as mentiras e um tom “cada vez mais louco” dos políticos conservadores, e dos comentadores que lhes dão cobertura, e tem trazido alguma seriedade ao debate. Um papel que antes cabia aos políticos.
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