No norte, aposta-se em mostrar tudo.
No sul, encobre-se cada vez mais e só se mostra o que interessa.
São as surpresas de Natal que nos reservam dois países das imensas Américas.
Este blogue contém as crónicas publicadas pela autora no semanário angolano «Novo Jornal».
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
A caminho (crónica publicada no Novo Jornal)
A Europa está em ebulição e nas vésperas de uma cimeira de chefes de Estado e de Governo, em Bruxelas, que marca o fim da presidência belga da União Europeia, os cidadãos do continente deram uma vez mais mostras de que não estão dispostos a pagar pelos erros dos políticos que os governam.
sábado, 11 de dezembro de 2010
A verdade (II) (crónica publicada no Novo Jornal)
Na década de 80 do século passado, a jornalista e escritora Meredith Maran foi incumbida de editar o livro de uma investigadora sobre crimes de incesto e abuso sexual infantil e nos anos seguintes escreveu compulsivamente sobre o assunto, em jornais e revistas.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
O primeiro correspondente internacional em África
Um grupo de jornalistas polacos chega dia 9 de Dezembro a Luanda para dar início, no interior de Angola, à primeira etapa de uma viagem de homenagem a Kazimierz Nowak, um "bravo polaco" que, em 1931, se aventurou pelo continente africano na companhia da sua bicicleta.
Durante cinco anos, Nowak registou e relatou o quotidiano dos africanos nos despachos que enviou para a sua Polónia natal, como relata Mirolaslaw Wlekly, nesta reportagem publicada na última edição do Novo Jornal.
As fotografias que ilustram a peça são do arquivo pessoal da família de Kazimierz Nowak e mostram como o jornalista enfrentou os perigos que o desconhecido lhe foi colocando no caminho, quer a conviver com tribos canibais, quer a despistar animais selvagens ou a atravessar as areias do deserto do Sahara na companhia, apenas da sua bicicleta, duas máquinas fotográficas, uma "espingarda de cano duplo, uma centena de cartuchos, uma pistola automática, um cobertor, rede entomológica, uma tenda, postes, um machado, pneus de reserva, raios para as rodas, colas e adesivos, o gancho da agulha, linha, um quarto de quilo de quinino, aspirina e um pouco de óleo de ricino, duas mudas de roupa, e como stock total de alimentos por quilo de açúcar, 250 gramas de chá, um pouco de petróleo e um saco de farinha".
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
A verdade (I) (crónica publicada no Novo Jornal)
O mundo está de pernas para o ar, desde que o site WikiLeaks divulgou mais de 250 mil documentos diplomáticos norte-americanos.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Vida difícil das zungueiras
Uma zungueira que vendia junto ao mercado de S. Paulo, em Luanda, foi há uma semana baleada por um agente da Polícia Nacional.
As colegas - mulheres que todos os dias palmilham dezenas de quilómetros para sustentar os filhos, maridos e outros mais que dependem delas - afirmam que Domingas Gomes, de 25 anos, foi atingida mortalmente a tiro, depois de um agente lhe desferir golpes na cabeça com um pau.
A Polícia Nacional diz que não. Que a zungueira “não corre perigo de vida”. O “tiro foi no pé”.
Entre o que uns e outros dizem não há margem para fugir a uma triste realidade.
A polícia e os fiscais gostam de "dar corrida nas zungueiras".
É vê-los a perseguir as mulheres com a bacia à cabeça e, muitas vezes, filhos às costas.
É vê-los a levarem o produto do seu sustento, depois de confiscado à má-fé e para, na maior parte dos casos, usufruto próprio.
É vê-los de bastão no ar e pistola em riste atrás de mulheres indefesas.
Na memória dos luandenses ainda está fresca a morte, por atropelamento, de uma zungueira e do filho que carregava quando fugia de um polícia no S. Paulo.
As zungueiras fazem parte da paisagem angolana.
Por elas passa grande parte da vida económica do país.
Num país com postos de trabalho em número insuficiente, as mulheres criam, graças à zunga, gerações de filhos.
Alimentam e dão instrução a milhões de bocas.
Pelas bacias que carregam passa a vida de muitas pessoas.
Não há angolano - homem do povo, polícia ou ministro - que não tenha o ADN de uma zungueira.
Sangue de zungueira a correr-lhe pelas veias.
Suor de zungueira a escorrer-lhe pela tez.
Por isso, como escreveu a jornalista Susana Mendes, disparar contra elas é atirar contra o povo.
Mas é mais fácil, observa.
Bem mais fácil do que andar atrás dos “bandidos”.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Meninas-mulher (crónica publicada no Novo Jornal)
O Presidente do Irão introduziu uma nova questão na sua agenda política. Mahmoud Ahmadinejad quer que os iranianos casem mais cedo e propôs a antecipação da idade mínima dos matrimónios para os 16 anos, no caso das mulheres, e para os 19, no caso dos homens.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Conjugar mal... (crónica publicada no Novo Jornal)
Centenas de lisboetas concentraram-se, há uma semana, nas várias ruas circundantes ao Saldanha para se despedir do «Senhor do Adeus». Durante mais de duas horas, imitaram o gesto que tornou João Paulo Pereira conhecido.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
"Problemas técnicos" na TPA
O último lesado pelos "problemas técnicos" da estação pública de Angola foi o jornalista Reginaldo Silva.
No último programa «Semana em Actualidade», transmitido aos domingos, o também dirigente do Sindicato dos Jornalistas Angolanos criticou o MPLA por na atribuição de condecorações aos nacionalistas, no 11 de Novembro (data de proclamação da independência), se limitar a figuras do partido do poder e não ter condecorado ninguém ligado à UNITA ou ao FNLA.
Estava Reginaldo Silva a explicar que esta atitude em nada ajuda à reconciliação nacional quando, ups, a emissão foi abaixo.
Por "problemas técnicos".
A TPA ficou às escuras e Reginaldo Silva perdeu a voz.
A televisão voltou à antena, quando o comentador já estava longe.
Os técnicos que avaliarem os "problemas técnicos" da TPA devem ter em conta que estes cortes na emissão só se dão quando alguém põe em causa o M, ou seja, o partido no poder.
Com esta informação poderão com maior facilidade detectar onde está o problema.
E resolvê-lo.
Para que os angolanos possam, sem interrupções, ver o que se passa no seu país.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
O diplomata que sacrificou a carreira (reportagem publicada no Novo Jornal)
O Brasil foi o primeiro país a reconhecer Angola, no dia 11 de Novembro de 1975. Na passagem dos 35 anos sobre a Proclamação da República de Angola, é bom recordar os momentos que antecederam uma das decisões mais difíceis da diplomacia brasileira. E olhar para o exemplo de um diplomata, Ovidio de Andrade Melo, que se manteve fiel a princípios e que, por causa, disso sacrificou a carreira. Um testemunho, na primeira pessoa, publicado numa edição especial do Novo Jornal, comemorativa do 11 de Novembro.
sábado, 13 de novembro de 2010
Mistério da criança abandonada
Em Luanda há uma criança, de 12 anos, que diz ter sido abandonada por um casal português que a adoptou e que, há dois meses, deambula pela cidade sem que se saiba com exactidão quem é e de onde vem.
Tudo nesta história recambolesca está no condicional.
O miúdo, que afirma chamar-se Fernandes Alexandre Teixeira, não tem documentos.
Diz que nasceu em Angola.
Que foi adoptado por um casal português, ela médica pediatra no Hospital de Santo António, no Porto; ele superintendente da polícia.
Que vivia no Porto, onde foi criado desde pequeno.
Que esteve, durante dois anos, no Internato Luís de Camões, em Ovar.
Que um padrinho o trouxe, ao engano, para Angola.
Que foi abandonado num centro comercial, depois de visitar uma "velha", alegadamente sua avó, mas que desmente qualquer vínculo com o miúdo.
As informações dadas pelo adolescente, que evidencia uma inteligência e desenvoltura anormal para a idade, não batem certo com a realidade.
A mãe/médica não trabalha onde ele diz trabalhar.
No internato não há registo da passagem do menino, que fala um português escorreito, sem o sotaque característico dos angolanos.
A morada que deu como sendo a sua e do casal não existe.
O número de telemóvel da mãe vai parar a um homem de Portimão.
O consulado português não consegue encontrar um fio que permita começar a desenrolar o novelo.
A rapaz foi acolhido num lar de Luanda, ligado ao Instituto Nacional de Apoio à Criança, mas por duas vezes fugiu.
A polícia também já lhe deu acolhimento para dormir, na esquadra.
Uma senhora de Luanda vai-lhe dando apoio e alimentação e, nos intervalos do trabalho, mantém contactos com instituições para encontrar o rasto à família do adolescente.
No meio de tanta discrepância sobressai o receio de se estar perante uma monumental mentira.
Mas a pergunta mantém-se: quem é este rapaz?
Tudo nesta história recambolesca está no condicional.
O miúdo, que afirma chamar-se Fernandes Alexandre Teixeira, não tem documentos.
Diz que nasceu em Angola.
Que foi adoptado por um casal português, ela médica pediatra no Hospital de Santo António, no Porto; ele superintendente da polícia.
Que vivia no Porto, onde foi criado desde pequeno.
Que esteve, durante dois anos, no Internato Luís de Camões, em Ovar.
Que um padrinho o trouxe, ao engano, para Angola.
Que foi abandonado num centro comercial, depois de visitar uma "velha", alegadamente sua avó, mas que desmente qualquer vínculo com o miúdo.
As informações dadas pelo adolescente, que evidencia uma inteligência e desenvoltura anormal para a idade, não batem certo com a realidade.
A mãe/médica não trabalha onde ele diz trabalhar.
No internato não há registo da passagem do menino, que fala um português escorreito, sem o sotaque característico dos angolanos.
A morada que deu como sendo a sua e do casal não existe.
O número de telemóvel da mãe vai parar a um homem de Portimão.
O consulado português não consegue encontrar um fio que permita começar a desenrolar o novelo.
A rapaz foi acolhido num lar de Luanda, ligado ao Instituto Nacional de Apoio à Criança, mas por duas vezes fugiu.
A polícia também já lhe deu acolhimento para dormir, na esquadra.
Uma senhora de Luanda vai-lhe dando apoio e alimentação e, nos intervalos do trabalho, mantém contactos com instituições para encontrar o rasto à família do adolescente.
No meio de tanta discrepância sobressai o receio de se estar perante uma monumental mentira.
Mas a pergunta mantém-se: quem é este rapaz?
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Os números do amigável Palancas Negras/Benfica
Os números do jogo entre a selecção angolana, os Palancas Negras, e o Benfica não páram de espantar.
Para além do pagamento de um milhão e oitocentos mil euros (o equivalente a dois milhões e meio de dólares) ao Benfica, para se deslocar a Luanda e disputar o jogo comemorativo dos 35 anos da independência de Angola, o preço cobrado pelos camarotes no Estádio 11 de Novembro atingiu a linda soma de mil dólares.
Talvez tenha sido pelo elevado valor dos bilhetes que poucas horas antes do início da partida, o movimento na procura desse sinais de estádio meio vazio.
A Federação Angolana de Futebol acabou por franquear as portas.
O estádio encheu.
E o angolanos gostaram da partida, apesar do Benfica ter batido a selecção nacional por dois golos a zero.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Massacre no Sahara Ocidental
As imagens que nos chegam do acampamento de Gdeim Izik confirmam que há um massacre em curso no Sahara Ocidental, por mais que Marrocos desminta o contrário.
As fotografias do jornal espanhol El Pais demonstram, com clareza, o tipo de intervenção ordenado por Rabat e devem servir de pretexto para que a ONU dê, finalmente, a oportunidade aos saharauis de decidirem, em referendo, o seu destino: se querem a autodeterminação, como aconteceu em Timor Leste, ou manterem-se sobre dominação de Marrocos, que ocupou a região quando Espanha abandonou, em 1975, o Sahara Ocidental.
O regresso a casa de Aminatu Haidar, presidente do Colectivo de Direitos Humanos do Sahara Ocidental, no final de Dezembro de 2009, depois de mais de 30 dias em greve de fome, em Lanzarote, foi um dos temas do Paralelos da primeira edição de 2010 (que pode ler clicando no Ler mais).
De lá para cá, a atitude de Marrocos mudou. Para pior, como se vê.
Evitar o massacre (crónica publicada no Novo Jornal)*
Se a Europa precisava de um pretexto para intervir na questão do Sahara Ocidental já a tem.
Se Espanha e França, o primeiro ex-potência colonial do Sahara Ocidental e o segundo de Marrocos, “esperavam por mortos” para condenar o regime de Mohammed VI “já os há”.
Se Espanha e França, o primeiro ex-potência colonial do Sahara Ocidental e o segundo de Marrocos, “esperavam por mortos” para condenar o regime de Mohammed VI “já os há”.
35 anos de Angola
No dia 11 de Novembro de 1975, Agostinho Neto proclamou a independência de Angola, um desejo que perpassa muitos dos seus versos.
Criar
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a floresta impúdica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
gargalhadas sobre o escárneo da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos
Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas simuladas
criar
criar amor com os olhos secos.
Criar
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a floresta impúdica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
gargalhadas sobre o escárneo da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos
Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas simuladas
criar
criar amor com os olhos secos.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
A marcha barrada
A violência doméstica é um fenómeno generalizado e alarmante em Angola.
As principais vítimas são as mulheres e as crianças.
Fartas de esperar pela aprovação do ante-projecto sobre a Lei da Violência Doméstica, há mais de dois anos na gaveta, a Plataforma da Mulher em Acção agendou uma marcha para hoje, entre a Praça 1º de Maio - Largo da Independência, terminando em frente à Assembleia Nacional, onde o grupo apresentaria uma petição.
A marcha não chegou ao seu destino.
Foi barrada por efectivos do Comando Municipal das Ingombotas da Polícia Nacional, sob pretexto de que não tinham sido notificados sobre a iniciativa.
A aprovação do ante-projecto sobre a Lei da Violência Doméstica também foi barrada.
Só não se sabe porquê, nem por quem.
Ou, pior, não se sabe se o ante-projecto foi travado por interesse de alguém.
Pela premência, nada justifica que ainda não tenha sido aprovado.
As principais vítimas são as mulheres e as crianças.
Fartas de esperar pela aprovação do ante-projecto sobre a Lei da Violência Doméstica, há mais de dois anos na gaveta, a Plataforma da Mulher em Acção agendou uma marcha para hoje, entre a Praça 1º de Maio - Largo da Independência, terminando em frente à Assembleia Nacional, onde o grupo apresentaria uma petição.
A marcha não chegou ao seu destino.
Foi barrada por efectivos do Comando Municipal das Ingombotas da Polícia Nacional, sob pretexto de que não tinham sido notificados sobre a iniciativa.
A aprovação do ante-projecto sobre a Lei da Violência Doméstica também foi barrada.
Só não se sabe porquê, nem por quem.
Ou, pior, não se sabe se o ante-projecto foi travado por interesse de alguém.
Pela premência, nada justifica que ainda não tenha sido aprovado.
domingo, 7 de novembro de 2010
Haja cabeça (os Tuneza, de novo)
Em dia de clássico no Dragão, entre o Porto e o Benfica, dei comigo a pensar que o futebol é um mundo à parte, eivado de alguma esquizofrenia e nonsense, patente quer na forma como os adeptos mais fervorosos vivem o jogo, quer nos debates que envolvem a modalidade.
Lembrei-me então de um debate dos tuneza sobre o primeiro jogo do CAN 2010 (Campeonato Africano das Nações), disputado em Angola, que opôs a equipa da casa (os Palancas Negras) à selecção do Mali.
Aos 79 minutos, Angola ganhava por quatro a zero, mas um golo do Mali, apontado por Seydou Keita, deu início à reviravolta. O jogo acabou empatado, para infelicidade dos adeptos angolanos que viram a vitória, em grande, perto.
Como nota final para os que não acompanharam o jogo, Flávio marcou dois golos de cabeça para os Palancas Negras.
* O segundo vídeo é um brinde, que paraboliza os debates desportivos, para conhecerem o quinteto humorístico, constituído pelos actores Daniel Vilola Francisco, Orlando Rodrigues, Gilmário Vemba, Cesalty Paulo e José Chieta, na altura num programa da TPA (Televisão Pública de Angola). Hoje, eles podem ser vistos na Zimbo, o primeiro canal televisivo privado de Angola.
sábado, 6 de novembro de 2010
Uma lufada de ar
Em 2003, José Saramago disse ao Jornal do Centro, de Viseu, uma frase que deu título à entrevista com o único Nobel da Literatura português: “Portugal já não se deixa ler. Só conseguimos soletrá-lo…”
Hoje nem sequer conseguimos ver e ouvir as notícias que vêm de lá.
Felizmente, há trabalhos que fogem ao fatalismo vigente e que valem a pena.
Ora, ouçam http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1704289
Parabéns a Nuno Amaral e a João Félix Pereira.
Hoje nem sequer conseguimos ver e ouvir as notícias que vêm de lá.
Felizmente, há trabalhos que fogem ao fatalismo vigente e que valem a pena.
Ora, ouçam http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1704289
Parabéns a Nuno Amaral e a João Félix Pereira.
O país de Antónia
Manecas Costa tornou-se nos últimos anos num dos embaixadores de um país e de um povo que nada têm a ver com a visão que o mundo tem deles por causa da instabilidade militar e política vivida na Guiné-Bissau.
O país de Antónia é feito de gente generosa, que trabalha, que reparte o pouco que tem e que distribui o seu sorriso, seja em Bissau ou em Caxeu (primeira capital da Guiné), seja em Portugal ou Angola.
Manecas Costa é representante de um povo sereno, simpático mas não servil, que deixa uma marca positiva por onde passa.
É sempre bom ouvir uma parte desse país que guardo no coração.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Simplesmente fabuloso
O encontro entre Narf (Galiza) e Manecas Costa (Guiné Bissau) resume-se numa palavra: fabuloso.
Deslocação milionária do Benfica
O Benfica vem a Luanda, no dia 10 de Novembro, véspera do 35º aniversário da Independência de Angola, disputar um jogo com a selecção nacional, as Palancas Negras, por 2 milhões e meio de dólares.
Isso mesmo.
Dois milhões e meio de dólares, ou seja um milhão e 800 mil euros, é quanto o Benfica cobra pela deslocação a sul.
Ninguém questiona o valor do plantel da Luz, nem o incómodo que sete horas de viagem para cá e sete horas de viagem para lá provoca nos seus jogadores, entre jogos importantes das competições portuguesas e europeias, mas lá que é um absurdo, isso é.
A não ser que, como escreve Gustavo Costa, no Novo Jornal (pode ler a crónica clicando no Ler mais), o clube de Luís Filipe Vieira se tenha transformado no Sport Angola e Benfica...
Isso mesmo.
Dois milhões e meio de dólares, ou seja um milhão e 800 mil euros, é quanto o Benfica cobra pela deslocação a sul.
Ninguém questiona o valor do plantel da Luz, nem o incómodo que sete horas de viagem para cá e sete horas de viagem para lá provoca nos seus jogadores, entre jogos importantes das competições portuguesas e europeias, mas lá que é um absurdo, isso é.
A não ser que, como escreve Gustavo Costa, no Novo Jornal (pode ler a crónica clicando no Ler mais), o clube de Luís Filipe Vieira se tenha transformado no Sport Angola e Benfica...
Humor a sério (crónica publicada no Novo Jornal)
Vai percorrer o país num carro funerário para sepultar a corrupção.
José Manuel Coelho é o mais recente candidato às eleições presidenciais portuguesas.O deputado do Partido da Nova Democracia (PND) na Assembleia Legislativa da Madeira, que se tornou célebre pela forma insólita como exerce a política, apresentou a candidatura assente num slogan lapidar: “Basta de pastéis, Coelho a Belém”. Porque, explica o candidato, o “povo já está farto dos pastéis que lhe têm indisposto a vida, dos cinzentões e situacionistas”.
José Manuel Coelho é o mais recente candidato às eleições presidenciais portuguesas.O deputado do Partido da Nova Democracia (PND) na Assembleia Legislativa da Madeira, que se tornou célebre pela forma insólita como exerce a política, apresentou a candidatura assente num slogan lapidar: “Basta de pastéis, Coelho a Belém”. Porque, explica o candidato, o “povo já está farto dos pastéis que lhe têm indisposto a vida, dos cinzentões e situacionistas”.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
A montra dos criminosos
Fotografia do jornal «O País»
Em Angola há uma prática que já devia ter sido abolida há muito tempo.
Quando a Polícia Nacional faz detenções chama os jornalistas e põe os alegados criminosos a assumirem publicamente a autoria dos crimes de que são acusados e a justificá-los.
Alinhados como numa montra e, por vezes, com folhas A4 coladas ao peito com a informação do crime cometido, a Polícia Nacional atropela todos os direitos dos acusados. E o principal deles é o direito à presunção de inocência, porque esta exibição pública é feita sem condenação em tribunal ou culpa judicialmente formada.
Felizmente que os orgãos de comunicação social, mais sensibilizados para os direitos dos cidadãos, começam a colocar sombra sobre os rostos dos visados e a preservar a sua identidade visual.
Numa altura em que se assistem a inúmeras detenções de titulares e ex-titulares de cargos públicos, por desvio de dinheiro e abuso de poder, entre outros crimes, não percebo porque não se generaliza a prática.
É que não há criminosos de primeira, nem de segunda. Há, simplesmente, criminosos.
Mas se o critério tende para a gravidade do crime, os segundos deviam ser exibidos publicamente e não os primeiros.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
A morte (no dia dos finados)
Os angolanos convivem frequentemente com a morte.
Ela está sempre presente e a rondar.
É arbitrária.
Leva velhos, jovens, crianças (muitas)
A guerra, primeiro; as doenças, os acidentes e o álcool, agora, cobiçam a vida.
E a morte está sempre por perto.
No início estranhei a facilidade com que os angolanos lidam com a morte.
Fazem o óbito.
E avançam.
Já perdi pessoas muito importantes e sei o que custou reagir e, custa ainda, aceitar.
Hoje percebo que os angolanos não têm menos desprezo por quem parte.
É pragmatismo.
Porque é preciso seguir em frente.
“(…)
Nada mudou para quem delega a glória.
Nada é tão grave que nos impeça os corpos.
Estamos aqui, sentados, sabendo que o conforto
é só cá dentro e a casa é cheia de alegria e festa
e a carne é fresca porque viva e alheia
à carne longe, retalhada e fria.
Somos de fato, em nosso apuro e com o nosso dote,
uma versão apenas indecisa
do nó que nos habita bem no centro.
Rapazes, raparigas,
que cada um empunhe a flor oculta
para inseri-la entre pernadas jovens.
A morte longe enquanto nos arder
à flor da boca
esta atenção pela florações dos outros.”
(Excerto do poema "Memória da guerra em julho" que pode ler na íntegra clicando no "Ler mais")
Ela está sempre presente e a rondar.
É arbitrária.
Leva velhos, jovens, crianças (muitas)
A guerra, primeiro; as doenças, os acidentes e o álcool, agora, cobiçam a vida.
E a morte está sempre por perto.
No início estranhei a facilidade com que os angolanos lidam com a morte.
Fazem o óbito.
E avançam.
Já perdi pessoas muito importantes e sei o que custou reagir e, custa ainda, aceitar.
Hoje percebo que os angolanos não têm menos desprezo por quem parte.
É pragmatismo.
Porque é preciso seguir em frente.
“(…)
Nada mudou para quem delega a glória.
Nada é tão grave que nos impeça os corpos.
Estamos aqui, sentados, sabendo que o conforto
é só cá dentro e a casa é cheia de alegria e festa
e a carne é fresca porque viva e alheia
à carne longe, retalhada e fria.
Somos de fato, em nosso apuro e com o nosso dote,
uma versão apenas indecisa
do nó que nos habita bem no centro.
Rapazes, raparigas,
que cada um empunhe a flor oculta
para inseri-la entre pernadas jovens.
A morte longe enquanto nos arder
à flor da boca
esta atenção pela florações dos outros.”
(Excerto do poema "Memória da guerra em julho" que pode ler na íntegra clicando no "Ler mais")
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Cor de chocolate
A minha filha de três anos (faltam dois meses e meio para fazer quatro) está na fase das pinturas.
Com o seu estojo de canetas de feltro, passa horas a dar cor a desenhos de vários livros.
Hoje, ao final da tarde, apareceu com o antebraço pintado de castanho.
Ralhei-lhe e disse-lhe que não voltasse a fazer o mesmo.
"Pintar é no papel, não na pele", expliquei.
À hora do jantar, a miúda vira-se para mim e diz: "Mãe, sabes porque é que pintei o braço?"
"Não", respondi.
"Queria ficar cor de chocolate".
As crianças dão-nos cada lição.
Basta estar atento.
Com o seu estojo de canetas de feltro, passa horas a dar cor a desenhos de vários livros.
Hoje, ao final da tarde, apareceu com o antebraço pintado de castanho.
Ralhei-lhe e disse-lhe que não voltasse a fazer o mesmo.
"Pintar é no papel, não na pele", expliquei.
À hora do jantar, a miúda vira-se para mim e diz: "Mãe, sabes porque é que pintei o braço?"
"Não", respondi.
"Queria ficar cor de chocolate".
As crianças dão-nos cada lição.
Basta estar atento.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
O feitiço de Ângela Ferrão
Finalmente encontrei um vídeo de Ângela Ferrão, no youtube, que possa partilhar.
Ouvi-a na rádio, há tempos, mas não consegui encontrar nenhum registo gravado. As poucas discotecas de Luanda restringem-se aos nomes mais comerciais e os vendedores de cd's piratas, que proliferam pelas ruas da capital, vendem o que está "a bater" no momento.
É pena, porque a música genuinamente angolana vai-se perdendo na máquina trituradora do gosto massificado.
Adiante.
«Wanga» (feitiço) é uma mostra desta cantora, natural de Amboim, município da Gabela, mas que cresceu no Wako Kungo, província do Kwanza-Sul.
Ângela Ferrão seguiu as pisadas do pai, Lito Ferrão, um exímio guitarrista e compositor, que deu nas vistas na década de 80 no Festival da Canção Política e que se mantém como um das referências musicais daquela província.
Depois de participar em vários festivais de música em Luanda, que lhe deram visibilidade, a cantora, nascida em 1976, lançou o disco "Wanga" (feitiço em kimbundu), de onde foi extraído este vídeo, e prepara o segundo trabalho que aguardo com expectativa, porque, para além da voz, Ângela mantém-se fiel às suas raízes. E às tradições culturais de Angola.
A sua música é um (bom) feitiço.
Amílcar Cabral para os mais novos
O Teatromosca estreia amanhã, em Sintra, Portugal, uma peça de Miguel Horta, encenada por Suzana Barros, sobre o independentista Amílcar Cabral.
“A tarde vai caindo melancólica como sucede em África. O kora de mestre Galissa vai dando a atmosfera em cena, com as suas toadas e cantos ancestrais da tradição Mandinga.”
“A tarde vai caindo melancólica como sucede em África. O kora de mestre Galissa vai dando a atmosfera em cena, com as suas toadas e cantos ancestrais da tradição Mandinga.”
A fábula da capoeira (crónica publicada no Novo Jornal)
Uma capoeira, com centenas de galinhas e alguns galos, possantes, altivos.
Um incêndio no celeiro. Do fogo salva-se uma parcela de comida. Escassa para tantas cabeças.
Os galos, em reunião restrita, decidem que algumas das aves têm de ser enxotadas da capoeira, porque a comida não chega para todos.
Um incêndio no celeiro. Do fogo salva-se uma parcela de comida. Escassa para tantas cabeças.
Os galos, em reunião restrita, decidem que algumas das aves têm de ser enxotadas da capoeira, porque a comida não chega para todos.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
A chuva
Chove em Luanda.
Com força.
Há dois dias que o céu está carregado.
Cinzento. Escuro.
Hoje chove. Com intensidade.
A chuva varre as ruas.
Empurra o entulho.
Desanuvia a atmosfera.
Desasossega quem vive na periferia.
As ruas lamacentas transformam-se em leitos.
Os rios improvisados desaguam nas casas.
Entram por elas; estragam os haveres de quem lá vive.
Instala-se o caos e a destruição nos musseques.
As casas encavalitadas nas encostas cedem.
Os morros estremecem.
Chove em Luanda.
E quando chove há um misto de alegria e dor.
A água que gera vida, também destrói. E mata.
De noite mal se dorme.
É preciso estar alerta.
A chuva traz, mas também leva.
Chove em Luanda.
O céu está mais claro.
A terra mais escura para lá do asfalto.
Mais um jornalista atacado (2)
António Manuel «Jojó» já está em casa a recuperar da agressão de que foi vítima, na quinta-feira.
O autor de «Njando», programa de grande audiência da rádio Despertar, onde o jornalista, com o recurso ao humor e à sátira, vai criticando o que o rodeia, está bem e no sábado, via telefone, falou para os seus ouvintes.
Ao contrário do que chegou a ser veiculado, «Jojó» não foi baleado. Também não saía de casa, mas de um espaço de convívio que frequenta habitualmente.
As informações que foram sendo conhecidas após as primeiras horas eram contraditórias e foi o próprio jornalista que, aos microfones da Despertar, relatou dois dias depois os acontecimentos.
O ataque aconteceu cerca das 23h00 de quinta-feira, quando foi abordado por quatro indivíduos que se apresentaram como fãs do seu programa. Um deles abraçou-o e os outros três deram-lhe apertos de mão.
Quando entrou no carro, «Jojó» sentiu que as calças estavam molhadas, apercebendo-se então que tinha sido ferido no abdómen com um objecto cortante que, segundo ele, deverá ter sido um bisturi ou uma lâmina.
Em directo no horário do seu programa, emitido aos sábados das 09h00 às 11h00, o jovem jornalista preferiu não ver a agressão como um acto político, apesar de não perceber a atitude dos indivíduos que o atacaram. Mas deixou claro que não ia desencorajá-lo e que continuará a apresentar «Njando», nome de uma dança tradicional de Benguela, em Umbundo.
Como sinal, pediu ao realizador da rádio Despertar para repor o programa do sábado anterior.
A sua voz voltou a ouvir-se em diferido, até que regresse em directo.
O autor de «Njando», programa de grande audiência da rádio Despertar, onde o jornalista, com o recurso ao humor e à sátira, vai criticando o que o rodeia, está bem e no sábado, via telefone, falou para os seus ouvintes.
Ao contrário do que chegou a ser veiculado, «Jojó» não foi baleado. Também não saía de casa, mas de um espaço de convívio que frequenta habitualmente.
As informações que foram sendo conhecidas após as primeiras horas eram contraditórias e foi o próprio jornalista que, aos microfones da Despertar, relatou dois dias depois os acontecimentos.
O ataque aconteceu cerca das 23h00 de quinta-feira, quando foi abordado por quatro indivíduos que se apresentaram como fãs do seu programa. Um deles abraçou-o e os outros três deram-lhe apertos de mão.
Quando entrou no carro, «Jojó» sentiu que as calças estavam molhadas, apercebendo-se então que tinha sido ferido no abdómen com um objecto cortante que, segundo ele, deverá ter sido um bisturi ou uma lâmina.
Em directo no horário do seu programa, emitido aos sábados das 09h00 às 11h00, o jovem jornalista preferiu não ver a agressão como um acto político, apesar de não perceber a atitude dos indivíduos que o atacaram. Mas deixou claro que não ia desencorajá-lo e que continuará a apresentar «Njando», nome de uma dança tradicional de Benguela, em Umbundo.
Como sinal, pediu ao realizador da rádio Despertar para repor o programa do sábado anterior.
A sua voz voltou a ouvir-se em diferido, até que regresse em directo.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Mais um jornalista atacado
António Manuel «Jojó» está entre a vida e a morte.
O jornalista da Rádio Despertar, autor de um programa de intervenção social muito crítico do actual «status quo», foi baleado ontem quando saía de casa para ir trabalhar.
O colega da mesma estação radiofónica ligada à UNITA, Alberto Chakusanga, foi morto no dia 5 de Setembro em sua casa, por dois homens que baterem à porta e dispararam vários tiros na sua direcção.
Desta vez esperaram que o alvo saísse de casa. E balearam-no. «Jojó» trava a luta da sua vida, numa clínica de Luanda: resistir à morte.
A sua voz nunca se calou, nem mesmo perante as ameaças. “Estou preparado para morrer”, dizia aos colegas que o recordam neste dia.
Ninguém está preparado para morrer, mas há quem esteja disposto a pagar o preço mais alto pela liberdade de informar e dizer o que pensa.
«Jojó» é o terceiro jornalista angolano a ser baleado no espaço de dois meses. Alberto Chakusanga morreu; um jornalista da TV Zimbo, baleado numa perna, está em risco de não voltar a andar. Outros dois viram as suas casas assaltadas, de um dos assaltos levaram só o computador pessoal.
A associação Repórteres sem Fronteiras divulgou um número de alerta para onde devem ligar os jornalistas que se sentem ameaçados. Esta semana a associação, com sede em Paris, difundiu um relatório onde conclui que Angola é o país lusófono mais perigoso para o exercício do jornalismo, figurando em 104º lugar a nível internacional.
No meio disto tudo onde pára o Sindicato dos Jornalistas angolanos?
É que ainda não se ouviu a sua voz.
E devia.
E agora? (crónica publicada no Novo Jornal)
“A medicina ainda tem limites”. Com esta frase crua o cirurgião pediatra Gentil Martins matou a esperança de salvar os bebés siameses que partiram na passada semana para Portugal em busca de vida.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Isso é Kuduro
Lá fora, acumula prémios. Nas televisões brasileiras já há concursos de kuduro (dança), mas há que convir que ninguém faz aquele jogo de pernas como os angolanos... a não ser este pequeno bailarino chinês.
O valor da vida humana (crónica publicada no Novo Jornal)
No ano do seu bicentenário, o Chile viveu o céu e o inferno.
Foi abanado por um terramoto devastador; assistiu a um tsunami destruidor; testemunhou um desabamento que enclausurou 33 homens dentro de uma mina; e acompanhou o resgate das entranhas da terra dos 33 mineiros que simbolizam a coesão nacional e que representam o resgate de valores, como a segurança e o respeito pela vida humana.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Exemplar
A polícia angolana tem má imagem, muito por causa da «gasosa», como é conhecido na gíria o suborno, mas há quem fuja ao retrato.
Um casal que vive em Luanda, no regresso sofrido de uma ida à clínica com uma filha menor, pisou um traço contínuo numa manobra proibida e, ups, um agente do Trânsito, que testemunhou a transgressão, mandou parar o veículo.
"Pronto, lá vamos ter de largar a nota", pensou a mulher, enquanto a filha ao seu lado gemia de dor.
O agente pediu os documentos ao condutor; observou-os atenta e educadamente e interpelou: "O senhor viu que pisou um traço contínuo?"
"Vi", respondeu o homem, explicando, sem subterfúgios, que vinha da clínica (a 300 metros) com a filha que estava doente, que a sua casa era naquela direcção e, como já perdera muito tempo, para não atrasar mais a chegada ao emprego, arriscara a manobra.
O jovem polícia ouviu o relato sem pestanejar, manifestou compreensão com o momento vivido pelo casal, mandou guardar os documentos, deu ordens para seguirem viagem, advertindo que não voltasse a repetir a transgressão, e desejou um bom resto de dia.
Uma atitude exemplar, que prova que nem todos os agentes andam atrás da «gasosa», e que aconselha prudência na generalização.
Um casal que vive em Luanda, no regresso sofrido de uma ida à clínica com uma filha menor, pisou um traço contínuo numa manobra proibida e, ups, um agente do Trânsito, que testemunhou a transgressão, mandou parar o veículo.
"Pronto, lá vamos ter de largar a nota", pensou a mulher, enquanto a filha ao seu lado gemia de dor.
O agente pediu os documentos ao condutor; observou-os atenta e educadamente e interpelou: "O senhor viu que pisou um traço contínuo?"
"Vi", respondeu o homem, explicando, sem subterfúgios, que vinha da clínica (a 300 metros) com a filha que estava doente, que a sua casa era naquela direcção e, como já perdera muito tempo, para não atrasar mais a chegada ao emprego, arriscara a manobra.
O jovem polícia ouviu o relato sem pestanejar, manifestou compreensão com o momento vivido pelo casal, mandou guardar os documentos, deu ordens para seguirem viagem, advertindo que não voltasse a repetir a transgressão, e desejou um bom resto de dia.
Uma atitude exemplar, que prova que nem todos os agentes andam atrás da «gasosa», e que aconselha prudência na generalização.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Pelos direitos humanos
Mulher de Xiaobo, a poetisa Liu Xia, sobre uma foto do marido
A atribuição do prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo é uma decisão justíssima e de grande coragem do Comité Nobel.
O activista chinês foi escolhido pela sua longa e não violenta luta pelos direitos fundamentais na China, que já o levou, por várias vezes, à prisão, onde se encontra actualmente.
O comité Nobel não cedeu às pressões da China que, através de um responsável político, advertiu para as consequências que uma decisão destas acarretaria em termos de diplomacia.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês chegou mesmo a ameaçar, em Setembro, que os negócios noruegueses na China ficariam em risco, numa referência explícita à Statoil, um dos gigantes do petróleo, se o Nobel da Paz fosse atribuído a Liu Xiaobo.
Com a escolha do activista, o Comité Nobel mostra que há interesses mais elevados do que o negócio e que não há lugar no mundo para mordaças, seja em que hemisfério for.
Ar, apenas (crónica publicada no Novo Jornal)
O Prémio Camões de 2010, o poeta brasileiro Ferreira Gullar, não gosta de Lula da Silva. Diz que o actual Presidente do Brasil é uma figura “inacreditável”, que “não entende nada, é inteligente e esperto” e “só pensa em votos e popularidade” não indo “a fundo nas questões do país”.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
De dedo em riste (crónica publicada no Novo Jornal)
Ora ai está um exemplo que eu gostaria de ver reproduzido.
O Parlamento islandês anunciou que vai processar o ex-primeiro-ministro Geir Haarde, que governava o país na altura em que o sistema financeiro colapsou e a Islândia esteve à beira da bancarrota, por “negligência”.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Número internacional de emergência para os jornalistas
A organização francesa Repórteres sem Fronteiras está atenta ao que se passa em Angola e já transmitiu aos jornalistas angolanos um número de telefone que está disponível 24 horas por dia e que deve ser usado em caso de detenções arbitrárias, ameaças de morte ou qualquer outra emergência relacionada com o trabalho jornalístico.
0033 1 47 77 74 14
sábado, 25 de setembro de 2010
Coincidência?
Em Luanda abriu a caça ao jornalista.
No dia 5 de Setembro foi morto a tiro um jornalista da Rádio Despertar.
Um grupo de homens bateu à porta da casa de Alberto Chakusanga, à uma da madrugada, e desferiu vários tiros sobre o jornalista, de 32 anos de idade.
No último fim-de-semana, as residências de dois jornalistas do semanário «O País» foram assaltadas.
De uma levaram vários haveres; de outra apenas o computador pessoal do repórter.
Na segunda-feira, um jornalista da TV Zimbo foi baleado num pé, ao final do dia, por um grupo de homens que seguiu caminho.
O receio está instalado entre a classe.
Ninguém acredita que quatro casos, no espaço de um mês, sejam mera coincidência.
No dia 5 de Setembro foi morto a tiro um jornalista da Rádio Despertar.
Um grupo de homens bateu à porta da casa de Alberto Chakusanga, à uma da madrugada, e desferiu vários tiros sobre o jornalista, de 32 anos de idade.
No último fim-de-semana, as residências de dois jornalistas do semanário «O País» foram assaltadas.
De uma levaram vários haveres; de outra apenas o computador pessoal do repórter.
Na segunda-feira, um jornalista da TV Zimbo foi baleado num pé, ao final do dia, por um grupo de homens que seguiu caminho.
O receio está instalado entre a classe.
Ninguém acredita que quatro casos, no espaço de um mês, sejam mera coincidência.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Revelação africana
Maurice Kirya conquistou quarta-feira o primeiro lugar nos Prémios Revelações da Música Africana e países do Oceano Índico e das Caraíbas «Découvertes 2010» da RFI (Rádio França Internacional).
O reconhecimento internacional de um jovem (26 anos) activista social que, a par da música, tem abraçado várias causas no seu país.
Com apenas um disco editado, «Misubaawa», Maurice Kirya já tinha sido nomeado para o Prémio Kora, em 2005 e 2010, e foi o vencedor do concurso Music Awards Africano, realizado em 2007, no Uganda.
Regresso com o Atlântico
No regresso de férias, retomo a viagem com as cores do Atlântico, este imenso oceano que nos une.
Um exemplo só (crónica publicada no Novo Jornal)
Os chefes de Estado e de Governo reunidos em Nova Iorque na Cimeira dos Objectivos do Milénio, que terminou ontem, não têm grandes motivos para sorrir.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Direito à preguiça (crónica publicada no Novo Jornal)
- O teu irmão Galal. Dormir durante sete anos! Que artista!
- Achas que ele é artista?
- Claro. É o que eu tento explicar aos imbecis cá do bairro que vos tomam por uns mandriões.
- Mas isso é verdade. Por que razão contradizê-los?
- São uns burros, digo-te eu. Não compreendem a beleza que há nessa preguiça. Vocês são uma família extraordinária. E tu, Rafik, és o único homem inteligente que há no mundo.
- Achas que ele é artista?
- Claro. É o que eu tento explicar aos imbecis cá do bairro que vos tomam por uns mandriões.
- Mas isso é verdade. Por que razão contradizê-los?
- São uns burros, digo-te eu. Não compreendem a beleza que há nessa preguiça. Vocês são uma família extraordinária. E tu, Rafik, és o único homem inteligente que há no mundo.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Orchestra Baobab
É uma orquestra com toda a propriedade. Baobab, de seu nome. É do Senegal e espalha sons e sopros pelo mundo. Um espanto.
sábado, 14 de agosto de 2010
Ruy Duarte de Carvalho - 1941/2010
A gravação do rosto
Na superfície branca do deserto
na atmosfera ocre das distâncias
no verde breve da chuva de Novembro
deixei gravado meu rosto
minha mão
minha vontade e meu esperma;
prendi aos montes os gestos da entrega
cumpri as trajectórias do encontro
gravei nas águas a fúria da conquista
da devolução do amor.
Os calcários e os granitos desta terra
foram por mim pesados.
Dei-lhes afagos
leves olhares
insónias longas
impacientes esperas.
O zinco dos telhados cobriu-me solidões
e esperanças que tu sabes.
Esperei por ti
Bordei-te flores nos canteiros do céu
abri-te valas, semeei-te milhos
pari colheitas de searas vãs
abri os dedos, semeei calhaus.
Espremi a terra e fiz-lhe água nascente
povoei prados de criaturas doces
ergui torres, girassóis gigantes
dei vida e morte, vi nascer, morrer.
Aqui reinei, julguei, plantei videiras
caminhos, grutas de vestígios
colhi olhares de animais bravios
deixei aos dedos aladas liberdades.
Empilhei madrugadas de atenção
disparei molas, carabinas frias
de traição ao vento.
Combati silêncios, instalei trincheiras
de perdão. Recebi recados de mongólias vastas
acendi fogueiras
para sufocar o medo.
Aqui sonhei europas, verdes ásias
cidades de cristais, antárdidas caiadas
daqui refiz a lua de astronautas;
contei estrelas colhi algumas
para dormir com elas.
Aqui ejaculei delírios verdes
que a madrugada insinua e vence.
Aqui colhi primícias de virgens escandinavas
e coroei outeiros e o meu sexo
com as suas tranças de ouro.
Saltei de monte em monte
e naveguei o ventre do deserto
assinalei o umbigo do mundo e plantei setas
apontando o sexo fundo da terra.
Beijei a carne universal e húmida de uma fêmea em cio,
menstruada.
Aqui me dei, aqui me fiz
desfiz, refiz amores.
Aqui me embebedei e vomitei o espanto.
Daqui abalo hoje, parido para o nada
apalpo a água
afago um bicho
ordeno qualquer coisa
e vou.
(Memória de tanta guerra)
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Dias difíceis
A imprensa de Angola vive dias difíceis.
A edição de 7 de Agosto de «A Capital», um dos três semanários dados como vendidos em Maio, alegadamente ao mesmo grupo, desapareceu da gráfica e não chegou às bancas.
A directora administrativa e financeira da publicação, segundo o Novo Jornal, fecha-se em copas.
Não explica o que aconteceu.
Os jornalistas resguardam-se no silêncio.
E a versão conhecida dos factos, aquela que foi noticiada pela Voz da América, revela censura.
Os novos proprietários do título, pessoas próximas do gabinete do Presidente da República, não terão gostado do editorial.
A coluna questionava o preço das casas sociais (60 mil dólares), anunciado pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, uma semana antes.
O argumento era que o cidadão comum, perante a exiguidade do salário, não tinha como pagar as casas de um projecto lançado, após as legislativas, com o objectivo de dar um tecto a todos os angolanos.
Os novos donos do semanário tentaram demover o articulista, instando-o a reescrever o artigo.
Em vão.
O jornal foi impresso com a versão original.
Mas os 3.500 exemplares de «A Capital» não chegaram a sair da gráfica.
Desapareceram antes de ir para a mão dos ardinas.
E este é um facto indesmentível.
Como também o é a perseguição que a polícia de Luanda move contra os jornais privados, apreendendo-os na via pública, o que "configura um atentado à liberdade de imprensa nos termos do artigo 76, da Lei de Imprensa", como denunciou o Conselho Nacional de Comunicação Social, na sua última deliberação.
Contra os jornais públicos não se conhecem semelhantes práticas.
E assim vão os dias na imprensa angolana...
A edição de 7 de Agosto de «A Capital», um dos três semanários dados como vendidos em Maio, alegadamente ao mesmo grupo, desapareceu da gráfica e não chegou às bancas.
A directora administrativa e financeira da publicação, segundo o Novo Jornal, fecha-se em copas.
Não explica o que aconteceu.
Os jornalistas resguardam-se no silêncio.
E a versão conhecida dos factos, aquela que foi noticiada pela Voz da América, revela censura.
Os novos proprietários do título, pessoas próximas do gabinete do Presidente da República, não terão gostado do editorial.
A coluna questionava o preço das casas sociais (60 mil dólares), anunciado pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, uma semana antes.
O argumento era que o cidadão comum, perante a exiguidade do salário, não tinha como pagar as casas de um projecto lançado, após as legislativas, com o objectivo de dar um tecto a todos os angolanos.
Os novos donos do semanário tentaram demover o articulista, instando-o a reescrever o artigo.
Em vão.
O jornal foi impresso com a versão original.
Mas os 3.500 exemplares de «A Capital» não chegaram a sair da gráfica.
Desapareceram antes de ir para a mão dos ardinas.
E este é um facto indesmentível.
Como também o é a perseguição que a polícia de Luanda move contra os jornais privados, apreendendo-os na via pública, o que "configura um atentado à liberdade de imprensa nos termos do artigo 76, da Lei de Imprensa", como denunciou o Conselho Nacional de Comunicação Social, na sua última deliberação.
Contra os jornais públicos não se conhecem semelhantes práticas.
E assim vão os dias na imprensa angolana...
Para lá da ficção (crónica publicada no Novo Jornal)
É um lugar comum dizer que a realidade supera a ficção. Mas há histórias que ultrapassam de tal forma aquilo que julgávamos possível que justificam a repetição do axioma.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Um exemplo de Homem e de religioso
Calou-se ontem, vítima de AVC, uma das vozes mais ouvidas em Angola.
O frade franciscano ergueu-se sempre que foi preciso e, com a sua postura dessassombrada, tornou-se numa das vozes mais ouvidas em Angola, usando as suas características de líder, a favor dos mais necessitados.
Em 2008, foi eleito pela redacção do Novo Jornal como «figura da sociedade civil do ano» por se ter feito porta-voz na "denúncia implacável da corrupção, da violência doméstica, da feitiçaria, da violação dos direitos humanos e em defesa da liberdade de imprensa, do respeito pelo género e do direito à diferença".
E fê-lo sempre sem perder a humildade, sem falsos moralismos, como Homem e religioso do seu tempo, no tempo exacto.
O frei João Domingos foi um exemplo de pastor que está sempre atento aos perigos que ameaçam o seu rebanho. Nunca se colocou à frente, nem ao lado dele, mas no meio. Entre os que dele necessitavam.
Vai fazer falta a Angola. Muita.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Complexo da cor
O complexo da cor em Angola, como noutros países, não se resolve por decreto. Ultrapassa-se com educação. Aos políticos cabe dizê-lo, como já fez o rapper angolano Yannick Afroman. Mas há que ouvi-lo bem e até ao fim para que a revolução mental se faça. Porque há muito quem interprete mal a mensagem do compositor mais político de Angola.
Dicionário abreviado do
mwangolé (angolano) - português
Banda - rua, bairro
Bumbo - homem negro
Pula - homem branco, proveniente de Portugal (em calão)
Mundele - homem branco (em quimbundo)
Bué - muito
Laton - mulato
Latona - mulata
Matumbo - boçal, rafeiro, ignorante
domingo, 8 de agosto de 2010
Nomes
sábado, 7 de agosto de 2010
Informação a cores
O consumo de álcool em Angola é um assunto sério e merecedor de atenção.
Bebe-se cada vez mais e cada vez mais cedo.
Homens, mulheres, jovens e até crianças entregam-se à bebida, sem freios.
E há quem, por ganância, ajude a manter o gargalo da garrafa para baixo.
Como se não bastassem as festas organizadas pelas marcas de bebidas alcoólicas, que promovem o consumo entre os mais novos, associando o glamour das estrelas musicas ao álcool.
Há quem encontre na fermentação caseira um negócio de alto rendimento. Com baixos custos de produção e rentabilidade máxima, como bem retrata esta reportagem da TV Zimbo.
O canal privado surgiu há um ano e revolucionou o panorama televisivo, que até aí contava com dois canais públicos.
A TPA1, um canal cinzento e com uma informação parcial.
E a TPA2 que, sob gestão privada, tem uma programação cor-de-rosa, limitada a programas light’s e sem conteúdo informativo.
Para além de uma informação a cores, a TV Zimbo teve o grande mérito de colocar um espelho sobre Angola.
Falta cuidar da restante programação.
E retirar da antena os programas que achincalham as pessoas que, supostamente, vão à procura de justiça. Porque essa não é feita nos ecrãs de televisão, muito menos com os critérios utilizados. Ou falta deles.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Ciência, pois! (crónica publicada no Novo Jornal)
A ciência é uma das maravilhas do mundo e, nos últimos anos, tem avançado a um ritmo alucinante fazendo da ficção científica um conceito obsoleto.
Há, no entanto, domínios onde a ciência é de difícil penetração e aquilo que ela proporciona gerador de desordem. Resistência. Condenação.
Há, no entanto, domínios onde a ciência é de difícil penetração e aquilo que ela proporciona gerador de desordem. Resistência. Condenação.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Mário Bettencourt Resendes (1952-2010)
Foto: Diário de Notícias
De tudo o que se disse e escreveu sobre Mário Bettencourt Resendes destaco uma frase do músico Pedro Abrunhosa, com um sublinhado meu: "Era uma pessoa com uma cultura vastíssima e impermeável às influências, características que hoje escapam aos jornalistas".
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Uma Affrikkanitha jazzy
Afrikkanitha é um nome do jazz angolano e uma das promessas do afro jazz.
Aos 33 anos, a cantora e compositora surge com um álbum, produzido pelo marido, Simmons Massini, onde ultrapassa fronteiras musicais e linguísticas.
Afrikkanitha mistura em «Weza» o soul, com o jazz, o rock e o funk, cantado em inglês, francês, português e em dialectos africanos, como o bantu, mas o registo nunca abandona o jazz, o seu território natural.
Sobre ela, o crítico de jazz angolano, Jerónimo Belo escreveu: “Afrikkanitha é a mais jazzy cantora angolana, mulher de grande futuro. Atente-se na qualidade e inteligência da voz, a ciência com que aborda os versos, o notável sentido do tempo, a competência de quem sabe que a paixão não basta para fazer uma boa profissional. E ainda um evidente bom gosto na escolha do reportório e dos companheiros musicais. Esta mulher, a Afrikkanitha, uma das coisas que melhor sabe fazer é, certamente, cantar”.
Basta ouvi-la para perceber o que Jerónimo Belo quis dizer.
Quem as controla?
Foto: Afonso Francisco/Novo Jornal
Em Luanda, as motos não se submetem ao Código de Estrada.
Não obedecem a regras.
Só à vontade de quem as conduz.
E parece que vivem num mundo à parte.
É vê-las a circular no asfalto,
nos passeios,
e nos locais destinados exclusivamente a peões.
Elas passam sinais vermelhos,
nas barbas da polícia, que nem pestaneja à sua passagem.
Andam em contramão, até nas vias de sentido único,
e surgem de qualquer lado, mesmo dos mais inusitados.
Circulam com mais do que um passageiro - às vezes dois, às vezes mais - sem qualquer acessório de segurança, como o capacete que, segundo o novo Código de Estrada, é obrigatório.
Acessório, aliás, que para os motociclistas não passa de um adereço, sujeito a modas, como a que agora está em voga: o capacete de cavaleiro.
É um adereço bonito, mas numa moto não serve para nada, para além de segurar o penteado.
Em Luanda, as motos são mais perigosas e letais do que qualquer outro veículo que com elas disputa o asfalto.
E matam muitos jovens.
Porque não há quem as controle.
Só não percebo porquê?
sábado, 31 de julho de 2010
Reconstrução? (crónica publicada no Novo Jornal)
Uma auditoria federal ao fundo para a reconstrução do Iraque, criado há seis anos, pelo Conselho de Segurança da ONU, deixa o Pentágono em maus lençóis. E põe em evidência o fracasso da intervenção militar, em 2003, que não passou de uma invasão premeditada e com fins diferentes dos que foram proclamados, como testemunhou uma vez mais Hans Blix, um dos maiores opositores à guerra do Iraque.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Desafio imbecil e criminoso.
Três jovens do bairro de S. Paulo, Sambizanga, foram desafiados a beber 45 garrafinhas de whisky, em troca de dois mil kwanzas (o equivalente a 10 euros).
Antes de chegarem às 30 garrafas, dois tombaram mortos.
O terceiro entrou em estado de coma.
Antes de chegarem às 30 garrafas, dois tombaram mortos.
O terceiro entrou em estado de coma.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Grávidas fora da escola
Em Luanda, há uma escola - o Instituto Médio Politécnico do Sambizanga - que manda as grávidas para casa.
Por estarem grávidas.
Só regressam para fazer provas ou depois de terem o bebé.
Sempre que há suspeitas, a aluna é convocada ao gabinete do director; fazem-lhe um exame; e, se for confirmada a gravidez, vai para casa.
O director diz que não as proíbe de frequentarem as aulas.
Que as aconselha a ficarem em casa.
Para as ajudar.
Porque as "grávidas têm a mania de estar sempre a salivar e a levantar-se para ir à casa de banho" e, por isso, "não conseguem prestar atenção às aulas".
A directora nacional para o Ensino Geral diz que nenhum director de escola tem competência para suspender uma aluna em situação de gravidez.
E que este facto vai contra os princípios do programa de educação sexual que o ministério vem levando a cabo desde 2006.
Mas o que o Instituto Médio Politécnico do Sambizanga faz é mais grave.
Comete várias ilegalidades: obriga alunas, algumas maiores de idade, a fazerem testes médicos, quando só um juiz está habilitado a fazê-lo; impede que a estudante exerça um direito que é seu: frequentar a escola; e prejudica o seu percurso académico.
Por coerência, não resta ao Ministério da Educação outra alternativa senão mandar o director para casa.
Porque tem a mente estéril de sabedoria e grávida de preconceitos.
Por estarem grávidas.
Só regressam para fazer provas ou depois de terem o bebé.
Sempre que há suspeitas, a aluna é convocada ao gabinete do director; fazem-lhe um exame; e, se for confirmada a gravidez, vai para casa.
O director diz que não as proíbe de frequentarem as aulas.
Que as aconselha a ficarem em casa.
Para as ajudar.
Porque as "grávidas têm a mania de estar sempre a salivar e a levantar-se para ir à casa de banho" e, por isso, "não conseguem prestar atenção às aulas".
A directora nacional para o Ensino Geral diz que nenhum director de escola tem competência para suspender uma aluna em situação de gravidez.
E que este facto vai contra os princípios do programa de educação sexual que o ministério vem levando a cabo desde 2006.
Mas o que o Instituto Médio Politécnico do Sambizanga faz é mais grave.
Comete várias ilegalidades: obriga alunas, algumas maiores de idade, a fazerem testes médicos, quando só um juiz está habilitado a fazê-lo; impede que a estudante exerça um direito que é seu: frequentar a escola; e prejudica o seu percurso académico.
Por coerência, não resta ao Ministério da Educação outra alternativa senão mandar o director para casa.
Porque tem a mente estéril de sabedoria e grávida de preconceitos.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Mudar de nome (crónica publicada no Novo Jornal)
Os teóricos do PSD de Pedro Passos Coelho têm um dilema em mãos.
Não. Não é a proposta de revisão constitucional apresentada pelo seu líder, mas decorre dela.
O partido português vai ter de rever o seu nome ou então, se quiser manter as siglas, deve fazer ajustes que não ponham em causa a seriedade dos seus dirigentes, os actuais, é claro, sob pena de serem acusados de não conhecer a história da organização.
Não. Não é a proposta de revisão constitucional apresentada pelo seu líder, mas decorre dela.
O partido português vai ter de rever o seu nome ou então, se quiser manter as siglas, deve fazer ajustes que não ponham em causa a seriedade dos seus dirigentes, os actuais, é claro, sob pena de serem acusados de não conhecer a história da organização.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Se as árvores falassem...
Fotos Carlos Alberto Henriques «Cabeto»,
no Dombe Grande
Se as árvores falassem contariam histórias:
de vidas que espiaram;rostos que abrigaram;
amores que recolheram;
lágrimas que esconderam;corpos que refrescaram;
silêncios que aconchegaram;
conversas que ampararam;
envelhecimento que acompanharam;
murmúrios que só elas ouviram e que se falassem contavam.
Se as árvores…
terça-feira, 20 de julho de 2010
O cobrador de fraque (2)
E não é que isto está mesmo tudo ligado!
Em Maio deste ano, o ministro português das Obras Públicas, António Mendonça, ouviu alguns empresários lusos em Luanda a queixarem-se e a equacionarem a possibilidade de pararem as obras que tinham em Angola caso o Estado angolano não começasse a pagar a dívida.
O ministro, num encontro organizado pelo AICEP, optou pelo optimismo, realçando que os problemas tinham uma "natureza conjuntural".
E lembrou que duas semanas antes, o ministro das Finanças português, Teixeira dos Santos, esteve em Angola a trabalhar com o seu homólogo angolano na operacionalização de uma linha de crédito, no valor de 500 milhões de euros, criada em 2009 e que, segundo o titular da pasta das Finanças, iria "finalmente" ser activada e usada por Angola para essencialmente pagar às constructoras.
Depreendo, portanto, que essa linha esteja "finalmente" operacional e que o Estado português, perdão, angolano vai começar a pagar às empresas portuguesas.
Fico na dúvida, porque isso José Eduardo dos Santos não disse.
E Cavaco Silva também não.
Em Maio deste ano, o ministro português das Obras Públicas, António Mendonça, ouviu alguns empresários lusos em Luanda a queixarem-se e a equacionarem a possibilidade de pararem as obras que tinham em Angola caso o Estado angolano não começasse a pagar a dívida.
O ministro, num encontro organizado pelo AICEP, optou pelo optimismo, realçando que os problemas tinham uma "natureza conjuntural".
E lembrou que duas semanas antes, o ministro das Finanças português, Teixeira dos Santos, esteve em Angola a trabalhar com o seu homólogo angolano na operacionalização de uma linha de crédito, no valor de 500 milhões de euros, criada em 2009 e que, segundo o titular da pasta das Finanças, iria "finalmente" ser activada e usada por Angola para essencialmente pagar às constructoras.
Depreendo, portanto, que essa linha esteja "finalmente" operacional e que o Estado português, perdão, angolano vai começar a pagar às empresas portuguesas.
Fico na dúvida, porque isso José Eduardo dos Santos não disse.
E Cavaco Silva também não.
O cobrador de fraque (1)
Não resisti a publicar esta imagem, que me enviaram do blogue, http://www.wehavekaosinthegarden.blogspot.com/.
O Presidente da República português, Cavaco Silva, chegou a Luanda e foi brindado com a garantia do seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos, de que a dívida às empresas lusas vai começar a ser paga.
800 milhões serão pagos até daqui a dois meses.
O restante dos perto de 2 mil milhões de euros em dívida às empresas portuguesas (muitas delas entraram em colapso, entretanto), no total de 6,8 mil milhões da dívida angolana, é para ser saldado de forma escalonada.
A promessa do Estado angolano não é nova, mas anunciada pelo Presidente José Eduardo dos Santos tem outro impacto e é um trunfo que Cavaco Silva leva para a sua corrida a novo mandato.
Isso mesmo foi interpretado por muitos dos que vivem em Angola.
É que sobre a dívida do Executivo de Eduardo dos Santos às empresas angolanas nem uma palavra.
Há muitas em estado de asfixia e muitos empresários chocados com a omissão, como comentou esta manhã um colega do jornal.
Um amigo dele tem uma empresa a quem o Estado deve milhões de dólares.
Por falta de liquidez, há salários em atraso desde Janeiro.
Por causa disso, amontoam-se os processos em tribunal movidos por funcionários que querem receber os salários a que têm direito porque precisam deles para sobreviver.
E a empresa está quase a fechar as portas porque não sabe como pagar, se a ela própria "não lhe pagam".
Como costuma dizer um amigo meu: "Isto está tudo ligado!".
Já agora, deixem ficar o fraque para que alguém em Angola o vista.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Paulo Flores
É difícil encontrar músicas de Paulo Flores no youtube, é pena.
Paulo Flores representa, para mim, a música de Angola.
O Semba puro, sem interferferências do zouk (estilo musical das Antilhas que está a contaminar a música africana, como praga).
O Semba cantado de forma contemporânea e com aquele timbre tão característico de Paulo Flores, único, cintilante, que dispensa qualquer outro instrumento que não seja a voz.
Paulo Flores canta, no domingo, no Estádio dos Coqueiros, em Luanda, ao lado da fadista Mariza, do angolano Big Nelo e da banda NSoulFamily, no Concerto Angola - Portugal.
O concerto, organizada pela Embaixada de Portugal, marca o início da visita de Estado do Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, a Angola. As receitas revertem a favor do Hospital Pediátrico de Luanda.
Prisioneiros (crónica publicada no Novo Jornal)
O primeiro grupo de sete presos políticos libertados pelo regime de Raul Castro, num total de 52 que sairão das cadeias cubanas nos próximos meses, pisou solo espanhol na terça-feira, dia 13, e já foi tarde.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Guerra nas estradas
Na Angola em paz há uma guerra, sem causa, que é travada nas estradas.
Todos os dias morrem, em média, 50 pessoas, segundo estimativa avançada há um ano pelo director Nacional de Viação e Trânsito, Inocêncio de Brito.
As estradas melhoraram, a estatística da sinistralidade não.
Pelo contrário.
São 18 mil 250 mortos por ano. Sem contabilizar os feridos graves, que resultam mais tarde em morte, os estropiados, os que ficam incapacitados e os que vivem na dor.
A sinistralidade rodoviária é a segunda causa de morte em Angola, só superada pela malária.
Mata mais do que a guerra pelo poder.
É uma guerra sem quartel.
Não conhece tréguas.
Não respeita convenções.
Não discrimina vítimas. Mata adultos, crianças, bebés, chefes de família, desempregados, mães.
Mas tem um rosto: o da irresponsalidade.
Foi ela que há um ano matou a Cristina.
Uma das pessoas que me fazia sentir em casa.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
À margem do mundial (crónica publicada no Novo Jornal
Espanha e Holanda vão disputar pela primeira vez a final de um mundial de futebol.
A Holanda passou o teste frente ao Uruguai, fazendo recordar os tempos da selecção, que continua laranja mas foi perdendo a mecânica, dos mundiais de 1974 e 1978.
A Espanha bateu a selecção alemã, tida como a mais forte candidata ao título, por causa do polvo. Sim. Isso mesmo, o polvo. Não o da máfia calabresa que deu má fama ao molusco, mas Paul, um polvo adivinho do aquário Sea Life, na cidade alemã de Oberhausen.
A Holanda passou o teste frente ao Uruguai, fazendo recordar os tempos da selecção, que continua laranja mas foi perdendo a mecânica, dos mundiais de 1974 e 1978.
A Espanha bateu a selecção alemã, tida como a mais forte candidata ao título, por causa do polvo. Sim. Isso mesmo, o polvo. Não o da máfia calabresa que deu má fama ao molusco, mas Paul, um polvo adivinho do aquário Sea Life, na cidade alemã de Oberhausen.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Verso sem rima
Os governadores provincipais de Benguela, Cabinda e Huíla impediram que manifestações da sociedade civil se realizassem. O Presidente do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira, desautorizou-os e disse que era proibido proibir porque a lei sobre o direito de reunião e manifestação não estabelece a obrigatoriedade de existir prévia autorização administrativa.
O economista angolano Alves da Rocha disse, numa entrevista a um jornal brasileiro, não acreditar na lei da probidade pública e na tolerância zero à corrupção e ao enriquecimento ilícito porque, justificou, o "MPLA criou uma teia, laços entre os dirigentes em que ninguém fala do outro. Porque se alguém um dia falar, vão-se todos. Porque as relações são umbilicais". Depois da entrevista Alves da Rocha deixou de ser consultor do Ministério das Finanças. Foi dispensado.
A segunda situação não rima com a primeira.
É pena.
Devia rimar para que o verso ficasse perfeito.
O economista angolano Alves da Rocha disse, numa entrevista a um jornal brasileiro, não acreditar na lei da probidade pública e na tolerância zero à corrupção e ao enriquecimento ilícito porque, justificou, o "MPLA criou uma teia, laços entre os dirigentes em que ninguém fala do outro. Porque se alguém um dia falar, vão-se todos. Porque as relações são umbilicais". Depois da entrevista Alves da Rocha deixou de ser consultor do Ministério das Finanças. Foi dispensado.
A segunda situação não rima com a primeira.
É pena.
Devia rimar para que o verso ficasse perfeito.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Dupla de luxo
Dois monstros da música africana. Youssou N'Dour, do Senegal, Rokia Traoré, do Mali. Uma dupla de luxo. Duas vozes abençoadas.
Na estrada
Nos quase 700 quilómetros de estrada que ligam Luanda ao Huambo há vida, natureza, perigo, trabalho, imponência, contrastes, céu, sacrifício, beleza, transgressão, sorrisos, caminho a perder de vista e piscadelas de olho.
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