quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Massacre no Sahara Ocidental





As imagens que nos chegam do acampamento de Gdeim Izik confirmam que há um massacre em curso no Sahara Ocidental, por mais que Marrocos desminta o contrário.
As fotografias do jornal espanhol El Pais demonstram, com clareza, o tipo de intervenção ordenado por Rabat e devem servir de pretexto para que a ONU dê, finalmente, a oportunidade aos saharauis de decidirem, em referendo, o seu destino: se querem a autodeterminação, como aconteceu em Timor Leste, ou manterem-se sobre dominação de Marrocos, que ocupou a região quando Espanha abandonou, em 1975, o Sahara Ocidental.
O regresso a casa de Aminatu Haidar, presidente do Colectivo de Direitos Humanos do Sahara Ocidental, no final de Dezembro de 2009, depois de mais de 30 dias em greve de fome, em Lanzarote, foi um dos temas do Paralelos da primeira edição de 2010 (que pode ler clicando no Ler mais).
De lá para cá, a atitude de Marrocos mudou. Para pior, como se vê.
Por um dia

Sou dos que são pela vida,

dos que pugnam pela dignidade na vida,
e pela justiça
Após uma longa espera de 35 anos, Sarah Reed viu o filho sair em liberdade. James Bain tinha 19 anos quando foi acusado de rapto e violação de um menor. Foi condenado a prisão perpétua. Testes de ADN provaram aquilo que afirmou em tribunal, vezes sem conta: Not guilty (inocente). “Agora vou ver a minha mãe”. Foram as primeiras palavras de Bain aos jornalistas. Sarah, com 77 anos, lutou sempre pelo filho e resistiu a várias doenças para poder abraçá-lo. Em liberdade.
Sou dos que não toleram injustiças,
dos que contestam a crueldade,
dos que não admitem a barbárie.
Sou dos que erram às vezes,
dos que também têm dúvidas.
Sou dos que defendem a liberdade de escolha,
e da escolha em liberdade.
Aminatu Haidar chegou finalmente a casa, en El Ayoun, de onde foi expulsa um mês antes pelas autoridades de Marrocos, porque assumiu a sua condição de cidadã do Sahara Ocidental no documento de embarque. O regime de Rabat expulsou-a do território que Marrocos ocupa, há 34 anos. E forçou-a a um “desterro” nas Canárias, com a conivência de Espanha, país que ainda não assumiu as culpas numa descolonização apressada, que deixou espaço e margem suficiente para uma ocupação predadora. Após 32 dias em greve de fome, Aminatu venceu o braço-de-ferro. Marrocos não deu a cara no regresso, mas perdeu a face. E eu, como todos os saharauis, também me senti Aminatu.
Sou dos que proclamam a responsabilidade,
dos que não se vergam.
Sou dos que choram com quem sofre.
Sou dos que sofrem.
Sou dos que acreditam,
dos que abominam a estupidez,
dos que são intransigentes com a hipocrisia.
O Citigroup vai cancelar as execuções hipotecárias e os despejos previstos até 17 de Janeiro de 2010. Uma trégua que a instituição bancária dá a quatro mil titulares norte-americanos de hipotecas, neste período de festividades. Depois do Natal e Ano Novo, os beneficiários voltam a ter a corda no pescoço e a porta entreaberta para a rua, mas o Citigroup terá feito a boa acção do ano e ficará pronto para mais uma década de especulação com o dinheiro dos outros. A não ser que, como defende o colunista do Financial Times John Gapper se “convença os bancos que numa crise futura serão dissolvidos – e que os seus accionistas e credores perderão dinheiro”.
Sou dos que se comovem com quem tem causas.
Sou dos que defendem a diferença,
dos que respeitam quem sabe,
dos que se esforçam.
Sou dos que cedem quando é preciso,
dos que apreciam quem reflecte,
dos que admiram quem decide.
Sou dos que não compreendem a crueldade.
Um hospital no estado da Baía, Brasil, detectou 50 agulhas num menino de dois anos, que se queixava de dores abdominais e vómitos. A criança ficou internada nos cuidados intensivos, em estado grave. Uma agulha perfurou um pulmão, outra chegou ao fígado, outra atingiu o ventrículo esquerdo do coração… O padrasto do garoto acabou por confessar ter espetado dezenas de agulhas no corpo do enteado para se vingar da mulher. Por sugestão da amante.
Sou dos que odeiam o individualismo.
dos que acreditam na Humanidade.
Sou dos que rejeitam o abuso da força,
dos que confiam na força dos argumentos.
Sou dos que condenam os holocaustos,
Dos que acreditam na memória.
O sinal em ferro forjado do campo de concentração nazi de Auschwitz com a inscrição “Arbeit macht frei” (“o trabalho liberta”) foi roubado e encontrado três dias depois. Os suspeitos da autoria do roubo não têm ligações a movimentos neonazis. São ex-condenados por delitos comuns, entre os 20 e os 39 anos. Idade suficiente para conhecerem o significado do acto que praticaram ao levar a célebre inscrição feita por prisioneiros do único campo de concentração que servia apenas para exterminar judeus. O único trabalho que ali se desenvolvia era o de manter acesas as câmaras de gás de um dos maiores holocaustos da História.
Sou dos que acreditam na bondade,
Sou dos que execram políticos demagógicos, como Silvio Berlusconi que subiu sete pontos nas sondagens depois de ser agredido por um louco, dizem, mas que não enxerga a sua própria loucura.
Sou dos que são intolerantes com populismos.
Sou dos que pedem respeito,
dos que crêem no Menino Jesus.
Sou dos que não acreditam no Pai Natal,
dos que gostariam de acreditar para pensar que, pelo menos, por um dia o mundo seria diferente.

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