Em Luanda há uma criança, de 12 anos, que diz ter sido abandonada por um casal português que a adoptou e que, há dois meses, deambula pela cidade sem que se saiba com exactidão quem é e de onde vem.
Tudo nesta história recambolesca está no condicional.
O miúdo, que afirma chamar-se Fernandes Alexandre Teixeira, não tem documentos.
Diz que nasceu em Angola.
Que foi adoptado por um casal português, ela médica pediatra no Hospital de Santo António, no Porto; ele superintendente da polícia.
Que vivia no Porto, onde foi criado desde pequeno.
Que esteve, durante dois anos, no Internato Luís de Camões, em Ovar.
Que um padrinho o trouxe, ao engano, para Angola.
Que foi abandonado num centro comercial, depois de visitar uma "velha", alegadamente sua avó, mas que desmente qualquer vínculo com o miúdo.
As informações dadas pelo adolescente, que evidencia uma inteligência e desenvoltura anormal para a idade, não batem certo com a realidade.
A mãe/médica não trabalha onde ele diz trabalhar.
No internato não há registo da passagem do menino, que fala um português escorreito, sem o sotaque característico dos angolanos.
A morada que deu como sendo a sua e do casal não existe.
O número de telemóvel da mãe vai parar a um homem de Portimão.
O consulado português não consegue encontrar um fio que permita começar a desenrolar o novelo.
A rapaz foi acolhido num lar de Luanda, ligado ao Instituto Nacional de Apoio à Criança, mas por duas vezes fugiu.
A polícia também já lhe deu acolhimento para dormir, na esquadra.
Uma senhora de Luanda vai-lhe dando apoio e alimentação e, nos intervalos do trabalho, mantém contactos com instituições para encontrar o rasto à família do adolescente.
No meio de tanta discrepância sobressai o receio de se estar perante uma monumental mentira.
Mas a pergunta mantém-se: quem é este rapaz?
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