sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Boas notícias (crónica publicada no Novo Jornal*)

Um canadiano reformado, que há mais de um ano perdeu a mulher para o cancro, ganhou um prémio de 40 milhões de dólares na lotaria. O maior prémio que alguma vez foi entregue na região de Calgary, onde reside. 
A notícia chegou-lhe, no dia 3 de Maio deste ano, quando estava a jogar golfe na Califórnia, nos EUA. Um funcionário da Western Canadian Lottery ligou-lhe a anunciar a novidade e Tom Crist preferiu ocultar a notícia. Mas, como as regras do organismo que gere o jogo obrigam o premiado a deixar-se fotografar com o cheque, não teve outra alternativa senão revelar o golpe de sorte, que escondeu até dos próprios filhos. A surpresa foi ainda maior, quando o milionário reformado anunciou que ia doar o prémio, na totalidade, a obras de caridade. A maior fatia vai para o Tom Baker Cancer Center, unidade hospitalar de Calgary onde a mulher recebeu tratamento. O restante será decidido depois de umas férias pelo sudoeste asiático. Tom Crist justifica a sua decisão com a boa estrelinha que o tem acompanhado durante toda a vida. Conseguiu construir uma carreira que lhe permite viver em conforto e, por isso, não precisa do dinheiro. Agora chegou a hora de dividir a sorte com quem precisa dela. E os filhos aplaudem.

O vocalista da banda britânica Lostprophets foi condenado a 35 anos de prisão por tentativa de violação de um bebé e múltiplas agressões sexuais sobre menores. Ian Watkins, de 36 anos, “atingiu novos patamares de perversidade”, justificou o juiz do Tribunal de Cardiff, no País de Gales, chocado pelos horrores que viu desfilar à sua frente. Duas fãs de Watkins, que deram os seus próprios filhos ao cantor, foram condenadas a 17 e 14 anos de cadeia. O ex-vocalista, que se deu como culpado de 13 acusações, tentou também violar uma bebé de 11 meses na presença da mãe e encorajou uma outra das suas fãs, via webcam a abusar do seu próprio filho. A lista de atrocidades cometidas é confirmada por vídeos “muito explícitos e penosos”, a que o júri foi poupado porque Watkins decidiu no último momento dar-se como culpado. No final do julgamento, o juiz testemunhou o seu espanto. “Aqueles que vêm aos tribunais durante muitos anos vêem aqui um grande número de casos horríveis. Este é pioneiro. Qualquer pessoa decente sentirá estupor, repulsa e incompreensão”. O ex-vocalista da banda de rock alternativo justificou a sua conduta com o “desejo de chocar e ultrapassar os limites da sexualidade”. Nos anais da história fica conhecido como mais uma aberração.

O arcebispo anglicano Desmond Tutu afirmou esta semana que Nelson Mandela ficaria chocado se soubesse que os africânderes (sul-africanos brancos descendentes dos colonos europeus, sobretudo de origem holandesa) tinham sido excluídos do seu funeral. Para além de registar a ausência da Igreja Protestante Holandesa, o arcebispo criticou o uso limitado da língua africânder durante a cerimónia e reprovou as acções do Congresso Nacional Africano (ANC), partido de Mandela, após a morte do primeiro Presidente da Nação arco-íris. Desmond Tutu, que lutou toda a sua vida ao lado de Madiba e do ANC contra o apartheid e que foi reconhecido, por essa luta, com a atribuição do Prémio Nobel da Paz, também não foi convidado para o funeral de Mandela em Qunu, terra natal do ex-Presidente. A cerimónia foi anunciada como estritamente familiar, mas contou com a presença de pessoas de todo o mundo, políticos e artistas incluídos. Dela foi excluída, nos convites formulados pelo Governo e pela família de Mandela, uma das bandeiras contra o apartheid: o homem que presidiu à Comissão de Reconciliação e Verdade, criada por Madiba para fechar as feridas abertas durante os anos de segregação. Algumas permanecem abertas e ameaçam infectar. Nelson Mandela partiu, mas deixa um legado para a Humanidade e para a África do Sul. Desmond Tutu afirma-se como guardião dessa herança. A sua voz continua viva. É preciso ouvi-la. Tal como é preciso estar atento ao povo que, na despedida ao pai da Nação multicolor, fez questão de se fazer ouvir na enorme vaia que dirigiu ao actual chefe de Estado sul-africano. Será a melhor homenagem a Madiba.

Nesta quadra natalícia, gostava de dar apenas boas notícias. Mas, infelizmente, não há só boas notícias…


*Publicada no dia 20 de Dezembro de 2013

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